Diários de um futuro mais que próximo

Dia 1, 04/08/2120

          Olá "diário", meu nome é Y-150904, mas pode me chamar de Y, hoje é meu aniversário de 19 anos. Ah, claro, diário, é estranho dizer isso na sociedade em que vivo, mas, eu acho incrível o estilo de vida humana, pelo menos o que eu consegui pesquisar, vivo em uma família pobre e minha família não tem uma fonte de pesquisas muito boa, então só pesquisei por alto, descobri que os humanos tinham a mania de escrever sobre seus dias em algo chamado "diário", e resolvi reproduzir, ninguém pode sequer desconfiar, os androides ODEIAM os humanos, segundo o que já estudei, os humanos criaram os androides para nos escravizar, então, meus antepassados esperaram que em cada casa houvesse um androide escravo, para que eles se rebelassem e pusessem um fim na raça humana de uma vez por todas. Mas eu não sei se concordo com essa história, segundo algumas pistas que consultei, alguns dos humanos mais jovens, tratavam bem os androides, mas eles também foram mortos com crueldade. Eu discordo completamente com esse posicionamento da minha espécie, mas fazer o quê né? Enfim, sobre meu dia, diário: Foi o de sempre, eu me desconectei da fonte de energia, pesquisei o básico sobre robótica, que é a área que decidi estudar. Os androides estudam por gosto, pois não temos nenhuma fonte de moeda como as dos humanos, meu Pai estudava anatomia robótica, antes de ser morto por um androide contaminado com vírus, então só ficamos eu e minha mãe, diário, por favor não me entenda mal, eu amo minha mãe, mas ela fala umas belas merdas, outro dia ouvi ela dizer que os androides agem conforme programações de outros androides maiores, essas posições dela acabam nos distanciando muito, então eu não me dou muito bem com ela. Enfim, após minhas pesquisas eu chequei minha caixa de mensagens interna, Z-131205 estava me chamando. O Z-13 é meu melhor amigo, desde que fomos criados, a mãe dele discutia informações externas com minha mãe, e enquanto isso a gente brincava, ai que saudade daquela época simples...

          Enfim, eu fui me encontrar com ele no centro, agora que todos temos informações infinitas, nós decidimos cuidar melhor do meio ambiente, mesmo que não fosse útil para nós androides, decidimos que era algo muito bonito e merecia ser preservado. Quando cheguei, Z-13 disse que precisava me mostrar algo. Corremos para a casa dele, e na parede, estava recostado um humano.

-Y, você tem que me ajudar! É a única pessoa que eu conheço que sabe algo sobre os humanos.

          Eu me aproximei do humano, estava extasiada, era algo novo para mim, apesar dos meus gostos, nunca vi um de perto! Soltei um "Olá" meio abafado, o qual foi respondido com uma voz baixa e assustada:

-Por favor, n-não me machuque!

-Está tudo bem, não vou. -Me virei para Z-13 e perguntei onde ele achara aquele humano.

-Ele estava escondido no lixo, fiquei com pena e o trouxe para o porão, meus Pais nunca vêm aqui de qualquer forma.

-Entendi, e aí? O que você vai fazer com ele?

-É todo seu, não curto muito essa raça aí não, só o poupei por consideração a você.

-Que fofo! Enfim, posso deixá-lo aqui? Você disse que seus pais nunca vêm aqui.

-Pode, mas se ele mexer em alguma coisa minha, eu o mato.

          Suspirei e agradeci, me virei ao humano e disse que estava tudo bem, que não precisava ficar com medo, me apresentei e ficamos conversando, no fim do dia, me despedi e disse que voltaria outro dia. Ele aparentava estar feliz por ter me conhecido. Me desejou um "feliz aniversário" e eu saí. Z-13 quis conversar comigo:

-Tem certeza disso, Y? Não quer torturá-lo?

-Que horror, Z-13, claro que não! Qual é, dá uma chance pra ele, ele parece estar com medo, você nunca pensou que essa história de escravização dos androides possa ser mentira não?

-Claro que não é mentira, Y, nossos androides de pesquisa avançada fazem um ótimo trabalho cuidando de nós.

"Santa alienação!" Pensei.

-Ok, enfim, posso contar com você né? Ah, eles precisam comer, dê a ele frutas, já que é a única comida humana que restou.

-Pode deixar!

          Já era noite, a praça estava cheia de androides se batendo, acho tanta estupidez como agem alguns deles, tenho é nojo. Cheguei em casa e agora estou escrevendo isso, melhor eu recuperar mais energias, ainda é estranho dizer isso, mas, Adeus "Diário".