Quem via a fumaça esbranquiçada que saía de dentro do grande chalé de madeira escura sentia-se imediatamente confortável. O pontinho marrom manchava a grande imensidão branca de neve felpuda, mas nada se comparava como era dentro daquele lugar. Se por fora apenas tons amadeirados transpareciam, por dentro decorações de todos tipos de variações de vermelho e verde saltavam aos olhos. O dourado tinha seu lugar uma vez ou outra nos objetos, mas dentre a vermelhidão nada era mais imponente do que o grande pinheiro colocado na sala de estar perto da janela da parede direita. Chegava e passava dos dois metros de altura, talvez mais de 50 centímetros de largura, carregado de belas bolas de natal nas pontas de seus galhos.
O fogo queimava avidamente na lareira de pedras que esquentava a sala, estalava vez ou outra a madeira em brasa. Uma poltrona grande e vermelha se encontrava a esquerda da sala, suficientemente perto ao fogo para se esquentar, suficientemente perto da estante de livros que emoldurava a parede como um todo. Um olhar mais atencioso perceberia que a maioria dos livros da gigantesca estante tratavam de um tema muito peculiar: doces de natal. O que naquela situação talvez não fosse tão peculiar, uma vez que um forte cheiro de biscoitos amanteigados saia da cozinha.
Em cima da mesinha de centro havia uma meia de lã, o tricô estava pela metade e com alguns pontos remendados na lã amarela. O bom senhor havia acabado de levantar de sua poltrona e encaminhava até o porta chave que ficava pendurado na porta com detalhes natalinos. Pegou uma chave chamativa com adornos de madeira e andou até um quarto no fundo da casa, fazendo ranger o bom e velho piso.
Assim que abriu a porta o barulho invadiu a casa. Sons metálicos, abafados, borrachudos, risadas, conversas, tudo de uma única vez. Não pode deixar de sorrir.
Noel descia as escadas para dentro de sua fábrica de brinquedos, que por mais que fosse subterrânea, era iluminadíssima por uma abóbada de vidro no teto. Os elfos, que não passavam da cintura do bom velhinho, trabalhavam a todo vapor finalizando alguns brinquedos, as vezes começando outros novos, e tinham ainda aqueles tomando um chocolate quente para descansar.
Assobiando ele ia, cantarolando músicas feitas exatamente para seu feriado preferido, ou melhor, para o seu feriado: Natal!
Passou despretensioso por toda fábrica, não reclamou nenhuma vez, inclusive um brilho descontraído relampejava em seus olhos, coisa não muito frequente perto do natal. Faltava apenas uma semana para o feriado e apenas Deus, e aqueles pequeninos elfos, sabiam o quanto Noel poderia ser exigente e sério nesses dias. Por isso muitos estranharam o bom humor.
-Fred, prepare as renas! Vou sair para um passeio!
Fred, o elfo que havia acabado de voltar do descanso, olhava estranho para o chefe, mas mesmo assim acatou seu pedido. Minutos depois Noel atravessava o portão para a garagem das renas, ainda no subsolo. Se perto de Noel já eram pequenos, pequenos elfos, perto da renas nem podia se falar. Não eram como as de desenho, fofas e de nariz avermelhados. Eram gigantes, quatro ao total, musculosas e com cara de poucos amigos. Gostavam de aprontar longe de Noel, mas perto dele, pareciam nada além de elegantes animais bem treinados e competentes com o trabalho.
O trenó vinha logo atrás e fazia jus ao seu nome. A madeira era grossa e rígida. Bem polida pintada de vermelho até a última veia. Não parecia confortável, um toque rústico se assim quiser chamar. Lembrava a biga de um campeão romano, campeão romano gentil dos olhos azuis e que entregava brinquedos mundo afora. Noel passou pelos animais fazendo carinho e conversando com cada um deles até enfim sentar em seu trenó.
-Pode me subir, Fred! - O elfo parecia assustado, Noel nunca saia nessa época do ano.
Seguiu as instruções e apertou o botão de abertura da garagem. O chão começou a se movimentar para cima e uma porta no topo do teto se abriu. Fred ainda pode ouvir as renas darem um impulso forte na plataforma fazendo a mesma tremer.
E foi a última vez que Noel fora visto.
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O Sumiço de Noel
AdventureTodo ano o mundo mágico se prepara para o evento mais importante. De escalas globais e rapidez inigualável o Bom Velhinho faz a noite mais feliz de todas acontecer. Mas e se não fizesse? Um mundo que sobrevive pautado na crença e fé das pessoas supo...