- Onde você estava? - pergunta minha mãe assim que eu passo pela porta.
- Andando por aí, ainda não me acostumei com as ruas, você sabe que eu não saio muito de casa - digo e me jogo no primeiro puff que eu vejo.
- Indira me disse que você... - ela começa a dizer enquanto pentea seu cabelo vindo na minha direção.
- Desculpe mamãe, tenho que tomar banho, depois a gente conversa.
A cada conversa uma palavra era sobre casamento, e eu sei que ela não vai desistir, eu sei que ela vai encontrar a melhor pessoa pra mim, ao contrário dos meus tios ela se preocupa sim em como vamos ser tratados, mas o dinheiro ainda tinha um grande poder, então pra ela uma mulher gentil e rica seria perfeito, entro no meu quarto onde tinha uma cortina no lugar da porta e janelas de madeira, era um quarto simples, paredes da cor laranja e o chão da cor vermelho escuro, tinha apenas uma cama de solteiro e uma cômoda, não trouxemos muito de nossa antiga casa.
Vejo indira passar correndo pela minha porta e eu solto uma risada, eu sei que ela deve estar envergonhada por ter me dedurado pra mamãe, mas eu não a culpo, ela consegue ser bem persuasiva quando quer, depois de já ter tomado banho eu escuto uma movimentação no andar de baixo e escuto a voz do meu pai, ando devagar até o topo da escada e paro ali quando ele começa a falar.
- Não consegui - escuto ele soltar um suspiro pesado e então me sento no primeiro degrau da escada.
- Porque não? - perguntava ela preocupada.
- É muita gente procurando emprego, desse jeito eu vou ter que arranjar emprego como varredor, precisamos colocar comida nessa casa - disse ele, será que eu estou sendo egoísta? Eu deveria me casar e tirar minha familia do sufoco? Sinto minha irmã chegar e sentar do meu lado.
- Não se preocupe, ele vai conseguir um emprego, e mesmo se não conseguir, eu fasso dezoito anos daqui a três meses, eu posso me casar - disse ela deitando em meu ombro.
- Nada disso, se concentre nos estudos Indira, você vê como nossa família ta, se eu ou papai tivéssemos feito alguma faculdade nós não estaríamos assim, eu vou dar um jeito - digo a abraço.
Estava começando a ficar crítica a situação, ao passar dos dias a comida foi acabando e a luz foi ameaçada de ser desligada, passei a sair junto ao meu pai para procurar emprego mas nada aparecia, nem pra mim e nem pra ele, enquanto nós andávamos de volta pra casa eu vejo uma senhora carregar uma caixa grande, suas costas estavam dobradas pra frente pelo peso.
- Senhora, deixa eu te ajudar - pego a caixa de sua mão e ela olha pra mim.
- Obrigada, desse jeito eu iria chegar em casa só amanhã - disse rindo, em sua bochecha apareceu uma única covinha que a deixava mais fofa ainda.
- Pai pode ir na frente, vou levar isso alí e já volto - digo colocando a caixa no ombro e com o outro braço entrelaçado no braço da senhora.
Fomos andando devagar até duas ruas pra frente, a cada passo que ela dava ela reclamava que os netos não a ajudam pra nada mas que ela ama eles incondicionalmente, então chegamos até um ponto de táxi.
- O meu filho, está bom até aqui, eu moro em outro bairro, agradeço sua ajudar - eu coloco a caixa dentro do táxi e vejo ela tirando uma bolsinha de dentro do seu sari [1].
- Não precisa - digo envergonhado, eu não tinha feito aquilo pensando em dinheiro.
- Precisa sim, aceite, estou muito agradecida - disse colocando na minha mão, assim que ela entra no táxi eu olho e vejo que ela deixou 270 rúpias [2], arregalei os olhos, olho em volta e o táxi já estava longe, volto andando devagar enquanto contava o dinheiro, oque comprar? A luz não dava para pagar, que tal comida?
Passo no supermercado e com o dinheiro que tenho deu para comprar um alface, um quilo de tomate, uma dúzia de ovos, um quilo de arroz, um quilo de pão e um litro de leite, enquanto eu andava de volta pra casa eu já imaginava minha irmãzinha feliz somente em comer pão e tomar leite, se eu encontrasse aquela senhora novamente eu agradeceria do fundo do meu coração.
- Mamãe, cheguei - digo indo até a cozinha e deixando as sacolas perto dos armários, minha mãe entra e começa a mexer nelas com uma cara confusa.
- Onde conseguiu isso? - disse guardando o leite na geladeira com uma cara de alívio.
- Eu ajudei uma senhora a levar uma caixa até o carro, ela me deu o dinheiro e foi embora, não deu tempo de dizer que era muito, mas eu vou agradecer da próxima vez - digo enquanto vou até a varanda - Indira, venha, temos pão e leite - digo e vejo ela correr.
- Sério? Obrigada Lakshmi [3] - diz ela sorrindo.
Era só isso que eu queria ver, o sorriso dela e a expressão de alívio da minha mãe, eu faria qualquer coisa.
[1] Sari: é um pedaço de tecido de 5-8 metros em que a mulher se errola, usando um choli por baixo, uma blusa curta.[2] Rúpia: é a moeda indiana, 270 rúpias é igual a 18 reais e 55 centavos.
[3] Lakshmi: deusa do dinheiro e da riqueza, é bastante adorada por aqueles que tem dificuldades financeiras.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Casamento arranjado (Romance Gay)
RomanceRaj um alto e lindo rapaz indiano acaba de completar a idade certa para o casamento, logo ele que nunca pensou em se casar mas começa a ser pressionado pela família, por esse motivo sua mãe mahara acha uma excelente candidata, mas e se Raj encontras...