Cimento, bloco, cimento
Era a canção dos blocos de concreto untados em cimento. No final recebiam o cumprimento de aprovação de tin tin da parte metálica da colher de pedreiro de Vladimir.
Pensamentos ritmados no balanço corpóreo de pegar cimento, colocar no bloco e colar. O cimento Breno fazia. Seu filho. Já era bem grandinho para um adolescente. Em verdade, ele sempre foi alguém mais desenvolvido para algumas coisas. Era esperto e corajoso. Mas lhe faltava uma coisa. Uma não, várias, entretanto as principais eram inteligência, paciência e diligência.
Contudo o que faltava em Breno, Milena tinha de sobra. A menina era boa em tudo. Apesar de ser a irmã mais nova e também a mais medrosa, era cautelosa, calculista e atenta. Uma verdadeira herdeira do gene do pai e do avô.
Avô Jânio era um herói para a esposa de Vladimir e as crianças. O velho construíra casas, apartamentos e mansões. De vez em quando ainda dava uma de mecânico ou carpinteiro quando a benevolência da avó oferecia favores para as amigas.
- Pode deixar que meu marido resolve.
Bloco, cimento, bloco
"Estou mais rápido. Nesse ritmo terminarei essa construção mais cedo do que esperava."
Jânio era o típico avô doidão para qualquer neto. Em verdade, até para um filho seria um tanto perigoso. Pode até soar de um modo divertido mas para um filho, Vladimir não gostava muito da ideia de fazer tudo na base do medo. Talvez tivesse um pouco de Milena dentro de si.
As histórias do avô eram viciantes mas assustadoras para alguém como Milena. Breno, um moreno de cabelos revoltos e olhos castanhos, encarava as histórias como algo super divertido e nunca teve problema algum a respeito. Já Milena, branquela, cabelos longos e negros, dona de olhos igualmente escuros, por diversas vezes mantinha a luz acesa a noite toda. Além do gasto desnecessário com energia que não saia da cabeça de Vladimir, o quarto do casal ficava logo em frente ao da menina, o que dificultava o sono do pai que levantava muito cedo para trabalhar.
Bloco, cimento, bloco
"Quase lá."
A menina abria a porta do quarto dos pais todas as noites. Vladimir percebia momentos depois enquanto Soraia dormia profundamente. "Provavelmente quer ficar nos vendo do quarto dela. Talvez isso fizesse sentir-se mais segura".
Isso perdurou até o dia em que Vladimir resolveu comprar um pacote de velas nas lojas de 1,99. Era mais eficiente, pois uma vez acesa, queimaria até acabar a cera e certamente até lá a filha já estaria dormindo. Mais econômico, evitaria luzes acesas pela casa e eventualmente os dois teriam seu sono.
- Mas pai, essa vela não ilumina muito. - reclama a menina sentada na beirada da sua cama cor rosa.
- Mas ela vai te manter segura minha pequena. - diz o pai do modo mais calmo possível
- Mas papai. E quando houver sexta-feira 13? - Vladimir faz uma carranca de dúvida - Aquele que o vovô disse que desperta toda sexta-feira feira 13, lá no porão papai.
"Caçamba! Que tipo de coisa Jânio anda dizendo a eles?". Apesar de já ter reclamado isso com a esposa, achava que a cegueira da admiração do pai encobriam os olhos dela. Talvez um dos motivos que privara Vladimir de trocar mais de duas palavras com o pai desde quando saíra de casa.
Vladimir achava que o pai havia perdido algum parafuso na morte do avô. Seu avô porventura. Tempos depois as coisas se agravaram e Jânio parecia querer estar se escondendo de alguém o tempo inteiro. A noite trancava todas as portas dentro de casa e só ele ficava com as chaves. Ir ao banheiro ou tomar uma água durante a madrugada era preciso toda uma cerimônia de quatro batidas na porta e um assobio que segundo o vovô, era um código de segurança da família afim de mantê-los seguros. Em verdade, Vladimir nem sabia como era que a vovó aguentou todos aqueles anos com ele depois que tinha ido embora.
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Senhor 13
HorrorVovô Jânio é um ótimo contador de histórias. Já viu um adulto acreditar em coelhos da páscoa? Papai Noel? Saci Pererê? Se sim, há grandes chances dessa pessoa ter ouvido algo de vovô Jânio. Um contador tão vivaz, capaz de fazer fábulas, realidade, n...