Um gesto de carinho

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— Posso segurar sua mão? — Kirishima perguntou com um sussurro no ouvido do namorado.

O loiro olhou pra ele, demorando alguns segundos pensando no que responder, afinal estavam sentados lado a lado no sofá da área de convivência com a maioria da sala espalhada no local. Alguns provavelmente ficariam quietos se vissem, o problema seriam Kaminari e Ashido, a fofoqueira e o dramático com certeza chamariam atenção para o casal. Bakugo estava longe de querer uma cena, não era nem um pouco fã de gestos públicos de afeto, era tímido de sua própria maneira agressiva.

Eijiro adorava a ideia de informar o mundo que os corações pertenciam um ao outro, tinham dois meses juntos, aturando a vontade de Katsuki de não vir a público por esse tempo, até o presente momento no qual decidiu fazer o pequeno pedido. O único motivo de recusa do mais alto era a falta de vontade de ser manchete de fofoca para a classe, o qual é inevitável em um grupo de adolescentes. Todos os responsáveis pelos menores de idade envolvidos estavam cientes e apoiavam.

As íris escarlates fixavam-se umas nas outras naqueles segundos de ponderação, à direita do móvel acolchoado, um rabugento com o celular na mão do mesmo lado, à esquerda, um esperançoso que espelhava a pose descrita. Os dedos curiosos deslizaram da coxa do de cabelos vermelhos para se aproximarem dos relaxados do colega, no pano confortável. Ninguém havia prestado atenção, contudo se observassem um ao outro por mais tempo, com certeza iriam.

O explosivo desviou o foco, retornando a um jogo aleatório que possuía no telefone enquanto encostava sua palma lentamente na do amado. Kirishima conteu, com muito esforço, o desejo de verbalizar a felicidade que sentia com o pequeno ato, por dentro soltava fogos de artifício:

— Se ficar me encarando vai chamar atenção, idiota. — repreendeu o loiro em tom baixo, sentindo as ações alheias.

— Desculpa. — controlou o sorriso que insistia em abrir demais — Obrigado.

Sabia que era um esforço, realizava aquilo a pedido do companheiro, mesmo se sentindo incômodo quando Jiro viu, depois Lida, em seguida Ojiro, e lista segue. Percebeu-se indeciso quanto a apertar mais a mão que segurava ou soltá-la quando se tornaram o assunto central. Podia mandar todo mundo a merda, como de costume, contudo optou por ignorar já que era o tipo de conversa que não sentia a mínima necessidade de iniciar, guardaria a resposta para quando alguém questionasse.

Alguns dos jovens repararam por si próprios, outros receberam cutucões, sussurros e gestos para serem informados, como Deku recebeu de Ochaco. Entre os integrantes do grupo de amigos de Bakugo, Kyoka permaneceu digitando mensagens sem se importar muito, Sero decidiu que passar o fato a Denki era sentença de morte nas mãos do líder e o de olhos dourados estava demasiado entretido com Mina discutindo sobre alguma coisa que viram em uma rede social.

Hakagure, Tsuyu e Shoji ainda estavam atônitos com a cena quando a rosada virou o rosto do elétrico ao perceber o que o trio encarava. O garoto subiu as sobrancelhas, incrédulo, enquanto a outra permanecia apertando as bochechas dele, sugando ar pela boca aberta:

— Você tá vendo a mesma coisa que eu? — Ashido perguntou atraindo o interesse da sala.

— Tô. — confirmou o segurado.

Olhares fixos, justo o que o que o irritadiço não queria, todavia era inevitável. Acabou pondo mais força no agarre ao namorado, um ato inconsciente que revelou a tensão sobre si, na tentativa de conforto, o polegar de Eijiro deslizou em movimentos constantes, acariciando o dorso da mão do amado. Depois da fala, não havia mais a esperança que passasse batido, o único que ainda não havia compreendido o que se passava era Tokoyami, o qual tinha descido do andar de seu dormitório agora. Mina seguiu a tirar conclusões:

— O grande Katsuki Bakugo, apaixonado?

— Vão cuidar da própria vida, bando de fofoqueiros do caralho. — o garoto não se segurou mais com o incômodo e enraiveceu como mecanismo de defesa.

— Calma, só tô curiosa, não todo dia que isso acontece. Tava achando até que eu era a única LGBT da sala.

— Pensei que a única era eu. — confessou Jiro ao lado da amiga.

— Eu e Kaminari somos os únicos héteros do grupo? — questionou Hanta.

— Na verdade eu sou bi. — corrigiu Denki.

— Traição. — dramatizou, pondo a mão no peito e se curvando — Fui excluído.

— Eu também sou. — Momo parou de escovar o cabelo para integrar na conversa, ao mesmo tempo que Sero realizava o pequeno show.

— Olha, já temos bastante gente, algum outro pan? — a adolescente de olhos negros seguiu.

— Eu. — o estudante de cabelo tingido vermelho se pronunciou.

O aperto excessivo já não existia mais, somente o toque reconfortante permaneceu. A atmosfera ficou relaxada, era um simples assunto de discussão calma entre amigos, conhecendo um pouco mais uns aos outros, nada para temer. Kirishima encostou de leve a cabeça no ombro esquerdo do namorado, que resmungou algo sobre ele ser muito folgado, frase que fez o outro rir levemente. Demoraria um pouco até que a amorosidade do casal não fosse surpresa para os colegas, contudo com certeza eram um muito fofos juntos, afirmação feita por Ashido que prontamente recebeu um "morra" do loiro envolvido.

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