Pilot

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Algumas vezes na vida, você precisa fazer escolhas. As quais de alguma maneira, terão consequências, nem sempre tão agradáveis quanto se espera. A quatro anos atrás eu fiz uma escolha que mudou a minha vida. 

Ele tinha o cabelo liso, todo jogado para um lado, impecavelmente alinhado. Os olhos azuis, como o amanhecer do dia, me prederam a atenção desde que o vi pelos corredores. O corpo estava totalmente em forma, não que eu quisesse olhar para tudo aquilo, mas era impossível não olhar. Estávamos no mesmo programa de talento, no mesmo setor, indo na mesma direção artística. Eu estava fascinado por aquele garoto, sempre sorrindo ou fazendo as pessoas sorrirem, era encantador. Comecei a me aproximar conversando com as pessoas que ele conversava, até finalmente, chegar nele. Conversamos sobre tudo, desde nossa paixão pela música até sobre quantos cachorros tivemos ao longo da vida. Erámos tão próximos que eu era capaz de jurar que nos conhecíamos desde a infância. Eu ainda era cantor solo, e apesar de desejar muito uma vaga para a próxima fase, eu torcia mais para ele do que para mim mesmo.

Nada doeu tanto quanto ouvir que não passaríamos para a segunda fase do programa. Da mesma maneira que nada me alegrou tanto quanto quando soubemos que estaríamos na mesma boyband, aparentemente, um dos jurados viu potencial em nós, mas não sozinhos, junto com mais outros três garotos. Eu e ele, nos tornamos partes de 5. Esse era nosso futuro como artistas decolando. Nos apegamos de tal forma, agora mais unidos, que passou ser algo a mais que uma simples amizade. Algo que eu quis desde que ouvi a voz dele pelos estudios. 

Era uma noite fria, e eu estava sentado perto a janela do meu quarto, no hotel em que todos os cantores estavam. Eu não estava no mesmo quarto em que meus novos colegas de banda. Nenhum de nós estava no mesmo quarto, por enquanto. De repente ouvi uma batida leve na porta e quando abri, ele estava lá, parado com um cobertor na mão, com o seu longo sorriso exposto no rosto e os olhos brilhando. A essa altura, meu corpo já estava congelado e meus olhos brilhando tanto quanto os dele. O chamei para dentro e ele se sentou em minha cama. Não precisamos dizer uma palavra, fazer um gesto convidativo. Apenas me aproximei sorrindo e ele me acolheu. Minha boca estava beijando a de outro garoto, e apesar de não ter sido a primeira vez que isso me acontecera com um homem, foi a única em que eu me senti completo, capaz de explodir. Naquela noite, dormimos abraçados enquanto ele mexia nos meus cachos de forma lenta.

Cada dia que passava eu o desejava mais, cada hora que eu o via perto de mim, minha vontade era de agarra-lo na frente de todos, sem me importar com ninguém. Os meninos sabiam, nos viram abraçados em uma noite qualquer, e tivemos que esclarecer tudo. Eles nos apoiaram tanto quanto eu imaginava querer. O que me fazia ficar aliviado, não esconder o que eu sentia dos meus novos melhores amigos.

Outro dia, eu o dei flores na frente de todos, foi um gesto de carinho para os fãs, mas para mim foi muito mais que isso. O sorriso dele ao ver a rosa branca sendo entregue fez o meu mundo parar, eu era o adolescente bobo apaixonado. Eu poderia ficar horas admirando o ser maravilhoso que ele consegue ser, ou rindo das inumeras vezes que ele tirava todos do sério, com suas piadas sem limites.

Parecia tudo um sonho, nossos números de fãs crescia e se espalhava. Nossa popularidade só aumentava e nós conquistamos mais lugares na competição, eramos um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Mas uma hora todo sonho tem um pedaço de pesadelo, e fomos eliminados do programa. Admito que meu ego a essa altura estava tão grande, que eu pensei que eramos invencíveis. Nesse dia, antes de sair o resultado, abaixei a cabeça, pedi baixinho para sabe lá quem, que não nos deixasse ir embora. Em vão, acredito, já que logo depois ouvi a notícia. Não tínhamos outro lugar para ir, nem mesmo outra profissão, eramos novos demais. Cinco garotos vivendo o sonho americano, não podia acabar assim. Para nossa surpresa, e de todo o resto, nossa popularidade cresceu ainda mais fora do programa, e cativamos fãs em cada canto do mundo. Nesse meio tempo em que saímos do programa e começamos viajar, eu pedi ele em namoro. Da forma mais singela, simples e romântica que eu consegui, sem alardes, fogos de artifício, planejamentos... Foi espontâneo. Cantei um pequeno pedaço de música, acompanhado por um pedido tradicional e seguido por um beijo em forma de "aceito". Estava oficializado. Eu tinha um namorado, o garoto pelo qual me apaixonei no corredor. O menino dos olhos azuis, o meu cantor preferido, o garoto do sorriso torto, que não levava quase nada a sério, mas com um coração gigante.

Nobody KnowsOnde histórias criam vida. Descubra agora