" Brisas do Vento "

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Eu não gostava nem um pouco da idéia de morrer

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Eu não gostava nem um pouco da idéia de morrer. Alguns pensavam que eu poderia estar passando por uma crise existêncial que não iria ter fim, mas vamos dizer que não é isso exatamente. Okay, eu tinha algumas crises existenciais algumas vezes, mas para falar a verdade havia nome e sobrenome para me fazer pensar de tal forma.

Peter Pan.

Desde que eu conheci a história sobre ele quando pequena, não gostava de pensar na idéia de morte ou de envelhecer e esse pensamento parecia me seguir durante toda minha vida.

Meus pais já haviam me levado num psicólogo e tentaram conversar comigo várias vezes que todo mundo iria envelhecer algum dia e morrer. Porém, continuei crescendo sem aceitar as duas idéias e acabei por me tornar uma fanática pelo Peter Pan e tudo que envolvesse ele.

Eu me encontrava deitada na rede rosa com alguns detalhes em branco gelo que havia na varanda do meu quarto. Estava coberta por um cobertor por conta do frio que ventava por Nova York indicando uma possível chuva. Em minhas mãos haviam um livro que falava sobre o Peter Pan, o meu favorito. Jake, meu melhor amigo foi quem havia me dado e o resto dos livros sobre ele que eu tinha minha avó quem havia me entregado.

Normalmente eu começava a ler quando queria paz ou quando ficava muito pensativa sobre morte e o envelhecimento. Realmente, paz nesse momento parecia ser bom. 

A brisa de vento fria havia feito meus cabelos bagunçarem um pouco. Eu gostava do frio. Infelizmente o meu momento de paz teve de ser impedido pelo meu pai entrando pela porta e suspirando pesado ao me ver na varanda como se estivesse fazendo algo de muito errado ao estar ali lendo.

- Por favor, se quiser ler pode ler, mas não na varanda. - Ele pediu se escorando na porta e esperando que eu saísse da rede e fechasse a porta de vidro que dava acesso a ela.

- Por que? - Perguntei curiosa sem querer sair de onde estava mesmo sabendo que eu não teria opções como sempre.

- Está ficando tarde. - Meu pai respondeu simplesmente e mesmo que eu soubesse que aquele não era o motivo verdadeiro, resolvi obedecê-lo. Logo sai da varanda com o livro em mãos fechando a porta de vidro e fechando a cortina que impedia a luz da lua tão bonita entrar pelo meu quarto.

Meu pai saiu de meu quarto quando sai da varanda sem dizer ao menos uma outra palavra. 

Deixei o livro sobre minha cama e fui até minha escrivaninha. Liguei minha mesa digitalizadora conectada ao notebook e comecei a desenhar. No começo era um hobbie para me distrair, mas virou algo do qual eu queria investir. No momento, eu desenhava algo tentando lembrar os garotos perdidos. Em meu desenho eram vários garotos cercando uma fogueira usando uma capa e usando um capuz impedido de ver os seus rostos. Após terminar pelo menos a lineart eu desfoquei o desenho lembrando do trabalho que tinha de fazer para a escola baseado em sonhos vividos, o que eu logo comecei a fazer.

...

No dia seguinte, eu estava ouvindo música na sala de aula enquanto a aula não começava. Talvez eu estivesse conversando com Jake, mas ele já não vinha a escola a algum tempo e ele não respondeu minhas mensagens mesmo que lidas. Eu não era apaixonada por ele, não passava de amizade e de qualquer forma, não seria correspondida pois ele era gay.

- O seu amigo viadinho não está na escola para lhe fazer companhia? Eu acho que ele está morto. - A ruiva zombou de mim. Seu nome era Selena e ela insistiu em zoar de mim desde que entrei nesse lugar.

- A sua boca só fala merda, não é mesmo? Acredito que ela só sirva para você beijar todos que veem pela frente. - Provoquei e pude sentir ela rir.

- Fale algo que preste, Watery. - Ela veio até mim e apoiou os cotovelos em minha mesa sorrindo esperando eu dizer algo.

Eu pensei muito bem antes de fazer o que eu ia fazer. Mas sem hesitar eu peguei minha garrafa com suco de laranja e derramei sobre seus cabelos ondulados ruivos estragando o babyliss de seus cabelos e vendo o sei semblante mudar para uma mistura de incrédula com raiva de mim.

- Vai se arrepender, Watery! - Selena exclamou saindo apressadamente da sala e eu a observei até ultrapassar a porta com um sorriso dentre meus lábios rosados.

...

Meu pai havia me buscado na escola naquele dia, eu geralmente ia de Uber ou de bicicleta, a escola não podia ser tão longe assim. 

- Notas excelentes, comportamento ótimo e mesmo assim jogou suco numa garota que nem sequer fez nada contra você? - Meu pai havia feito uma pergunta retórica me fazendo respirar.

- Ela ficou me provocando, estava na hora de ter sua lição. - Respondi calmamente. Alguns me achavam estranha às vezes por agir tão calma em situações tão tensas.

Ele não respondeu mais nada e o resto do caminho até em casa fora num silêncio que - pelo menos - para mim trazia a paz.

...

E novamente eu me encontrava lendo em meu livro na varanda deitada na rede coberta pelo cobertor quente e aconchegante. A brisa de vento veio mais forte do que nunca e ao olhar para a lua para admirá-la, eu juro que perto das estrelas pude ver uma sombra tentando vim em minha direção. Ela estava começando a ficar cada vez mais próxima de mim e a brisa do vento gélido aumentava cada vez mais com sua vinda. Perto de me alcançar e até mesmo conseguir me tocar meu pai abriu a porta do quarto desconfiado de algo.

- O jantar está pronto. - Avisou ele dando um simples e pequeno sorriso sem mostrar os dentes observando ao redor do quarto como que procurando algo. 

- Pai? Algum problema? - Perguntei e ele parou de observar o começo voltando sua atenção a mim, que sai da rede largando o livro nela sem perceber e andei próxima a porta de entrada de meu quarto.

- Nenhum. - Ele retrucou dando uma última olhada pelo quarto desconfiado, mas depois continuou parado perto da porta. Eu sai andando indo para o segundo andar da casa, onde ficava a sala de jantar.

Mas enquanto eu ainda estava descendo pelas escadas, o meu pai fechou a porta de vidro que dava o acesso a varanda e fechou as cortinas também. Mas ele ouviu as batidas na porta e sabia que não era apenas o vento, podia sim ser o vento, mas acompanhado.

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