60 Dias Para Recordar

Introdução

Talvez tudo tenha começado um pouco antes de Junho. Estávamos em Maio, e eu, como uma monitora veterana do Golden Lake Summer Camp, estava ansiosa para conhecer os monitores calouros, que estavam entrando no grupo de WhatsApp da equipe conforme as férias se aproximavam. Todos os dias recebíamos pessoas novas, compartilhávamos da alegria que era conhecer mais um parceiro que ia servir, junto conosco, a dezenas de crianças e adolescentes. Cada pessoa que entrava, era mais um companheiro de risadas e lágrimas em potencial. Era mais uma pessoa que dividiria um testemunho maravilhoso conosco, quando o verão acabasse.

Eu gastava os meus dias conversando com meu melhor amigo, Niall Williams, sobre nossas expectativas para aquela temporada de férias, a comida do acampamento, e inclusive sobre os calouros e calouras. Eu não estava procurando alguém para me apaixonar, como muitas pessoas infelizmente faziam (não acho que você precise estar ativamente em busca de alguém, para encontrar a pessoa certa), mas era legal conversar sobre cada um, fazer elogios e outras coisas bobas que a maioria dos jovens faz.

Nessa temporada, depois de três vezes passando as minhas férias servindo no Golden Lake, eu havia decidido me dispor a todos os calouros, chama-los para conversar e me apresentar antes de chegar ao acampamento. E isso estava sendo ótimo... Até fiz amizade com muitos deles antes de nos conhecermos pessoalmente! Como eu estaria na equipe de fotografia, não teria tanto tempo para me aproximar deles no dia a dia do acampamento; nós, da mídia, dormíamos em um lugar diferente dos monitores de quarto, tínhamos horários diferentes, e nunca tínhamos tempo para sentar e conversar. Fazer amizade com algumas pessoas online, antes do acampamento começar, foi realmente uma das minhas decisões mais sábias.

Teve um dia em que um garoto chamado Liam Stewart entrou no grupo da equipe.

Logo mandei mensagem para Niall, contando que aquele era um acampante que eu achava bonito desde as férias passadas e, agora que ele era monitor, eu não precisava me culpar por isso (risos). Niall se empolgou e ficou falando comigo sobre ele, mas nada muito sério. Logo entrou no grupo outro menino, que se chamava Noah Williams; ele era da mesma cidade de Liam, e eu sabia que eles faziam parte do mesmo grupo de amigos, mas nunca tinha conversado direito com nenhum deles.

Chamei os dois para conversar no chat privado, e tive uma conversa muito legal com ambos. Noah, em especial, era muito amigável, mandava tantos áudios quanto eu, e virou um parceiro de conversa durante um dia. Depois disso não nos falamos mais.

Os dias iam passando, e eu e Niall não parávamos de conversar sobre tudo o que esperávamos para o acampamento. Deus tinha um propósito lindo para aqueles meses, e nós tínhamos certeza disso! Não parávamos de relembrar tudo o que já havíamos vivido naquele lugar, e íamos ficando cada vez mais ansiosos. Até que recebi uma das piores notícias do ano.

Acordei em uma manhã, cerca de uma semana antes de ir para o acampamento, com minha mãe me chamando para ir à sala de casa. Eu fui, sonolenta e levemente estressada, para ali ser informada sobre a morte de um dos meus primos, Leo.

Lembro de como meu coração apertou e meu estômago embrulhou. Antes que eu pudesse chorar, mandei mensagem para Niall e para o grupo da equipe do acampamento. Todos eram pessoas e amigos espirituais com quem eu podia contar, e foram as primeiras pessoas para quem pedi que orassem por mim e minha família. Depois disso, desabei em um vazio, uma tristeza, uma solidão.

Leo era um menino apenas dois anos mais velho que eu. Morava em outra cidade, e eu não o via há vários meses, o que fez com que eu fosse invadida pelo arrependimento de não ter feito mais visitas. Ele era o primo que mais cuidou de mim quando eu era mais nova. O mais sorridente, mais cheio de amor. O Leo era uma dessas pessoas que eu não tinha certeza se era cristão ou não, mas sabia que era uma pessoa de quem Deus devia se alegrar. Ele era leve, e verdadeiro.

Receber mensagens de apoio de meus amigos foi o que mais aqueceu meu coração naquele momento. Saber que há alguém orando por você pode ser, muitas vezes, mais reconfortante que um abraço. Uma das pessoas que me mandou mensagem foi Noah; eu não conhecia ele, mas aquele garoto, com quem eu havia conversado pela primeira vez alguns dias antes, me abraçou e acolheu de longe. Lembro de mandar mensagem para o Niall, dizendo que Deus com certeza tinha grandes planos para a nossa equipe de monitores.

Não quero me demorar nessa parte triste da história.

Os dias foram passado, o velório do meu primo chegou, e meu coração começou a ser consolado e confortado por Jesus. Minhas malas para o acampamento iam ficando prontas, e eu voltava a me animar, ansiosa para tirar a minha cabeça dos problemas e focar apenas em servir durante as férias.

Parte do meu plano de super recepção de monitores era escrever uma carta para cada um, veterano ou calouro. Como falei antes, eu não teria muito contato com ninguém que não fosse da equipe de mídia, e meu contato com acampantes seria no máximo um "sorri pra câmera!". Então decidi que me dedicaria a equipe, a estar com eles e ser apoio. Escrever mais de cinquenta cartas foi cansativo, mas foi uma das coisas que mais me fez enxergar Deus me usando e guiando. Eu nunca teria capacidade para escrever todas elas (principalmente porque deixei umas quarenta cartas para a semana que eu iria para Golden Lake). Se eu escrevi aquelas cartas e vidas foram abençoadas, não é porque escrevi palavras que vinham de mim e de minha mente confusa, mas sim porque escrevi palavras que vieram de Cristo.

Nos últimos dias pré-temporada, me empenhei em organizar tudo que fosse necessário para os longos dias que eu passaria longe de casa. Meu coração batia mais forte a cada dia, até que minha tão esperada quarta-feira, quando eu iria para o Golden Lake, chegou.

Separei minhas malas, e fui.

CAPÍTULO UM