Eu tinha acabado o meu turno da noite, e estava fazendo uma caminhada até a minha casa, sob uma magnífica lua cheia que iluminava completamente o caminho adiante. Em minha mão, segurava uma garrafa de Vinho Bordeaux, animado para o jantar preparado pela minha esposa, Kamila. Ela já me enviou um texto dizendo que já estava quase pronto, e que o meu cachorro esperava alegremente o meu retorno, abanando a cauda e provavelmente se perguntando por que estou demorando tanto.
O caminho de casa me levou até a frente de uma escola de montaria, com uma dezena de cavalos que passavam a noite no campo cercado. Eu sempre parava por ali para alimentá-los com algum lanche que trago para eles; Cenouras ou maçãs, em sua maioria, e por isso formamos um certo laço de amizade.
Mas uma coisa me parecia estranha naquela noite. Geralmente as criaturas curiosas vinham trotando assim que me viam quando estava trazendo comida, mas ao invés de suas boas-vindas, eles me ignoraram completamente, com seus olhos fixados na lua brilhante no céu.
Tentei estalar os dedos e assoviar para chamar sua atenção, mas eles nem sequer notaram a minha presença. E depois de alguns momentos olhando para a lua, me perguntando o que diabos eles achavam tão interessante, eu desisti e continuei meu caminho para casa.
Meu cachorro, Hugo, um Pastor alemão que agia como se fosse um cachorrinho de Madame, pulou animadamente enquanto eu passava pela porta. Ele quase me derrubou no chão, mal permitindo que eu salvasse o vinho que havia comprado de uma queda.
Kamila rapidamente veio á minha ajuda, tentando sem sucesso tirar ele de cima de mim, uma tarefa quase impossível quando Hugo começava a agir assim. Mas, após algumas lambidas e marcas de patas sujas na minha camiseta branca, ele se acalmou graças á tentação de um lanche caso me soltasse.
- Os cavalos estavam agindo de um jeito estranho hoje - Eu disse com a boca cheia enquanto jantava.
- Como assim "Estranhos"? – Kamila Perguntou.
- Bom, eles me ignoraram completamente e só encaravam o céu
Ela me deu um olhar preocupado, antes de lançar um olhar para Hugo.
- Isso é estranho, a mesma coisa aconteceu quando eu levei o cachorro pra passear, um pouco antes de você chegar em casa. Ele não parava de olhar para o céu, e eu tive que arrastar ele pelo resto do caminho.
- Bom, isso é diferente, o Hugo com certeza é um idiota. – Eu disse acenando para o nosso cachorro, que estava com seu rosto meio afundado na vasilha de água, produzindo bolhas enquanto bebia.
Kamila soltou uma risada, e continuamos com o nosso jantar, fazendo o nosso melhor para aproveitar uma noite juntos enquanto assistíamos um filme.
No dia seguinte, após o trabalho, eu passei novamente pelo mesmo cercado dos cavalos, dessa vez me assegurei de que trazia comigo um saco de comidas irresistíveis para ele. Eu imaginei que não deram atenção pois o que havia trazido não tinha os agradado.
Mesmo assim, eles continuavam encarando a Lua...
Fiquei na cerca deles por alguns minutos, tentando chamá-los, segurando para eles algumas cenouras, e até mesmo jogando algumas em seus pés. Mesmo assim só continuavam encarando o céu, com sua atenção fixada no brilhante corpo celestial à nossa volta.
Eventualmente, começou a esfriar, e eu voltei pra casa. Quando cheguei, encontrei Hugo no nosso jardim, seus olhos fixos para o céu, e Kamila tentando desesperadamente o arrastar para dentro, enquanto xingava o cachorro, mas ele se recusava a entrar.
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Os animais da minha cidade não param de encarar o céu notuno
HorrorEm um dia como qualquer outro ao chegar em casa, me deparo com uma situação peculiar... Os animais da minha cidade, incluindo cães e cavalos, não param de encarar a lua. Achei estranho, no entanto... Mal eu sabia que isso era só o começo