A luz do sol refletia pela janela naquela manhã, e iluminava à cozinha da pequena casa. Era uma casa comprada com o esforço de um pai de família moderno, encontrava-se num bairro pobre, porém muito bem-educado. A casa possuía apenas 2 quartos sendo que apenas um deles era utilizado. O quarto era usado por uma jovem artista, Carla. Ela conseguiu terminar com honra a sua faculdade de artes e teve necessidade de uma casa dela, para conseguir melhor concentração no seu trabalho. Seu pai era dono de uma fábrica de bolachas de sal e água, ou melhor, era um supervisor superior e até que recebia bem. Conseguiu comprar uma casa, mas infelizmente teve um ataque cardíaco aos 58. Carla não queria ficar naquela casa, existiam pensamentos e memórias que a prendiam ali e faziam com que ela se sentisse desamparada numa realidade que não conhecia e as paredes se pareciam obscuras. Quando ela terminou a faculdade, ficou sem onde dormir ou trabalhar por isso não teve outra escolha, tinha que ver a velha casa. Ela nunca tinha sido habitada desde sua compra, estava vazia, apenas tinha a mobília que o seu pai tinha lá deixado antes de morrer. A casa não era feia, tinha cores muito bonitas, era uma pequena casinha e até parecia com aqueles desenhos que ela fazia quando tinha 6 anos. Era uma casa com uma porta pintada de amarelo e o resto da casa era feita de madeira, pintada de um laranja não muito forte, tinha dois suportes na frente da casa que apoiavam o teto e fazia com que na frente da casa ficasse uma pequena varanda. Nunca esqueci essa casa, principalmente por ter sido a minha primeira. Vivia na janela de uma florista no fundo da rua, gostava de ficar ali, em manhãs ensolaradas e nas tardes frias, eu era quem mais aproveitava. Certo dia quando nenhum cliente surgia, surgia o Rafael, um velho que sempre vinha de lá para cá com um terno e um chapéu preto, lembro que a florista sempre fazia piada da forma como Rafael tentava constantemente ser um galanteador, tudo estava parado e sem graça. Não sou uma flor, mas bem já tive esse sonho, ser apreciado pelas cores das pétalas ou pelo seu cheiro e sobre ser um dos grandes símbolos do amor. E, ali, apenas era uma planta, tão igual a milhares que existem no mundo. A florista sempre foi muito cuidadosa com todos os seres daquela pequena loja, sempre com luvas e um avental com flores desenhadas. O seu nome era Luísa, também conhecida entre os cidadãos da cidade como "pequena Lis" por causa do seu tamanho. Em um dia ensolarado de verão, ao longe, podia-se ver a alma colorida caminhar. Talvez ache falta de educação o título por mim dado à jovem, mas se se colocassem no meu lugar, da mesma maneira como me ponho na vossa, iriam compreender. Ela possuía a capacidade dos ventos perpassar entre seus iguais, se mantendo cândida até mesmo embrulhada em cores, era um espírito, uma alma perdida entre latas de tintas. Num ato de compreende-la, passei a observar com mais perícia do que o normal. Ela era alta, seu cabelo estava pintado em um azul-marinho, ela era um pouco gordinha e isso até a fazia ser “adjetivada” como fofa, pela florista. Finalmente ela entrou, apesar de ter empurrado ao invés de puxar e isso vez um pequeno alvoroço, mas entrou. Deu algumas voltas pela loja, enquanto que a florista com dificuldade tentava agarrar um grampeador em cima do balcão. Sempre tive uma certa compaixão pela florista, a janela situa-se por detrás do balcão em que ela tanto sofria por ser 10 cm maior que ela, obviamente ela poderia reformar o balcão para ser mais baixo, porém, ela ainda possuía seu “orgulho pequenez”. A "fofa" tinha o nome “Carla” escrito no seu cordão, não lembro do motivo para ela ter ido até à florista, talvez fosse para conversar ou comprar flores para uma pintura. O importante, é que ela achou estranho minha presença, entre tantas flores, eu era a única planta “comum”, dizia ela. A florista concordou e disse que eu era apenas uma “decoração”. Tamanha conversa conseguia diminuir meu tamanho naquele grande espaço, minha existência tão bem apreciada por todas as ruas e florestas se tornou insignificante ao nível de um preenchimento do para-peito da janela. Permaneci em silêncio, não queria, ou melhor, não pude puxar minhas raízes e dar-lhes os tapas que mereciam. Ao longe de minha furiosa introspecção, a conversa entra elas fluíam:
- Com tanta flores ao redor escolheu justamente essa plantinha?
- Ora! ela é linda e dá um ar incrível a esse balcão.
- Se você diz…
- Estou falando sério, quer levar pra sua casa para descobrir?
- Você não gosta dela, né?
- é, foi meu marido que trouxe
- entendo, ok, levo.
- Obrigada…Sim, caro leitor. Podes jogar seu telemóvel na parede e até mesmo assistir 8 horas de documentários da netflix e ainda vai ficar incrédulo do tão idiota foi esse diálogo, e que até foi o suficiente pra mudar minha “casa”. Agora vivo com nossa querida artista, que sempre me deixa confusa. Suas pinturas eram de uma magnitude que apenas os humanos de terno compreendem. Todos os dias ela senta-se à frente de um quadro branco e faz pequenos movimentos com seu pincel, ela quase podia voar com suas pinturas, eram tão belas e fluidas que por alguns segundos poderia desaparecer dentro daqueles quadros de uma forma tão simples. A grande diferença entre ela e à florista eram os diálogos, eu não podia mais me sentir uma decoração, eu me sentia real, pude ser algo além de apenas uma imagem protegida no consciente e desprezada pelo inconsciente. Ela falava comigo em uma grande ternura e paixão que o fluido da sua rega não era mais prazeroso do que suas palavras e éramos apenas dois em uma silenciosa sala repleta de tinta. Agora tenho apenas as lembranças da “Festa”. A festa foi feita em comemoração ao primeiro quadro vendido da Carla, ela estava tão feliz e orgulhosa do seu feito, e todos lá estavam com largos sorrisos que se podiam igualar aos seus grandes copos de cerveja. Claro, que naquela noite, mal pude respirar, havia muitas pessoas ofegantes levando parte do meu oxigênio. Em várias loucas danças, uma delas levou meu tombo. Cada vez mais um jovem bêbado se aproximava e só teve sossego quando em um ato de loucura me jogou pela janela. Fui cair no jardim, e ali estava, sozinho com as estrelas da noite, com os cacos do meu vaso e da minha existência. Fiquei por ali, esperando à noite passar para logo ao nascer do sol ser colocado em meu lugar direito. Fiz o passatempo de apostar quanto tempo demorava um jovem bêbado para chegar à porta, o mais rápido foi 10 minutos. Quando amanheceu pude o ouvir o som dos pássaros, mas infelizmente, não ouvi os passos da Carla no jardim. Já se passaram 7 dias desde o ocorrido, agora só me resta colocar minhas raízes ao solo e procurar algo que seja “suficiente e menos doloroso”. O pior de tudo era que os diálogos continuavam, ainda podia ouvir aqueles doces diálogos pelo qual tanto me apaixonei e perceber que eram apenas algo trivial. Isso que dá, uma história entre uma planta e uma louca.
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Planta específica
RomanceOlá, essa é minha primeira história, ou melhor, é minha primeira história publicada. Não tenho nenhum tipo de habilidade para escritor, apenas estou tentando algo novo. Nessa história fala sobre a vida de uma pequena planta e veremos como foi a vida...