II

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Já estou há meia hora à espera da minha avó... odeio esperar e, ainda por cima já lhe liguei 2 vezes mas ela não consegue ouvir nada. Digamos que não é a melhor pessoa com tecnologias. Vou para a parte de fora do aeroporto, meto os fones e espero por ela.

Bem, já estou a ver um Peugeot 205 " Indiana" clássico. Como é que sei o nome do carro? A minha avó não troca de carro desde que a conheço, adora preservar as coisas dela, até em demasia. Usa tudo até se estragar definitivamente.
Vejo-a a estacionar em cima do passeio e a vir a correr em direção a mim. Vem a segurar o chapéu de palha que trás na cabeça e com o seu vestido branco a esvoaçar.

- Oh meu docinho bom. - enquanto diz isto está-me a esmagar completamente.

- Avó, que saudades!! A cada ano que passa estás cada vez melhor. - a minha avó é super "para a frente", menos em tecnologia. Faz-me lembrar a donna, a personagem que a Meryl Streep fez no filme Mamma Mia.

- Anda, entra no carro e vamos para casa. Já preparei o teu quarto.

O Rádio do carro é péssimo então a minha avó meteu uma cacete e começou a dar a " Girls just want to have fun" da Cyndi Lauper. Ela está a fazer todo um show com o vento a bater-lhe na cara e a usar um jornal enrolado como microfone.
Mudou a música para a "Dancing Queen" dos ABBA. Agora sim, vai ser o meu show. Abro o vidro meto a cabeça de fora e começo a cantar o mais alto possível. Também, ninguém me conhece aqui, portanto, nem quero saber.

Estamos quase a chegar, lembro-me destas ruelas como se fosse hoje.
Vejo casas amarelas e brancas com portadas de madeiras e imensos vasos pendurados nas janelas e encostados às portas.
Sinto-me num filme. Ao som de " So this is love" da cinderella. Que é o meu filme de animação preferido. Ao som deste música, a passar por ruelas de positano com os meus caracóis em movimento devido à janela aberta e, os raios de sol a baterem-me na cara... sinto-me num filme dos anos 90.

Chegámos a casa da minha avó, uma casa pequena e acolhedora com janelas meio azuis e com uns vasos pendurados com orquídeas. A minha avó estaciona e sai do carro.

- Não vens?

- Quero ficar aqui um pouco, já entro.

Descalço as minhas all star, meto os pés fora da janela, empurro o banco para trás e fico a massajar a parte de trás da minha cabeça.

- Anda lá rapariga, já aqui estás há uns 20 minutos, que preguiçosa. - claro, com este ambiente relaxante, adormeci.

- Calma já vou, deixa-me só calçar.

- Vou levar a tua mala para cima.

- Avó não é preciso eu levo. - ainda tentei agarrar na mala mas não vale a pena a minha avó é super teimosa e, ainda por cima acha-se meio teenager, toda cheia de força.

Mal entro na casa da minha avó sinto um cheiro muito característico, uma mistura de pão quente com rosas perfumadas. Parece uma mistura aleatória mas não consigo descrever melhor. A estética da casa é linda, as louças são todas de porcelana, os móveis brancos com acabamentos em azul e os sofás de seda.

- Lava as mãos que me vais ajudar a fazer o almoço.

- Deixa-me adivinhar, Spaghetti à la Carbonara. - é um prato típico da minha avó, só ela o sabe fazer tão bem.

- Estás enganada. Aprendi a fazer uns raviolis que vais adorar. São de queijo e espinafres.
Tira desse móvel uma panela azul que está na segunda prateleira, por favor. Já adiantei tudo ontem à noite. Logo, é só colocar 15 minutinhos a coser e está pronto.

Estou a pensar no quão sozinha a minha avó se deve sentir desde a ida do meu avô. Não sei se devia abordar este assunto, no entanto, preciso de lhe perguntar.

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