Enclausurada por quatro paredes de uma sala, Isabela tinha o olhar focado nas imagens que se passavam pela tela de seu celular, sendo este a única fonte de luz - fraca - do local, já que as cortinas de tecido esbranquiçado barravam a luminosidade do lado de fora e as lâmpadas estavam fora de funcionamento no momento.
A brasileira estava praticamente encolhida contra o estofado do sofá, com uma coberta encobrindo-a e tinha nariz e olhos ligeiramente avermelhados. Uma caixinha de lenços, uma lixeira quase cheia pela terceira vez no dia e algumas cartelas de comprimido espalhadas sobre a mesa de centro denunciavam o seu estado na gripe em que enfrentava. Quando seu chefe a viu logo pelo manhã, não pensou duas vezes antes de dispensá-la até que se recuperasse e recomendou um médico para que visitasse. O resultado disso? Além de receber um atestado médico, teve de ir à farmácia comprar os medicamentos receitados e agora estava destinada a manter distância de amigos e familiares por tempo indeterminado.
Estendeu as pernas no espaço restante do sofá de três lugares enquanto digitava uma mensagem pelo celular para Agustina, que pedia por indicações de filmes para que assistisse com Giulia, cuja passaria a noite na casa da argentina. Porém, antes que terminasse de digitar a resposta, escutou a campainha tocar. Estranhou, já que não havia pedido por serviço nenhum e ninguém havia avisado que faria uma visitinha. De qualquer modo, fosse quem fosse, manteria certa distância para que tal não corresse o risco de ser contagiado pela gripe.
Enviou a mensagem incompleta e avisou para que a amiga esperasse, se descobrindo e deixando a coberta para trás enquanto firmava os dois pés no tapete macio e felpudo. Usava um conjunto de pijama cinza claro, longo, feito especialmente para temperaturas mais frias. Caminhou na direção da porta branca e pegou o molho de chaves pendurado no porta-chaves logo ao lado, procurando pela chave certa e, assim que encontrada, inseriu-a na fechadura e a girou.
Deu um passo para trás e abriu a porta, subindo o olhar curioso para descobrir quem iria querer vê-la àquela hora da noite. Pensava que poderia ser um engano, ou então algum dos vizinhos querendo algo consigo, até mesmo uma surpresa inesperada de algum de seus amigos. Bom, a terceira opção era a correta, mas jamais imaginaria que a "surpresa" se trataria justamente daquela pessoa.
Arregalou os olhos e deixou o queixo cair quando se deparou com a figura masculina de Julio Peña à sua frente. Se pedissem para adivinhar quem estaria atrás da porta, o espanhol seria certamente o último da lista, ou então, nem estaria nela.
Este, por outro lado, tinha um sorriso ladino no rosto. Uma das mãos estava enfiada no bolso da calça e a outra segurava uma sacolinha de plástico, cuja demonstrava ter alguns itens dentro. Assim como Isabela, também estava agasalhado, a diferença era que não utilizava um pijama: usava um fino moletom cinzento com detalhes em negro, uma calça jeans azul-escura e tênis pretos com partes esbranquiçadas.
-A lua 'tá linda, não? - comentou o espanhol mesmo não sendo capaz de visualizar o satélite terrestre. Gostava de dizer que aquilo era um tipo de "código" entre os dois, o qual apenas eles sabiam sobre sua origem.
Mas a brasileira não respondeu de imediato, estava chocada demais para isso. Se perguntava se não havia tirado um cochilo no sofá e aquilo não fosse nada mais do que obra de sua própria mente. Contudo, ao pensar que estava imaginando aquilo, tirou a conclusão de que sim, era real, por mais que ainda não acreditasse, afinal, como poderia acreditar tão rapidamente após dois anos sem vê-lo fisicamente?
Com a falta de reação da jovem, Julio ficou um tanto desconcertado, mas já tinha ciência de que esta poderia ser uma das diferentes formas dela agir. Na verdade, uma das imagens que mais se passavam por sua cabeça durante o caminho até o apartamento da garota era a dela o expulsando a vassouradas do prédio. Um pouco exagerado? Talvez.
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Still Love You
FanfictionEm um dia peculiar de outono, Isabela passava pelo tão conhecido tédio por ter de ficar em casa afastada de amigos e familiares para enfrentar uma gripe nada agradável. Não tinha plano algum a não ser ficar enfiada debaixo de seu cobertor quentinho...