Still Love You

Papo de Amigas

-Então... - Giulia colocou a xícara com o chocolate quente sobre a mesa. - Ele simplesmente apareceu ontem aqui na sua casa, tipo, sem nem mesmo mandar um sinal de vida?

-Basicamente - Isabela respondeu, enquanto aproveitava do momento para secar a louça que estava disposta no escorredor e guardá-la em seu devido lugar.

Minutos atrás, uma amiga de longa data de Julio e Isabela havia aparecido no andar do apartamento da brasileira, chegando a pegar os dois de surpresa em um momento um tanto íntimo e especial. Uma pena que havia os interrompido, mas simplesmente ignorava o peso da culpa - por ser uma das maiores apoiadoras do casal e ter chegado no melhor momento - ao pensar que a Souza, uma de suas melhores amigas, estava deixando tanto ela quanto Agustina preocupadíssimas. O mínimo que poderia fazer era checar se naquele "um segundo, volto logo" ela não havia escorregado e batido a cabeça, ou então quebrado algum osso, entre outras opções.

Depois da cena feita em frente ao apartamento da jovem, Isabela convidou a italiana para entrar em sua casa, mas como o espanhol realmente tinha de ir, infelizmente - ou seria felizmente? - o papo daria continuidade apenas com as duas.

-MEU ISULIO ESTÁ VOLTANDO! - voltando ao ambiente atual, a morena levara um susto com o berro repentino da loira.

-Somo só amigos, Giulia. Não é como...

-Correção: ainda são só amigos.

-...Não é como se fôssemos voltar a ter um caso apenas porque ele voltou da Espanha - retomou. - Não sei de tudo o que aconteceu na vida dele nesses últimos dois anos. Muita coisa pode ter mudado, inclusive os seus interesses.

-Ah, faça-me o favor, Isabela! - exaltou-se. - Eu sou louca, mas não cega! Acha que eu não vi o quão próximos vocês estavam ali fora? Mana, ele não 'tava "caidinho" por você, ele mergulhou de cabeça nesse precipício! Cai dentro que você só tira proveito disso!

A brasileira respirou fundo, guardando o último item na gaveta e soltando pano sobre a pia, voltando-se para Giulia e se escorando no encosto de uma cadeira.

-Primeiro: você está escutando demais os áudios do André - pensou em retrucar, mas Isabela foi mais rápida: - E segundo: não vou negar que ainda temos química, mas...

-Viu! Até mesmo você percebeu isso! O que mais vocês precisam? Um lugar para o casório? Eu arranjo! - A Souza lançou-lhe um olhar repreensivo por ser interrompida pela segunda vez. - Ok, já entendi, parei, pode falar.

-Obrigada - murmurou em um tom sarcástico, suspirando logo em seguida. - Mas não sei se daria certo, sabe? Se for para acontecer, que seja algo concreto. Não quero criar esperanças para depois ter a expectativa quebrada. Se antes ele já tinha uma vida na Espanha, não duvido nada que agora esses laços estejam mais fortes. Ele tem bons motivos para voltar para lá a qualquer instante, enquanto que aqui... Bom, aqui não tem nada que o prenda.

-Tirando você, né?

-Giulia...

-Foi mal! Não segurei - sorriu travessa, tornando a capturar a xícara com as mãos e tomando um generoso gole da bebida. - Mas  ele não disse nada ontem? Nem hoje?

-Bom, dizer ele disse, mas nada que confirmasse que ele fosse ficar aqui. Ele está procurando uma casa, mas assim como na outra vez, ele pode apenas vendê-la ou devolvê-la ao dono.

-Então por que você não conversa com ele sobre isso? - perguntou, fazendo com que a situação parecesse fácil, mas não na cabeça de Isabela, até porque, por mais que ela negasse, já havia criado esperanças.

Giulia aproveitou do silêncio da brasileira para dar continuidade ao leite com chocolate que tanto amava, deliciando-se com aquele líquido quentinho. Assim como Julio, a italiana sabia que interromper Isabela em um de seus momentos com os próprios pensamentos poderia ocasionar em um erro fatal, afinal, eram nesses momentos que a jovem tirava suas próprias conclusões, metas, estratégias, enfim. Quase podia escutar as engrenagens girando dentro da cabeça da Souza.