Código Zero - Filhos da Guerra

1 - Horizontes

Estava em algum lugar muito silencioso, não tinha nenhum cheiro diferente, além do cheiro de ar puro que preencheu seus pulmões e pareceu lhe dar 10 anos a mais de vida. Olhou ao redor e estava deitado em um sofá, numa sala completamente estranha, não haviam portas, paredes ou janelas. Só haviam espelhos, como em um labirinto. A iluminação era constante, luzes brancas refletidas pelos espelhos. As imagens confundiam a percepção de Leonardo sobre aquele lugar, não sabia qual era a luz que realmente existia, não conseguia encontrar a lâmpada de verdade.

— Isso não é apenas um sonho. Você não está apenas sonhando. Você não vai achar a lâmpada, e não adianta procurar. Se você ao menos tentou, isso já nos diz algo sobre você — , outra voz falou, o som não parecia ter alguma origem, mas sim vir de todas as direções, incluindo dentro de sua própria cabeça.

Assim que o silêncio retomou ao lugar, um dos espelhos desapareceu, sem dar nenhum sinal de onde poderia ter ido. Em seu lugar, uma parede aparecia exposta, nela, 3 cores estavam dispostas: azul, vermelho e amarelo. Em cada uma delas, um desenho, todos diferentes uns dos outros. O que aparecia na seção amarela da parede era um par de asas, o a seção azul eram vários círculos concêntricos, enquanto na seção vermelha era uma espada com o cabo para cima. "O que tá acontecendo?", pensou.

Então, cada desenho deu lugar a uma porta, e as três portas se juntaram em uma só. Para Leonardo, nada daquilo fazia sentido, ao se moverem, as portas não emitiam nenhum tipo de som. O silêncio tornava tudo mais misterioso e confuso. Os desenhos se sobrepuseram, dando forma à uma imagem que parecia um tipo de símbolo ou logo. Uma espada com asas sobre círculos concêntricos.

— Isso parece muito com... — refletiu por um instante, e em seguida foi em direção a porta e tocou a maçaneta. O ferro estava quente. Em seguida, sentiu algo espetar sua mão, a porta abriu, e então acordou.

Sentou-se na cama e tentou entender tudo que havia acontecido momentos antes. Pensou no desenho, tinha certeza que já tinha visto aquilo em algum lugar, provavelmente no Submundo. Alguém deve ter postado algo relacionado àquela imagem. A rede era gigantesca, alguém deve ter alguma informação, disse a si mesmo. Aquilo, de fato, não parecia somente um sonho. A primeira ideia que lhe veio à cabeça fora de que o desenho era o símbolo de uma organização militar. Talvez da Força Aérea, pensou.

A melhor opção é ver se isso existe no Submundo, sugeriu. Então pegou seu notebook e, tomando as precauções necessárias, entrou na rede. Começou a busca com um algoritmo que identificava elementos de uma imagem. Pensou que talvez aquilo pudesse levar mais tempo do que era possível se manter conectado. Por isso, resolveu usar duas máquinas para acelerar o processo.

Um barulho interrompeu seu raciocínio. A campainha tocara. Pensou que seria o serviço de correio, então ignorou e voltou sua atenção para tentar encontrar a origem daquele desenho. Encontrou uma publicação que tinha uma foto anexada, nela tinha uma espécie de armazém e em meio a caixas empilhadas, um em especial tinha gravado um desenho. O mesmo desenho. Rapidamente, Leonardo leu o texto que junto à imagem. No entanto, não fazia nenhuma menção ao símbolo desconhecido, e como não havia maneira de saber onde aquela foto fora tirada, concluiu que não tinha informações, naquele momento, para ter uma explicação. Sabia, porém, que não estava ficando louco, e aquele sonho significava algo, ainda que não entendesse o quê.

O Submundo alertava que o tempo máximo de conexão fora atingido e Leonardo seria forçadamente desconectado. Guardou os notebooks e resolveu ver a correspondência. Ao abrir a caixa, pensou nas contas de água, luz e gaz a serem pagas, também refletiu sobre o quanto estaria em uma situação nada confortável caso continuasse sem trabalhar formalmente. Uma hora a Receita notaria que ele recebia dinheiro ilegal, como poderia um desempregado manter as contas em dia?