1- fuga

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"Cara, corre!" Zayn sussurra, ao que as pessoas começam a correr em todas as direções e ele é atordoado com uma sensação de nervosismo no peito , sentindo o coração disparar por conta de quão caótica é a atmosfera que define a cena em que se encontram . Ele nunca viu uma multidão se dispersar tão rápido quanto agora, e ele já esteve em situações similares muitas vezes. Ele se apoia em seu pé direito para inclinar o corpo e olhar para o outro lado da quadra, na relativa escuridão da noite, tentando entender exatamente quão fodidos eles estão e quão rápido precisam correr. A resposta, para surpresa de ninguém, é: eles precisam fugir o mais rápido possível; caso contrário, eles terão problemas sérios. Então, ele olha de novo para o rosto chocado de Louis, que está parado assistindo as pessoas correrem e analisando a situação, para reiterar: "Que porra você está esperando? Vamos, a gente precisa correr!"

Louis toma isso como sua deixa para finalmente voltar à realidade , agarrando a mão de Zayn e puxando-o para a direção oposta à que ele estava olhando, correndo o mais rápido que conseguem antes que possam ser vistos. O piloto automático assume o controle e sinceramente é um mistério como eles pensam em pegar a direita em Downing Street, correr mais três quarteirões e depois virar à esquerda. A cena é repleta de todos os grandes edifícios históricos que agora eles somente veem passando como um borrão, carros, luzes brilhantes dos postes às margens do rio Tamisa e talvez um ou outro estabelecimento comercial, mas eles não param para prestar muita atenção enquanto praticamente voam pelo local. Eles somente param quando percebem que o piloto automático os levou ao antigo e alto edifício que é a estação de metrô Westminster, em frente ao Big Ben .

Eles chegam lá e é somente então que realmente param pra perceber onde estão, enquanto pegam seus oyster cards dos bolsos de suas jaquetas. A estação está surpreendentemente cheia, considerando que são 8 horas da noite e não está muito movimentado no exterior dela. Toda vez que eles entram em uma dessas estações de metrô nas partes mais antigas da cidade, Louis pensa sobre como é estranho o fato de que elas parecem muito velhas (mesmo que bem preservadas) por fora, mas bastante modernas por dentro, como se tudo em seu interior fosse feito de aço. É uma dualidade interessante que ele sente que representa a cidade muito bem, pois mostra como o velho e o moderno podem coexistir e se complementar. É uma das muitas coisas com as quais ele ainda está tentando se acostumar sobre Londres, que ele espera que algum dia consiga considerar algo próximo um verdadeiro lar. Ele adora a cidade, de verdade, é só que ela é... Demais. Não é o que ele está acostumado. Não apenas isso, mas agora ele sente que eles estão entrando em uma realidade paralela, quando olham para todas essas pessoas que compõem a multidão vivendo suas vidas- talvez indo para casa descansar depois de um dia difícil, talvez indo encontrar um ente querido, talvez indo para um turno noturno no trabalho. Ou, como no caso de Louis e Zayn, talvez estejam voltando à universidade depois de quase entrar em um confronto com a polícia em um protesto.

Não é que eles não estejam acostumados a esse tipo de situação, eles já passaram por isso diversas vezes antes, pois estão envolvidos em movimentos estudantis desde o sixth form, e é natural que às vezes aconteça quando você participa de muitos protestos. Às vezes, não há polícia. Às vezes, ela aparece. Às vezes, há confrontos entre polícia e manifestantes. Às vezes, não há. Hoje eles tiveram a sorte de ouvir a polícia à distância e ter tempo para fugir, mas isso nem sempre acontece.

"Você tá bem?" Louis fala quando recupera o fôlego, pelo que parece a primeira vez, enquanto eles descem a escada rolante.

"Tô, sim. E aí?"

"Meu Deus... Isso foi muito louco!"

"Mas divertido pra cacete, né?"

Eles entram no vagão de metrô (que, felizmente, não está tão lotado naquela hora da noite quanto eles presumiram que estaria ao ver o estado da estação). O caminho a seus dorms é repleto de piadas, brincadeiras e energia nervosa proveniente da adrenalina causada pela loucura que eles haviam vivenciado apenas minutos atrás. Eles ficam sentados nos assentos, falando besteira e não prestando muita atenção em nada nem levando a situação muito a sério. Se divertindo, apenas. Depois que a adrenalina abaixa, essa noite é uma daquelas em que tudo parece leve e você consegue apenas desfrutar de uma boa conversa com seus amigos, esquecendo o estresse de viver a vida cotidiana como um estudante universitário que também precisa trabalhar para se sustentar. A vida adulta no mundo capitalista às vezes é demais para todo mundo, é bom de vez em quando conseguir esquecer dela um pouco. A certa altura, eles param na Estação Green Park para sair do metrô e fazer uma conexão, e nem sequer se incomodam com o fato de que o outro metrô atrasa mais dez minutos para chegar lá.

Zayn e Louis são melhores amigos de infância; eles se conheceram no começo da segunda etapa do ensino fundamental. Eles estudaram nas mesmas escolas em sua cidade relativamente pequena, no norte. Geralmente passavam seus dias​​juntos, jogando bola ou algum jogo tipo Mario Kart ou Zelda em seus videogames. Geralmente na casa de Louis. Zayn passava tanto tempo lá, na verdade, que Johannah -gentil e bondosa como sempre é- começou a considerá-lo como seu filho. Ela sempre foi acolhedora e amorosa com ele, e fazia com que a casa da família de Louis parecesse um verdadeiro segundo lar. Ele até tratava as irmãs de Louis como suas, ajudando-as a escolher roupas, arrumar o cabelo e até dando conselhos sobre vida amorosa.

Eles começaram seu interesse por política quando estavam no sixth form . Zayn começou a ler sobre economia e ciências políticas, envolvendo-se com o movimento estudantil, e começou a conhecer estudantes mais velhos que protestavam. Louis também tomou um certo interesse no assunto e, na metade do primeiro ano do sixth form, ambos decidiram que queriam estudar algo relacionado a isso, o que só fortaleceu seu vínculo. E foi assim que eles acabaram se mudando para Londres por conta da universidade , apenas alguns meses atrás.

Eles têm essa dinâmica interessante que funciona muito bem, na qual Louis é -embora muito inteligente e um ótimo aluno- um clássico palhaço da turma, enquanto Zayn é calmo e sereno com sua aura misteriosa. Ele é o tipo de pessoa que possui uma presença forte, mas de um jeito quieto, intelectual e que quase os faz parecer como se nada os impressiona. Não é que ele não seja gentil ou que ele seja desagradável de ser ter perto –pelo contrário, sua presença também quase que possui um calmante- ele é apenas mais propenso a não querer ser o centro das atenções ou falar alto, no geral. Louis, ao contrário de seu melhor amigo, é naturalmente o centro das atenções. Ele fala alto, tem uma alegria e uma risada contagiantes e é muito engraçado. Essas duas personalidades diferentes se misturam bem, porque Louis traz à tona o lado mais falante e piadista de Zayn e Zayn representa para Louis um vínculo profundo e uma amizade mais pessoal da qual Louis com certeza sentiria muita falta se estivesse apenas em grupos de amigos que atrai com sua presença contagiante. Juntos, eles combinam o melhor dos dois mundos, sendo uma amizade clássica entre um extrovertido e introvertido. E é assim que sempre foram, desde que se conheceram, com esse vínculo inquebrável.

Eles saem do metrô na Warren Street cerca de vinte minutos depois de entrarem em Westminster e andam por três quarteirões até chegarem à universidade, agora aliviados por estarem um pouco mais relaxados depois de toda a loucura. Eles entram no portão que leva em direção ao belo pátio com pequenos jardins, caminhos de paralelepípedos e fontes de água, pouco iluminado à noite. É uma noite bonita, não muito fria, o que é muito incomum para uma noite de novembro em Londres. É sorte deles, já que eles não estão vestindo roupas adequadas para um clima mais frio do que está. Zayn está de jeans escuro com rasgos nos joelhos, uma camiseta de manga comprida e gola alta preta e uma jaqueta de couro básica e Louis está usando calça de moletom e jaqueta da Adidas, ambas pretas.

"Quer ir no meu quarto?" Zayn convida, enquanto andam para o prédio. Louis concorda , e quando abrem a porta do quarto branco quase vazio com duas camas de solteiro cobertas com lençóis pretos e duas escrivaninhas de estudo, eles percebem que não estão sozinhos. Liam, o colega de quarto de Zayn que estuda história da arte, está sentado em sua cama conversando com outro homem, cada um segurando uma lata de cerveja e ouvindo algo que Louis presume ser Trap, mas não faz ideia de quem é o músico nem nada mais específico do que chutar qual gênero musical é. E não é seu estilo. Ele é fiel a suas raízes de Britpop e Rock alternativo do que, e não é que ele julga demais ou se importa demais com o que os outros ouvem; é só que Trap é muito ruim. O que não é ruim, no entanto, é a aparência do cara que fala com Liam.

Ele é alto e magro, mas um pouco musculoso, deixando claro que pratica algum esporte, e ele tem pele clara e cabelos castanhos um pouco compridos. Ele está vestindo calças jeans skinny pretas que delineiam suas coxas tonificadas perfeitamente, uma camiseta verde com o que é provavelmente o nome de algum time de basquete escrito sobre ela (Louis presume, ele não saberia dizer de qualquer maneira, porque ele não sabe nada sobre basquete, já que seu esporte preferido é futebol) e seu cabelo está preso em uma bandana. Talvez seja o jeito que a luz cai sobre ele que é lisonjeiro, mas todos os detalhes sobre ele parecem se encaixar perfeitamente de uma maneira que o faz parecer quase angelical, como se ele não fosse deste plano de existência -ele é ... lindo, não há outra maneira de descrevê-lo. Além disso, há algo nele que quase parece um aviso, como se ele fosse uma daquelas pessoas bonitas que possuem uma aura cativante, mas não muito mais do que isso. De qualquer maneira, ele é lindo. Louis normalmente não é um de ficar sem palavras, mas é isto que homem de cabelos encaracolados faz com ele.

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