Elesis sorriu para os rostos a sua frente e esperou que todos tivessem saído da sala antes de dar as costas quase às pressas e correr para o quarto. As janelas estavam abertas e ela se apoiou no guarda-corpo, sentindo o vento bater em sua face e jogar seus cabelos para trás. Abaixo, enquanto observava pela janela, conseguia ver as luzes da cidade viva brilhando sem saber o mal que a espreitava.
— Para uma monarca tão eloquente, você parece bem pálida após essas últimas informações, Majestade. – O som da risada que saiu da sua boca era quase irreconhecível, um som prepotente que ela não sabia de onde vinha. Se virou, observando a armadura reluzente que se sobrepunha sobre o corpo alto e forte, tão grande e másculo que fazia algo se remexer em meio suas pernas. Todavia, ao ergueu os olhos para o rosto, ele parecia familiar, mesmo que não conseguisse focar em sua face ou lhe reconhecer, era quase um borrão estranho e disforme.
— Eu creio que impressão sua, General. – A voz novamente saiu diferente a seus ouvidos. O sorriso nos lábios do homem se torceu para cima e ela sentiu enquanto o vestido se envolvia em suas pernas conforme se remexia.
— Devemos mudar o plano, não vale a pena... – Ela ergueu a mão antes de ele continuar a falar coisas que ela não tinha vontade alguma de ouvir.
— Seguiremos com o plano, General. E se você não cumprir com sua palavra as consequências cairão sobre sua cabeça feito fogo. – Deu um leve sorriso, cruzando as mãos na frente do corpo. – E sabemos que o meu fogo é um pouco mais quente do que o normal. – Mesmo com o rosto embaçado do homem, ela conseguiu ver o medo em seus olhos, o que a deixou contente, ainda com o sentimento desconhecido e esmagador que assolava seu peito. – Tendo dito, tenha uma boa noite, General. – Estendeu a mão em direção a porta, indicando para que ele saísse. Ele abriu a boca para protestar, mas ela o encarou com veemência e tudo o que ele fez foi se curvar, dando as costas e saindo do quarto.
Assim que se encontrou sozinha, Elesis voltou-se para a cidade e observou as luzes. Ela sabia que o sacrifício – seja lá qual ele fosse – seria grande demais para seus braços.
xxxx
Elesis acordou junto com o despertador dessa vez, o cochilo que havia tirado foi o suficiente para mais um sonho estranho que parecia apenas um borrão na sua mente. Ela se ergueu da cama, indo até o guarda roupa e vestindo as roupas largas para o seu estado atual. Ao olhar no espelho, as olheiras continuavam fundas e ela ignorou as manchas de sangue na roupa que havia deixado no quarto ao coloca-las no cesto.
Desceu as escadas com a bolsa no ombro e observou os pais tomando café na cozinha, que a olharam com os mesmos olhos preocupados de sempre. Era assim há meses, desde que ela sobreviveu acidente e sua irmã não, onde ela tinha de passar por acompanhamento médico para lidar com os problemas que isso lhe causava como se fosse uma bomba prestes a explodir.
— Bom dia, El. – Seu pai disse com um sorriso contido no rosto. – Você não comeu ontem.
Walter Ironwood era um homem grande apesar de bondoso, os olhos eram cálidos e esverdeados, assim como os ombros largos eram assustadores, também tinham o melhor abraço do mundo. Penélope, era bem parecida com a filha, os olhos eram de um castanho aceso e os cabelos eram vermelhos, mas não parecia tão prepotente quanto sua primogênita.
— Eu estava cansada e acabei dormindo. Acordei de madrugada e vim. – Mentiu ao se aproximar, pegando um xicara e se servindo de café e uma única bolacha de água e sal. Aquilo era mais do que ela estava acostumada a colocar no estômago àquela hora do dia, principalmente considerando qual era sua próxima parada.
Sua mãe abriu a boca para falar alguma coisa, mas pareceu repensar e se calou, observando o liquido escuro em sua xícara como se ele fosse extremamente interessante. Elesis aprumou os ombros, mantendo a faceta imponente antes de sorrir para eles e observar o aviso no quadro da geladeira: "Elesis: Psiquiatra às 08:30".
YOU ARE READING
Sangue de Ferro (Desgutação | Em breve)
General FictionElesis Ironwood só queria saber de sofrer seu luto em paz, conseguir uma boa classificação no campeonato de esgrima e ir para a outra parte da cidade, estudar medicina e ignorar toda a dor do seu passado. Não havia um só dia que ela não se olhava no...