written in the stars - Nora Holleran (vermelho, branco e sangue azul)

Um

 - Sinto muito, senhorita, mas seu projeto foi negado. - o Sr. Sharma parecia cansado de falar essas mesmas palavras há duas horas; havia, afinal, uma sala cheia de estudantes como a aluna  sentada em sua frente, ávidos pelo veredicto de quem tinha conseguido o financiamento de pesquisa. 

Louise deixa escapar um suspiro, encarando um quadro feio abstrato na parede atrás do professor de Relações Políticas Internacionais. A esta altura, ela já estava acostumada com a rejeição. Essa era a terceira desde que havia chegado? Talvez a quarta.  O que importava é que ela não tinha conseguido fundos para o seu projeto de pesquisa. 

- Esse não é o fim, você sabe? A senhorita está aqui há apenas três semanas. A maioria dos intercambistas do semestre sequer apresentaram um projeto ainda. - disse o Sr. Sharma, vendo a expressão da aluna murchar - já considerou um estágio ao invés da pesquisa?

- Só em último caso, senhor. - a garota tira os olhos da parede e foca nos do professor. - Eu quero pesquisa, lecionar. Eu vim para Georgetown para isso. - Louise percebe a expressão corporal dele mudar para uma forma receosa, as costas eretas e as mãos nervosas, como se estivesse prestes a dar notícias sobre a morte de alguém. Antes que ele pudesse falar, ela diz - ...eu só acho ainda muito cedo. Como o senhor mesmo falou, estou adiantada em relação aos demais.

A garota força um sorriso, e encara o professor. 

- Pois bem. - o Sr. Sharma limpa a garganta, procurando as palavras - Concordo, realmente muito cedo para mudança de planos. Trabalhe um pouco mais nessa versão do projeto, corrija os pontos que lhe apontei. Tem potencial. - ele recosta-se de volta na cadeira, tentando decifrar a expressão de Louise, que permanecia com o leve sorriso impassível - Mas lhe aviso: como seu orientador, prepare-se para a possibilidade da pesquisa não ser levada adiante, certo?

Louise obriga os músculos do rosto a permanecerem tensos, segurando o sorriso.

- Claro, senhor. Tenho total consciência disso. - ela se levanta e estende a mão - Muito obrigada.

Louise mal vê o que acontece depois. Apenas se lembra de sair pela porta do escritório, cruzar a sala de espera abarrotada de alunos e correr para o banheiro mais próximo. Ela tem a vaga sensação de que alguém falou com ela no caminho, mas era impossível responder enquanto entrava correndo no banheiro. Enquanto sente o gosto do bile e da torrada que comeu no café da manhã, de joelhos com o rosto enfiado na privada, ela escuta uma voz a chamar do outro lado da porta da cabine de banheiro. 

- Louise? Está tudo tranquilo aí? - a voz era feminina falando um português com sotaque forte insuportável de europeu, e Louise imediatamente reconheceu. Merda. 

Ela levanta, dá descarga e coloca a melhor cara que tem antes de abrir a porta. 

- Está sim, Marli. Só meu café da manhã que me fez um pouco mal. - Louise olha para a figura em sua frente, uma menina-mulher de cabelos ruivos, rosto sardento e olhar curioso. Sua colega de quarto da moradia estudantil, também intercambista. - Mas já estou bem melhor agora. 

A menina assente.

- Ah, entendo. Estava indo te encontrar no escritório do Sr. Sharma para irmos pra aula juntas, só que você passou correndo por mim com uma cara horrível. - a menina olha para baixo, percebendo o que falou. - Desculpa, eu...

Louise sorri para ela, aquele mesmo sorriso usado na sala do Sr. Sharma. 

- Não se preocupa, Marli - ela encosta a mão no ombro dela, num gesto de conforto - Eu devia estar com uma cara horrível mesmo. Não sei como não vomitei o meu estômago fora.  - o comentário faz Marli rir. Após Louise lavar as mãos e a boca, fala - vamos para a aula, estamos atrasadas.