Acordei com aquela ansiedade infantil naquela manhã. Já logo parti para o quarto de meus pais implorando para que levantassem, na esperança de que tal ato fizesse com que o momento esperado se aproximasse mais rapidamente.
De fato, era uma ocasião muito esperada. Era a primeira vez em que sairia sozinha para um passeio e os sentimentos de menina crescida me faziam pular de um lado para o outro tentando capturar, na imensidão de objetos da casa, aqueles que eu achava necessário para a mais nova aventura.
É claro que a sensatez adulta de meus pais não permitiram que eu colocasse um casaco grosso de inverno na pequena mochila floral - considerando que morávamos em Minas Gerais e estávamos em pleno verão - e muito menos os quase dez pacotes de salgadinhos que eu achava necessário no caso de eu e meu grupo seleto de três amigos nos perdêssemos por entre as árvores do Parque Das Acácias.
O tempo parecia ter parado. Quanto mais eu implorava aos céus que chegasse logo o momento de irmos, mais demorado o relógio se movia, como se testasse a minha limitada paciência de criança .
Por fim, ao meio dia saímos. No carro, mamãe não parava de dizer inúmeras recomendações que iam de tomar cuidado com insetos que poderiam estar no chão e nas árvores até estar sempre perto de outros adultos. Papai a acalmava dizendo para ela não se preocupar. Afinal, eu já tinha oito anos. Ao chegar na porta do colégio a maioria das crianças já haviam chegado, me fazendo reclamar incessantemente de nossa demora.
Finalmente entrei no ônibus e me sentei na janela ao lado de Betina - minha melhor amiga - e a frente de Marcelo e Clara - meus segundos melhores amigos. Fomos cantando cantigas infantis e músicas famosas que tocavam no rádio. Enquanto isso, muitos se levantavam e corriam pelo corredor entre os assentos - para o desespero das tias Lia e Sandra que não sabiam mais como fazer todos permanecerem quietos. Até que uma delas, Lia, resolveu se pronunciar:
_ Crianças! Crianças! Por favor, vamos nos assentar que já estamos chegando, quem não colaborar agora não participará das atividades oferecidas pelo parque.
Foi o suficiente. Nenhum daqueles jovens e imaturos seres ousaria perder nenhum momento daquele delicioso dia em que a sala de aula fora trocada por momentos ao ar livre.
Não demorou mais que cinco minutos e o grandioso Parque Das Acácias, que ficava no centro da cidade, fosse contemplado pelos olhos curiosos nas janelas.
_ Júlia! Olha que parque enorme...já pensou alguém se perder aí dentro? Não acha mais nunquinha - observou Betina, olhando com os olhos arregalados a imensidão de árvores do parque.
_ Para de ser boba Betina, é claro que acha! meu pai disse que se alguma criança se perder é só gritar e rapidinho alguém aparece! - disse Marcelo, com voz tranquila e convincente, como se tivesse acabado de desvendar um grande mistério.
_ Bom, o que eu sei é que não vamos nos perder. Então, essas informações não são importantes, além do mais eu me daria muito bem na selva, já que sou a primeira a conseguir escalar as árvores do parque da escola. - Afirmou Clara, presunçosa.
_ Larga mão de ser convencida Clara! - Digo irritada - Todo mundo sabe que você morre de medo de bicho. É só subir uma formiga em você que toda essa soberba desaparece.
_ Soberba? onde está arrumando essas palavras Júlia? - Perguntou tia Sandra, com um tom de voz habitual.
_Ah tia Sandra, é que o papai diz as vezes que eu não devo ser soberba. Quando eu me gabo por alguma coisa ele diz que é pecado e quem comete pecado vai pro inferno! Por isso estou tentando proteger a Clara. Eu gosto dela! - respondi, me justificando e rindo com o conto dos lábios.
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A Estrela Perdida
Short StoryJúlia tinha 8 anos quando foi em um passeio escolar para o parque mais famoso da cidade: o Parque das Acácias. Mas o que ela não imaginava é que essa excursão a marcaria por toda vida. 🌠Conto Produzido especialmente para o concurso de contos do pe...