Show Me

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  A respiração acelerada e os olhos assumindo um tom levemente avermelhado eram a única que denunciavam os sentimentos dolorosos do rapaz, apesar do pedido silencioso de que pelo menos uma das pessoas lotando aquela bendita festa notasse o que se passava ninguém naquele local parecia notar o turbilhão que se passava em seu interior naquele momento, ele sempre conseguiu esconder seus sentimentos com tanta maestria que após algum tempo perdeu a habilidade de externa-los, nem em momentos de extremamente importancia o fazia o que causava estranheza e raiva em muitos. A única pessoa que conseguiria notar o mal que o afligia com toda certeza jamais se aproximaria de si o suficiente para perceber, havia cometido uma falta gravíssima e conformava-se com seu "castigo", mas em momentos como aqueles tornara-se difícil permanecer tão compreensível com os fatos.
  Levantou de maneira abrupta do sofá e caminhou até a varanda do apartamento buscando refrescar sua mente tão sufocada, infelizmente o odor forte e adocicado dos entorpecentes ali sendo usados só o fez sentir-se ainda pior, "por que caralho esses idiotas gostam tanto desse fedor?" pensou mas logo repreendeu a si mesmo pois também usava esse tipo de droga, antes que a tontura causada pelo odor o deixasse ainda mais tonto caminhou apressado até o único quarto vago no apartamento. Trancado naquele pequeno cômodo ele se permitiu desmoronar e chorou tanto e por tanto tempo que seus olhos ardiam.
Sabia muito bem que a culpa era sua por ter deixado sua vida tornar-se tão catástrofica, contudo já não havia o que pudesse fazer para refrear todas as atitudes estúpidas que tomava com tanta facilidade e sem notar.

Bram havia se tornado uma pessoa tão terrível como uma tentativa estúpida de conseguir a atenção de seus pais já que somente quando cometia erros estes lembravam-se da existência do jovem, sabia que estava fazendo tudo de maneira errada mas a sede por atenção era mais forte do que sua razão e quando percebia as atrocidades que havia cometido tentava aplacar a culpa com as drogas, o que tornava tudo pior. A tosse baixa assustou o jovem o fazendo se virar assustado para a pequena garota sorridente sentada na cama, piscou diversas vezes tentando entender como ela havia chegado ali e porque razão o olhava de maneira tão doce.

— Não se lembra mais de mim, Dopee? — Pronunciou a voz doce e alegre da garota fazendo uma avalanche de sentimentos surgir em Bram por ouvir-la usando seu apelido. — Sempre tão chorão.

— Hollie — Sussurrou baixinho o rapaz se aproximando da jovem de maneira apressada e desajeitada, sentou em frente a jovem a olhando de maneira embasbacada e triste, fazia mais de dois anos que não se falavam.

Hollie se aproximou de Bram até que seus narizes se encostarem levemente fazendo ambos ficarem corados e sorriu de maneira genuína ao acariciar o rosto do garoto delicadamente enquanto o ouvia suspirar, Bram só percebeu o quanto havia sentido tanta falta daquele toque quando o sentiu novamente e sem notar recomeçou a chorar de maneira silenciosa.

— Me perdoa — Disse ele quase sem voz fechando os olhos e sentindo seu peito doer como jamais havia doido anteriormente, se sentia ser inundado pela culpa e arrependimento.

— Eu já perdoei, sabe disso — Sussurrou a garota segurando seu rosto entre as mãos e acariciando suas bochechas com a ponta dos dedos — Já está na hora de esquecer isso. Por favor.

Os soluços vindos do garoto faziam seu corpo inteiro tremer e sua garganta arder, a culpa jamais deixara seu coração ficar em paz e agora o torturava ainda mais, tentou inutilmente lutar contra o choro e as memórias que tanto o atormentavam, sabía que se deixasse as memórias o invadirem nem mesmo as drogas poderiam mandalas embora.

— A culpa não foi sua.

×Flashback on×

O cheiro forte do cigarro fazia os pulmões da jovem arderem intensamente mas ela sabia que se reclamasse acabariam brigando ainda mais, visto que Bram ja estava bem alterado. O carro em que estavam movia-se de maneira veloz e as mãos do jovem motorista apertavam o volante para esconder a tremedeira, sabia que não estava emocionalmente bem o suficiente para dirigir mas não deixaria que Hollie voltasse sozinha para casa. Haviam brigado a noite inteira por motivos tolos já que ambos sabiam que a causa da briga era apenas fruto de um ciúmes infundado, mas ambos não conseguiam conter seus sentimentos quando estavam juntos, Bram aproveitou o sinal fechado para olhar a garota de braços cruzados ao seu lado e sorriu, achava tão lindo o jeito infantil da garota quando emburrada e diria isso a ela se não fosse a mágoa que sentia.

— Não entendo a sua implicância com os meus amigos, sabe que jamais olharia pra nenhum deles como olho pra você — Sussurrou a garota o olhando de maneira triste.

— No entanto, se nega a ter qualquer contato físico comigo quando estamos na rua, nem me deixa segurar a sua mão, mas quando o *** fica te abraçando e apertando você se quer reclama. — Disse o garoto revirando os olhos enquanto sentia seu peito arder de ciúmes, ele jamais pode encostar nela na frente das pessoas porque se o fizesse acabavam brigando por horas.

— Meus pais não podem saber que eu namoro alguém como você — Sussurrou baixinho a garota irritada com a fala do outro mas logo pigarreou e corrigiu sua fala —  Sabe que meus pais não podem desconfiar que estamos juntos.

— Você tem vinte anos, não quinze! O que importa o que eles pensam? — Bram disse de maneira rude apertando ainda mais o volante enquanto tentava conter a vontade de chorar. Era de se esperar que os pais de Hollie não gostassem de si, ele era o extremos oposto do garoto certinho e religioso que eles sonhavam ver casando com a filha.

— Você sabe que a opinião deles vale mais do que v — Sussurrou a garota mas logo arrependeu-se pois sabia que aquilo não era verdade, amava Bram mais do qualquer coisa no mundo e quando viu as lágrimas no rosto dele soube o quanto aquilo o havia machucado — Eu não…

— Valem mais do que eu — Completou baixo sentindo seu mundo desabar e as lágrimas escaparem de si como uma avalanche, aquilo o fez sentir-se um lixo — Se eu sou tão insignificante assim porquê você não termina logo? Por que não some logo da minha vida? Por que não desaparece de uma vez?

— Bram…

  Antes que ela pudesse se desculpar eles ouviram o som ensurdecedor do carro derrapando e cruzando a contramão, Bram so teve tempo para segurar uma última vez a mão de Hollie antes que os carros se chocarem. O outro automóvel bateu direto na porta do carona tirando a vida de Hollie instantáneamente.

       × FLASHBACK OFF ×


  Bram deitou de costas na cama sentindo seu corpo inteiro doer enquanto chorava, sabia que aquela visão de Hollie e a volta de suas memórias havia sido causada pelo vislumbre de uma garota muito parecida com ela junto as substâncias que havia usado, contudo isso não amenizava a dor que sentia. Ter perdido ela foi a pior coisa que aconteceu consigo e naquele momento, mais do que nunca, foi terrível lembrar-se disso.
  Naquele dia completariam três anos sem ela.

Shadows From The PastOnde histórias criam vida. Descubra agora