𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐎𝐍𝐄: Doll House.

149 5 7
                                    

Capítulo revisado!
• AVISO: Contém conteúdo sensível
sobre abuso sexual.

Capítulo revisado! • AVISO: Contém conteúdo sensível sobre abuso sexual

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Amy Crawford
Point of view


Confiança é um privilégio.

Ou talvez um luxo que só quem vive no mundo perfeito das vitrines possa se dar ao trabalho de ter.

Eu aprendi isso cedo.

Os sorrisos bem ensaiados, as palavras meticulosamente escolhidas, os gestos treinados... Tudo isso faz parte da grande encenação. Uma peça em que minha mãe e Richard são os protagonistas brilhantes, e eu sou apenas um figurante sem falas, colocado estrategicamente para compor a imagem de uma família impecável.

Ninguém nunca olha além do que querem ver. A mansão reluzente, as jantares sofisticados, as taças de cristal brindando ao sucesso... A plateia assente, deslumbra-se com a ilusão e não percebe as rachaduras na pintura dourada.

Mas se olhassem mais de perto, se realmente se importassem, veriam os olhos vazios da boneca na prateleira.

Veriam a mim.

Com o tempo, aprendi a engolir tudo. A dor. O medo. O grito que morria na garganta sempre que Richard me olhava por tempo demais. Aprendi que ninguém nunca escuta. Que ninguém quer saber.

Elizabeth sempre dizia que eu não precisava carregar o mundo sozinha, que podia confiar nela. Mas como eu poderia? Como confiar em alguém quando até mesmo minha própria mãe escolhia fechar os olhos?

Eu parei de tentar.

Foi por isso que desisti da escola no primeiro ano do ensino médio. Fingia para mim mesma que o ensino domiciliar era uma escolha minha, mas a verdade era que eu não suportava mais os olhares, as perguntas, o peso de existir em um mundo onde eu era forçada a atuar todos os dias.

Nos meus melhores dias, estar sozinha era um alívio. Nos piores, era só mais uma prova de que eu nunca poderia escapar.

Porque dentro desta casa, dentro desta maldita casa de bonecas, eu era apenas um enfeite que Richard pegava quando queria brincar.

Eu lembro da primeira vez que aconteceu.

Era tarde, e a mansão dormia em silêncio.

Eu desci para pegar um copo d'água, sentindo o peso invisível da noite se arrastar pelos corredores. A madeira polida refletia a pouca luz do abajur, criando sombras alongadas nas paredes. Quando senti sua presença, já era tarde demais.

O cheiro de álcool chegou antes dele.

Richard estava ali, encostado no batente da cozinha, me observando com os olhos semicerrados, como um caçador esperando a presa fazer o primeiro movimento.

— Amy — ele chamou, o tom preguiçoso, arrastado pelo uísque.

Meus pés colaram no chão. Minha garganta secou.

𝐓𝐑𝐔𝐒𝐓 | [𝑒𝑚 𝑟𝑒𝑣𝑖𝑠𝑎𝑜]Onde histórias criam vida. Descubra agora