No Coração da Selva

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       Nas profundezas da floresta Amazônica ainda existem recantos ocultos, até os dias de hoje, com segredos envoltos em uma bruma de mistérios. Tribos indígenas desconhecidas, animais não catalogados, lendas e mitos que permanecem vivos em meio à mata. Alguns; porém, ignoram os avisos, e se arriscam, perambulando por terras de segredos antigos, onde o folclore é vivo e pulsante.

       Martim era justamente um destes que desafiavam os alertas. Estudante de Biologia, fora com colegas do sudeste, para uma trilha ecológica na Amazônia com o objetivo de acampar na floresta e desbravar os segredos da selva em uma área ainda intocada pela civilização. Os habitantes da cidade mais próxima na qual haviam se hospedado, conheciam a região e advertiram o grupo sobre o local em que iriam se aventurar. Pois, com suas superstições e crendices populares, viam aquelas matas como assombradas; todavia os jovens estudantes se recusaram a crer em causos folclóricos; afinal, eram futuros cientistas, com mentes céticas e só acreditavam no que pudessem ver, medir e estudar.

       Após algumas horas de caminhada, no entanto, Martim que não era acostumado a exercícios físicos, ficou para trás em relação aos amigos, seguindo para fora da trilha, longe do grupo, até que não mais conseguiu localizar nenhum dos companheiros de estudos. E se viu perdido em meio à selva. Chamou pelos outros, mas não obteve resposta, e não sabia por onde seguir, pois não havia um caminho claro em meio às árvores. Assim, não havia alternativa a não ser embrenhar-se no seio da floresta, gritando em vão pelos amigos. Seu celular não tinha sinal e, agora, a selva que tanto sonhara era um pesadelo verdejante.

       Era pouco mais de meio dia, encontrava-se sozinho em meio à mata, ouvindo o zumbido dos mosquitos que lhe devoravam vivo... O calor era quase pungente e a sede castigava. Tinha por companhia apenas o canto das aves durante sua jornada. O povoado mais próximo ficava há quilômetros, precisava achar uma fonte de água e um caminho de volta. O desespero já se fazia presente, quando um som, de súbito, chamou sua atenção. O som de água corrente, fluindo em algum lugar a sua frente. Caminhou naquela direção com a alma enchendo-se de esperança, e seus olhos foram presenteados com a esplendida visão de um lago de águas cristalinas que era alimentado por uma queda d'água que vertia por entre algumas rochas. Algumas flores tropicais pontilhavam as margens do lago com uma miríade de cores vibrantes.

       Esqueceu-se de seus temores e despiu-se, correndo até ás águas a sua frente; detendo-se, porém, na margem ao ouvir o belo som de risos femininos. Tomado por certo pudor voltou, apanhou sua bermuda e vesti-a novamente, perguntado assustado:

       - Tem alguém aqui?

       E novamente, tudo era silêncio. Hesitante decidiu mergulhar sem tirar as roupas. Sentiu o frescor que a água continha inebriar lhe de alegria. Então, novamente ouviu o mesmo riso delicado. Martim olhou ao redor sobressaltado, vendo nas margens opostas, escondida atrás de uma árvore, uma bela jovem de pele morena.

       - Olá, moça! Tudo bem? Eu te assustei? – Estava envergonhado, temendo ter sido apanhado nu, segundos antes pela desconhecida.

       Ela apenas sorriu tímida, correndo para trás de outra árvore. Martim feliz com aquela presença, que podia lhe conduzir de volta à cidade, deu a volta no lago, aproximando-se da garota. Viu, então, que se tratava de uma bela índia. Não imaginava que houvesse uma aldeia por ali. A figura que se escondia por entre as arvores era quase divina, tamanho o esplendor de suas formas. Como as índias dos contos românticos, como a Iracema de José de Alencar, talvez até mais bela... Nua, magra e com a tez morena avermelhada, e corpo formoso, feições delicadas; mas, ao mesmo tempo, madura, um nariz perfeito, olhos negros profundos e misteriosos... E um lindo sorriso em uma boca, talvez também doce como o mel... Os cabelos negros e lisos desciam até a cintura, tendo uma franja à frente dos olhos.

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⏰ Last updated: Jul 31, 2020 ⏰

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