Os olhos, que já estavam ressecados -vermelhos e irritados- pelas mais de quatro horas colados na tela do computador, queriam fechar. Estava com muito sono. Já havia reproduzido quase toda a discografia do Aerosmith no player, dado muitos “tiros” no Doom e navegado por alguns sites interessantes na internet.
Olhou para o relógio na barra de ferramentas e colocou a mão direita sobre o mouse sem notar que a data, daquele mês de Novembro do ano de 1997, era mostrada no calendário e precedia um compromisso importante. Arrastou lentamente o ponteiro para fechar a janela da sala de bate-papo. O ícone minimizado começou a piscar antes que desligasse o computador. Não resistiu e clicou para abrir. Era difícil para ele acreditar que mais alguém poderia ter perdido os embalos de uma agitada noite de sexta-feira e sofria também, naquele exato momento, de uma insônia perturbadora. Não tinham faltado convites para curtir a noite com os amigos, mas estava com uns grilos na cabeça devido o fim de um relacionamento de quase três anos com Camila e, portanto, sem disposição para sair.
Na sala de bate-papo, o nickname ‘Misteriosa’ gritava em Caps Lock: - OLÁ! BOM DIA!
Bom dia? – pensou.
Estava tudo em seu lugar, observou em seguida, pois já não era mais sexta-feira. Havia passado da meia-noite. Ficou incomodado com a possibilidade de ignorar aquele apelo até que depois de algum tempo resolveu responder: - Oi.
A pressão constante da ex-namorada para firmar um noivado havia causado um desgaste enorme, suficiente para descartar qualquer possibilidade de um novo relacionamento, pelo menos por enquanto. Pelo menos por uns dois anos – era o que pensava na verdade.
“DE ONDE VC TC?” – perguntou a misteriosa interlocutora.
O ‘Último Romântico’ - sim, era este seu apelido no chat, apesar de ele próprio achar que não havia nada de romântico em sua personalidade - respondeu e assim rolou um diálogo por mais de cinquenta minutos. Porém, não tocaram em nenhum assunto relevante. Apenas trocaram os telefones no final da conversa para que pudessem manter a comunicação no dia seguinte. Nilo era ligado em música - rock’n roll -, videogames e baladas. Tinha vinte e dois anos de idade queria ser discjockey. Apesar da idade, não havia trabalhado sério ainda. Tocava nas festinhas dos amigos quando era convidado e também quando alguém levava uma mesa de som, pois ele não tinha dinheiro para nada, muito menos para comprar os equipamentos necessários àquela profissão. Não fazia nem um ano que havia terminado os estudos no colégio. Estava à procura de emprego e estudava todos os dias para prestar concursos, porém isso acontecia apenas nos raros momentos em que não se encontrava na companhia dos amigos.
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AS GARRAS DE NINA
Teen Fictionuma história de encontros e desencontros permeada de muitos mistérios que caberá a Nilo desvendar, além de perigos pelos quais todos correrão o risco de enfrentar. E meio a tantas dúvidas, existe a maior delas: Quem é Nina? Nilo terá que dividir sua...