Chapeuzinho Vermelho

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  Natan...

  O Sol já me queimava a face e coloria minhas bochechas de vermelho enquanto eu enchia o décimo balde d'água para o meu vilarejo.

  Embora tivéssemos feito há pouco um poço artesiano, a água provinda dele se mostrou ineficiente para suprir as necessidades de todos os moradores da vila. Portanto, aqui estava eu, às beiras do riacho, ajoelhado na terra obtendo água.

  Levantei-me e pus, com dificuldade, o balde pesado no gancho daquela engenhoca que levaria-o ao vilarejo.

  Virei-me de frente para o riacho, e passei as costas da minha mão em minha testa que já estava pingando suor. Meus músculos doíam pelo esforço físico que eu estava exercendo, o que eu queria, de fato, era simplesmente abandonar tudo ali e banhar-me naquele riacho tão bonito, mas inúmeros coelhos habitantes de Luna, meu vilarejo, precisavam dessa água que fui buscar. Portanto, eu tinha que terminar meu trabalho antes de mergulhar-me naquelas águas cristalinas. Sorri ao imaginar imergir naquele riacho geladinho. Que delícia!

  O calor fez com que eu abaixasse meu querido capuz vermelho, o qual me deu a fama de chapeuzinho vermelho – o que não faz muito sentido, já que é um gorro e não um chapéu, ué? –, fazendo minhas orelhas branquinhas saltarem e ficarem expostas ao exterior.

  Agaxei-me ao chão novamente, enchendo, assim, o penúltimo balde de água. Quando levantei-me, reparei que um balde vinha pela corda de cima da roda, o que significava que ele vinha do vilarejo. Ergui uma sobrancelha questionadora para aquilo.

  Firmei uma mecha rebelde de meu cabelo loiro à presilha de qual ele tinha fugido e pus o balde cheio, que eu segurava com minhas pequenas mãos, com delicadeza no chão para que a água que o preenchia não derramasse e desperdiçasse meu esforço. E então, fui analisar aquela situação.

  Será que eles me encaminharam mais baldes pra encher? Puxa, vida! Eu já estava exausto, não queria ter que trabalhar mais! Foi inevitável que eu resmungasse com essa possibilidade.

  Isso acabou me lembrando de minha mãe biológica, a qual sempre me arrumava mais trabalho pra fazer, mesmo que eu acreditasse que tudo esivesse perfeito. Ri com a lembrança, porém uma saudade dolorida latejou no meu peito...

  Como eu odiava lobos! São criaturas asquerosas!

  Afastei esses pensamentos e foquei no balde que vinha ao longe. Sem paciência para esperar-lo, puxei a corda na qual ele estava pendurado para que ele viesse mais rápido. O fato de eu ter me inclinado nas pontas dos pés colaborou para que eu caísse ajoelhado e ralasse minhas mãos e meus joelhos. Por sorte, eu não cai de cara no chão. Aliás, eu tinha um rosto belo demais para ele ficar marcado com cicatrizes e machucados.

  - Aí! - Reclamei ao arrumar minha posição para estar sentado e poder encarar minhas mãos e joelhos para analisar se eu tinha me machucado seriamente, felizmente, não. - Porcaria! - Tentei soprar meus machucados ardidos numa tentativa falha de fazer-los pararem de doer.

  Ignorei aquela dorzinha chata e pus-me de pé, passei minhas mãos raladas pelas minhas roupas com o intuito de limpar-las da terra, mas até mesmo esse ato tão simples e leve fez minha mão doer.

  Sinceramente, quem criou "ralados"? Não são nem um machucados direito, mas são capazes de serem verdadeiramente desagradáveis. Se eu pudesse classificar-los, colocaria eles juntos com cortes de papel!

  Ao levantar meu rosto, notei que o balde estava próximo a mim. Sorri satisfeito.

  - Pelo menos isso. - Comentei animado ao me esticar para buscar o balde.

O Lobo Se Apaioxonou Pelo Coelho...Onde histórias criam vida. Descubra agora