1 - Férias na fazenda

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Da varanda do casarão,os primos olhavam desanimados a chuva que não parava: Hugo, Zé Beto, Marcinha, Gina e Lelena.

  Viam todos os planos indo por água abaixo. Férias na fazenda... Tanta espera, tanta conversa, tantos dias arrumando as malas! Desde antes do Natal.

  A fazenda era famosa. De uns tios. Gente antiga, fazenda velha. Rio, cachoeira, gado, plantações, mata, pomar...Há quanto tempo queriam conhecer!

  Mas, no dia em que chegaram, o céu já estava escuro. De noite, trovoadas de assustar. E a chuva começou. Chuvarada. Há mais de uma semana.

  Lá fora, só água e barro. Estrada de barro, casa afundada na lama. Touceiras de capim afogadas em poças do tamanho de lagoas. Árvores lavando as saias repolhudas no chuveiro. Mais longe, só brancura de água caindo. Só barulho de chuva, noite e dia.

Adeus, passeios a cavalo! Adeus, banhos de cachoeira... Adeus, tudo. Não tinham nada para fazer. Toda manhã, acordavam, e era o mesmo desaponto.

  Marcinha tinha trazido uns jogos, mas, depois de uns dias, todo mundo já estava enjoado.

  A casa na fazenda era grande, cheia de corredores e quartos fechados que os tios não ocupavam mais, depois que os filhos tinham ido embora. Resolveram explorar aquelas partes vazias e fechadas, onde ninguém entrava.

  Foram juntos. Não confessavam, mas ninguém estava disposto a entrar sozinho nos quartos antigos, meio escuros, com móveis pesados. Assoalho que gemia debaixo dos pés...

  No primeiro quarto, viram uma arca enorme. Fecho meio enferrujado. Mas dava para abrir. Abriram. Um monte de roupa dobrada. Cheiro de antigo, misturado com um perfume bom...

  - Hum! Que cheiro é esse? - perguntou Marcinha.

  - Baunilha! Olha as bagas de baunilha! Usam aqui, pra conservar as roupas - informou Lelena.

  - Que delícia!

  Estavam começando a remexer na arca, quando Lelena, que tinha ouvido tantas vezes a mãe contar casos da fazenda, lembrou:

  - Gente, acho que aí é que está o vestido de casamento da nossa bisavó! Diz que é lindo, todo de renda francesa...

  - Vamos ver? - propôs Marcinha, assanhada.

  Lelena continuou:

  - Só que ouvi contar que uma vez uma hóspeda veio fuçar esta arca e achou o vestido. Ficou maravilhada. Vestiu e começou a dançar na frente do espelho. De noite, acordou com uns passos dentro do quarto. E viu o vulto de uma velha chegar perto da cama, reclamando, com aquela voz do outro mundo: " - Por que você mecheu no meu vestido? Ele é meu, só eu que posso usar!". Diz que no outro dia a moça levantou pálida, de olheiras... Contou, aos cochichos, o que tinha visto. tremendo, quase chorando. Depois, fez as malas, foi embora... Nunca mais voltou.

  Mais que depressa, os meninos puseram as roupas de novo na arca e saíram rapidinho, fechando a porta com a chave grandona que estava na fechadura.

  Foram para outro quarto. Cheio de estantes de livros e revistas velhas. Os livros eram quase todos de estudo, ou então romances antigos. Grossos, de capa escura, letra pequena, sem figuta nem graça nenhuma. Mas as revistas, que sucesso! Gozadíssimas, umas fotos antiqüérrimas, gente fora de moda, com roupas estranhas, fazendo aquelas poses superbregas. Sentaram no chão, passando as folhas e dando risada.

  Nisso, Gina, que continuava a xeretar a estante, falou:

  - Gente, o livro que eu achei! Maravilhoso! Olha as figuras! As cores! Nunca vi um livro tão bonito! Pena que só tem um pedaço!

  Os outros vieram ver.

  - A menina de cabelo azul... A figura dela aqui! Que linda!

  - Vamos ler a história? Lê pra gente aí,  Gina.

  Ela abriu na primeira página e começou:

A Menina de Cabelo AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora