A Menina de Cabelo Azul

6- A História de Hugo

No dia seguinte, logo depois do café, os meninos se reuniram.

- E então, Zé Beto? Como vai a história? - Marcinha provocou.

- Vai indo - Hugo respondeu. - Já escrevemos um capítulo. E vocês?

- Nós também escrevemos um pedaço!

- E aí? Quem lê primeiro? - Disse Gina.

- Bom - respondeu Hugo, todo preocupado. - Eu achava melhor esperar um pouco... até ter tempo de escrever mais... Por enquanto nossa parte está meio atrasada...

- Não tem nada disso não! - cortou Marcinha. - Nós combinamos ler cada parte todo dia!

-É mesmo! - concordou Zé Beto. - Por que você está tímido, Hugo? Vamos à obra-prima!

- Você é engraçado, hem, Zé Beto? - Hugo começou, mas logo se arrependeu. Não queria perder seu único aliado, ainda mais um aliado gozador como Zé Beto. Tinha esperança de dar um jeito nele. Mudou de assunto: - Então vamos tirar a sorte, pra ver quem começa?

Feito o sorteio, saiu o papelzinho escrito: "MENINOS" .

Hugo não teve mais desculpas. Pegou seu caderno e começou a ler:

Viviana ouvia essas histórias, mas não dava importância. Aliás, ela já estava cansada de ouvir todo dia a mesma coisa. Deixava Babá falar, porque sabia que ela gostava de contar aquilo, mas seu pensamento ia para outros lugares. De vez em quando, achava os lances fantásticos demais, e sorria escondido.
- Essa Babá... - pensava. - Cada dia sua imaginação trabalha mais. Acho que é porque vive aqui tão sozinha, só agente na fazenda... Está saindo da realidade. Daqui a pouco, vai começar a ouvir vozes e passinhos toda noite, e vai dar trabalho!
A parte da história que Viviane achava mais engraçada era quando Babá contava que tinha entrado no quarto e visto um lindo bebezinho com q cabeça coberta de penugem azul. Imagina só! Penugem azul! Com certeza tinha sido efeito de algum relâmpago, ou então da luz do quarto... Penugem azul! - " Que horror, se eu tivesse cabelo azul!" - Viviana pensava, enquanto passava a mão por seu lindo cabelo comprido e castanho.

- Epa! - gritou Lelena. - Esta, não! Você está mudando a história!

- E daí? - defendeu-se Hugo. - Sou eu que estou escrevendo! Posso fazer do jeito que quiser!

- Nada disso! - Lelena insistiu. - Nossa combinação era pra continuar a história, não pra inventar uma história nova!

- Claro! - Marcinha concordou. - E o cabelo azul de Viviana é a coisa mais importante! O nome do livro não é A menina de Cabelo Azul? Como é que você começa mudando isso?

- E como é que eu vou escrever uma história racional com uma menina de cabelo azul?

- Problema seu! Ninguém te mandou escrever uma história racional. Isso foi você que inventou. A história tem que ser de uma menina de cabelo azul!

A discussão esquentou. Todas as meninas exigiam que o cabelo continuasse azul. Hugo teimava que podia fazer do jeito que quisesse.

- Aquela Babá tinha alucinações! - ele dizia. - Não ficava o di inteiro ouvindo vozes? Isso é coisa de gente doida! Foi ela que enxergou cabelo azul na menina!

- Nada disso! Esse negócio das vozes, você ainda pode falar que era imaginação. Mas o cabelo azul é o assunto principal da história!

O único que não dava palpite era Zé Beto. Espichado na cadeira, ouvia tudo sorrindo. Hugo percebeu aquilo, e resolveu apelar para ele. Afinal, era seu aliado.

- Não é, Zé Beto? Essas meninas não estão continuando com as bobagens de ontem?

Zé Beto não redpondeu. Ficou rindo.

- Hem, Zé Beto? Fala aí o que você acha!

Depois de alguns minutos, Zé Beto, com a maior cara de pau, coçando a cabeça, falou devagar:

- É, Hugo. Acho que as meninas estão certas. Afinal...

- Aaaaah!... - interropeu elas, gloriosas.

Hugo ficou danado:

- Traidor! Também, você não fez nada! Enquanto eu tive todo o trabalho de escrever, ficou na porta do quarto, olhando televisão! Nem leu a nossa parte!

Zé Beto sorria:

- Não, é porque, afinal de contas, as notícias de ontem eram muito importantes... Não resisti!

- Mentiroso! Preguiçoso! - Hugo estava furibundo.

- Calma, Hugo! Fica sossegado, que hoje eu vou te ajudar. Agora, esse negócio de cabelo azul...

Hugo não aguentou e saiu da sala, batendo a porta.