Prólogo

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Era um dia claro e sem nuvens, o sol forte centralizado no céu queimava minha pele, indicando ser uma tarde de verão. Quando percebo, estou numa rua longa e deserta, nunca havia visto aquele lugar, mas um sentimento inundava meus pensamentos, um sentimento de pressa, pois havia pouco tempo para cumprir minha tarefa.

Correndo naquela rua comecei a perceber mais detalhes, algumas casas começaram a ficar familiares, umas grandes, outras pequenas, mas todas mantendo o mesmo padrão de grandes portões que isolavam a residência por completo do mundo exterior, janelas grandes e quadradas que facilitavam que os moradores vigiassem o que estava acontecendo do lado de fora. Tudo parecia normal, mas mesmo com tantas janelas, não se via ninguém, não se ouvia ninguém, o único som que se podia ouvir era o da minha respiração ofegante e o bater dos meus pés no solo.

Enquanto corria, percebi que o final daquela rua estava se aproximando, dando lugar para um cruzamento que a cortava, virando para a esquerda e depois para a direita. "Eu precisava continuar, não havia muito tempo".

Com esse pensamento, continuei correndo seguindo pelo cruzamento, mas ao virar para a primeira a direita, pude ver um pequeno campo de futebol coberto de areia que se estendia a frente da rua. Por algum motivo me senti calmo, quase como se estivesse recordando a infância, mas no segundo seguinte, quando meus olhos voltaram para o caminho a frente, senti um arrepio que congelou meu corpo. Naquele momento, mover qualquer parte do meu corpo, bem como respirar se tornou algo impossível. Logo ali, há alguns metros de mim, um leão se deliciava com a carcaça de algo que parecia ser um cachorro, mas seu corpo estava tão dilacerado, com suas entranhas expostas manchadas pelo seu próprio sangue, que parecia apenas um monte de carne uniforme.

Aquele animal era enorme, seus pelos marrons deixavam ainda mais evidente uma imensa cicatriz que se estendia por todo lado esquerdo de seu corpo. Sua juba era densa e cobria sua cabeça com pelos brancos e cinzas. Aquilo era impossível, o medo percorria meu corpo impedindo que conseguisse pensar direito, mas não podia ficar ali, eu precisava continuar. Dei um passo.

Ele não me viu, estava ocupado demais se deliciando com a sua refeição. Dei outro passo.

Enquanto caminhava tentei me esgueirar no muro que acompanhava aquela rua. Só precisava virar a próxima à esquerda que teria alguma chance de continuar. A cada passo que dava, era como se o chão estivesse quase se abrindo sob meus pés, o medo percorria meu corpo fazendo minha boca ficar seca como jamais havia sentido antes, meu coração pulsava forte em meu peito, quase como se pudesse ser ouvido ao longe, um pulsar contínuo e acelerado.

Aos poucos caminhava e me aproximava do animal, um passo de cada vez, lento e contínuo, para que não chamasse a sua atenção. Quando consegui chegar na curva que a rua fazia para a esquerda e ver o restante do caminho, a esperança voltou a encher meu peito de energia. "Eu consigo, só preciso correr".

Corri o mais rápido que pude, faltava pouco, eu iria conseguir. Enquanto corria, deixei por um instante em pensar em qualquer coisa, toda a minha atenção e energia estavam focados em terminar aquele caminho, mas então veio um som ensurdecedor, como se um raio caísse atrás de mim como um rugido. Ele me viu. Virei o rosto como num reflexo do meu corpo, pude ver aqueles imensos olhos amarelos olhando fixamente para mim, estava completamente imóvel, mas atento em cada detalhe.

Eu continuava a correr, o mais rápido que podia, já não havia mais outra coisa que poderia fazer além disso. Então, no instante seguinte, sinto um peso nas minhas costas me empurrando para frente. Sem controle, caio conseguindo apenas proteger meu rosto com meus braços. Tudo começou a rodar, era impossível saber o que estava acontecendo, mas quando finalmente meu corpo parou, eu estava ali no chão, sem conseguir mover um único musculo, tendo apenas a imagem do céu claro e sem nuvens.

Distancio meu olhar com calma, movendo apenas a cabeça para o lado, a meio metro de distância, o leão me olhava, como se saboreasse a refeição que estava por vir.

Não sentia dor, não sentia nada, apenas o medo por ver aquela fera se aproximando lentamente de mim, com sua boca coberta de sangue do cachorro que lhe servia de alimento. Fechei os olhos, não podia continuar vendo aquilo, mas mesmo com eles fechados, conseguia ouvir sua respiração ficando cada vez mais perto.

Um barulho agudo e ensurdecedor surge próximo de mim, me forçando a abrir meus olhos. Então percebo um teto branco sobre mim, que aos poucos vai se tornando cada vez mais familiar. Estou no meu quarto, com o despertador tocando, foi apenas um sonho.  

PresságioWhere stories live. Discover now