Presságio

Capítulo : Despertar

O despertador do meu celular continua tocando, mas demoro um pouco para me levantar para pegá-lo. Continuo ali, deitado na cama olhando para meu teto branco, olhando distante, tentando me lembrar de cada detalhe do que havia sonhado. Isso é estranho, normalmente me esqueço dos meus sonhos, na verdade, muitas vezes penso que nunca tenho algum sonho, mas com esse é diferente, cada detalhe permanece fixo em minha mente. Tudo foi tão real que mesmo depois de ter acordado, aquilo continua não parecendo um sonho.

Como num despertar de um transe eu me levanto e desativo o despertador, finalmente silenciando meu quarto. Um novo dia está começando, um longo novo dia.

Enquanto estou ali, em pé em frente à minha cama, olho ao redor e percebo a bagunça que meu quarto está. Reparo que as roupas da noite anterior estão jogadas no chão, logo ao lado da cama em que estava dormindo. Sem pensar muito sobre isso, vou caminhando lentamente para o banheiro com o corpo curvo, como se o peso do mundo estivesse em minhas costas. Sinto como se não tivesse conseguido dormir nessa noite, estou cansado e com o corpo todo dolorido. Olhar para o espelho foi como confirmar que não consegui dormir durante a noite, as olheiras ao redor dos meus olhos estão mais escuras que o normal, quase como se não dormisse por várias noites, mas isso não disfarça meus cabelos bagunçados, indomáveis que nunca ficam no lugar quando os penteio. Nunca consegui ter o penteado que desejava, então nunca liguei muito para isso.

Enquanto escovo meus dentes continuo olhando para aquele reflexo, que me encara com tanta curiosidade, quase como se estivesse respondendo ao meu olhar. Apesar de já ter completado 16 anos, ainda não há sinal de que crescerá alguma barba em mim, tenho apenas alguns fios isolados no meu rosto. Isso já virou uma rotina, todo dia de manhã olho atentamente para ver se começou a crescer algo, talvez por causa das minhas bochechas, sempre tive a esperança de que quando começasse a crescer barba em meu rosto, disfarçaria minhas bochechas magras. Terminando de escovar os dentes, com as mãos ainda molhadas pela água fria que escorre pela torneira, tento arrumar meu cabelo, numa tentativa de deixá-lo menos bagunçado, mas não sinto grande diferença. "É, agora estou um pouco mais apresentável". Com esse pensamento, me dirijo de volta ao meu quarto para me trocar, não sei o que vestirei, mas nunca saio do padrão de roupas.

Entrando de volta no meu quarto, me deparo com meu guarda-roupas marrom, surrado pela idade, uma herança que herdei da minha falecida avó. Ao abri-lo percebo que também não está muito bem organizado, tendo várias revistas jogadas nas gavetas junto com outras tantas camisetas. Mais do que nunca, preciso limpar meu quarto, mas aquela não era hora para isso, posso fazê-lo depois. Pego uma camiseta cinza com detalhes brancos e uma calça jeans azul escuro. Essa combinação de cores sempre me agradou. Para terminar, pego um sapato preto que estava escondido embaixo da cama e finalmente termino de me arrumar. Não parece, mas já se passaram 20 minutos e estou quase atrasado para sair. Pego então minha mochila e coloco às pressas uma blusa preta que estava jogada no chão ao lado da minha cama. Não estou com frio, mas não sei se esfriará no decorrer do dia.

Na cozinha me deparo com um bilhete em cima da mesa, a letra familiar já indicava seu autor antes mesmo que eu começasse a ler.

"Diogo, deixei arroz e feijão prontos no forno. Tem também frango na geladeira, você só precisa fritar. Não esquece de almoçar antes de ir para o trabalho. Sua mãe te ama!"

Ler aquilo me faz ter um leve sorriso. Não vejo muito a minha mãe por causa dos nossos horários, como ela trabalha em um hospital, sai para trabalhar muito cedo e eu ainda estou dormindo. Mas quando eu chego, sempre perto de onze horas da noite, é ela que está dormindo. Por causa disso, nos comunicamos por bilhetes que deixamos em cima da mesa para quando o outro chegar.