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Essa oneshot foi inspirada na música "Oh My God" do (G)idle, e nos filmes "A Bruxa" e "Suspiria". É um lado diferente da minha escrita, que nunca mostrei antes. É meio subjetivo e abstrato, mas espero que gostem.
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Eu me sentia como num sonho. Ou talvez num pesadelo, não sei. Com ela, as linhas que separavam os opostos pareciam se tornar tão tênues que poderiam desaparecer. Nada parecia real, tudo era tão etéreo, mas eu podia sentir tudo, no fundo nos meus ossos. Com ela, o céu encontrava o inferno, a lua se colidia com o sol, e o pior dos pecados parecia com provar o mais doce mel. Ela própria se parecia com o mais belo anjo e seus toques eram como a brisa da aurora. Mas se ela era mesmo um anjo, só poderia ter sido expulsa do Éden. 
Quando a lua atingiu o topo do céu, eu me vi entre as árvores. O vento frio da madrugada arrepiava todo o meu corpo, que de repente, estava nu. Senti o calor nas minhas mãos e o vermelho do sangue refletiu sob a luz do luar, tão vivo e quente que poderia ser o meu próprio. Então eu vi os olhos dela brilharem como os de uma criatura que parecia bela demais para pertencer a esse mundo. Ela flutuou até mim e com as mãos feito uma pluma, tocou o meu rosto e eu me vi completamente enfeitiçada (ou deveria dizer “amaldiçoada”?). Seus toques me causavam êxtase, e sem qualquer esforço, eu me via completamente devota àquela criatura. Eu não sabia de onde ela tinha vindo, ou a primeira vez que a tinha visto. Mas ela poderia ser o que os antigos chamavam de bruxa. Ela poderia ser Afrodite, Nix ou Gaia. Poderia ser Lúcifer ou Lilith. Poderia ser um anjo caído, ou o próprio diabo. Ela era o começo e o fim de tudo, e eu estava em suas mãos. Ela se aproximou ainda mais e sussurrou algo em uma língua que eu não conhecia. Se aproximou tanto que nossos seios se tocaram eu pude sentir sua pele fria, sem qualquer traço de vida, se chocar contra a minha. Os dedos que tocaram minha bochecha, agora caminhavam até os meus lábios, e eu apenas sentia tudo, com meus olhos fechados. Sua outra mão tocou a minha esquerda, suja com o sangue escarlate que contrastava com minha pele pálida. Então, ela guiou minha mão até meus lábios e eu abri meus olhos para ver os seus negros refletindo sobre mim como dois diamantes. E hipnotizada pelo brilho deles, eu senti o gosto do sangue na minha língua, que imediatamente, ele se transformou em vinho. Ela levou meu dedo indicador até a própria boca e pareceu apreciar o sabor. Então, como a força que a lua exerce sobre as ondas, ela colou nossos lábios num beijo, o meu último. Tão intenso que me senti sendo levada aos céus. Seus dedos percorriam pelo meu corpo e eu me sentia totalmente tomada pelo seu feitiço. Ela me tocava como se conhecesse cada ponto do meu corpo como se fosse dela. E talvez de fato fosse. Eu já não sentia o chão debaixo dos meus pés. Sua mão percorreu meus seios e eu sentia minha energia sendo sugada para a infinidade do céu escuro. Seus lábios eram impossíveis de abandonar. Nunca em toda a minha breve vida tinha sentido algo como aquilo. Não havia palavras em qualquer língua viva, ou morta que fossem capazes de descrever a sensação de estar caminhando pelas escadarias do paraíso. Céu e terra se abriam. Nada mais era o mesmo. Quando ela desapareceu como fumaça, eu me vi entre as árvores, mas agora, eu olhava pelo topo delas. Eu estava flutuando e podia ver as estrelas sobre mim. Minha alma estava em paz, agora que pertencia a ela. Debaixo de mim, eu via a fogueira e a minha volta as outras mulheres que assim como eu tinham sido enfeitiçadas pela sua canção, que agora tinha se tornado a única oração que eu jamais conheci.

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