O inverno de 1553 castigava os habitantes da vila com seu frio implacável, mas Katherine, mesmo tão pequena, parecia alheia às gélidas rajadas que entravam pela janela quebrada. Sentada no chão de madeira desgastada, ela segurava uma boneca de trapos, encarando-a como se tentasse decifrar algo oculto. Naquele momento, sua mente começava a despertar para algo que ela ainda não compreendia.
Foi quando a porta rangeu, e seu tio entrou. O olhar dele, sempre sombrio, fazia seu estômago revirar, mesmo que ela não entendesse o porquê. Ele murmurava algo enquanto despejava lenha no chão, mas Katherine não precisou ouvir. As palavras, como uma onda silenciosa, invadiram sua mente.
"Essa menina... Tem os olhos dela. Maldita criança. Ela nunca deveria ter nascido."
Katherine piscou, confusa. Ela não ouvira com os ouvidos; as palavras vieram de outro lugar. Algo profundo dentro dela sabia que era errado, mas ao mesmo tempo, tão natural quanto respirar. Com apenas três anos, ela compreendeu o que estava acontecendo – não por lógica, mas por instinto.
Mais tarde, sozinha em seu canto, abraçou a boneca com força enquanto lágrimas quentes desciam por suas bochechas. O medo era um peso que esmagava seu peito. Se o tio soubesse que ela podia ouvir seus pensamentos, faria com ela o mesmo que fizera com sua mãe. Ela apertou os olhos e jurou, com toda a força que uma criança poderia reunir, que nunca diria uma palavra sobre o que ouvira ou sentira.
Daquele dia em diante, Katherine começou a ouvir mais – não apenas do tio, mas das pessoas da vila. Pequenos fragmentos de suas mentes, pensamentos soltos que ela não sabia como controlar, mas que aprendia a ignorar. Era como um segredo que ela não queria, mas que a acompanharia para sempre.
E, embora ainda não soubesse, aquele momento seria o primeiro passo para se tornar a criatura mais poderosa que o mundo já conhecera.
![](https://img.wattpad.com/cover/220251775-288-k280725.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sólida - O Princípio da Eternidade
FanfictionQuando um predador escolhe sua presa, não há escapatória. Talvez, com um pouco de sorte, a caça consiga enganar a morte certeira. Mas uma coisa é certa: Aquele que é caçado, nunca conhece a paz! "Como uma presa que se vê cercada, jamais saberia se o...