Rápido, começo a correr pela floresta. Eles são vampiros. Conseguem me alcançar com facilidade, por isso não posso perder tempo.
Ouço o grito de Caius e acelero o passo, cada vez mais rápido.
Eu corria desesperadamente, olhando para trás a todo momento, tentando perceber se ele estava muito perto. Meu corpo estava fraco, mas eu continuava, ignorando a dor. Podia ouvir o som de seus passos rápidos logo atrás de mim, o eco da sua respiração, ainda humana, mas já distante da minha.
Os galhos das árvores se cravavam em minha pele, deixando leves escoriações, mas eu não me importava.
Meu corpo inteiro latejava de dor, minha visão estava embaçada, e o som das batidas do meu coração disparado parecia ensurdecedor. Acabei perdendo o foco por um instante e, quando dei por mim, tropecei. Talvez fosse um galho, ou uma pedra. Pouco importava. Meu corpo despencou no chão, causando uma dor ainda mais aguda do que antes.
Com dificuldade, me arrastei para os arbustos e me escondi. Respirei fundo, a cabeça latejando, os olhos se forçando a se manter fechados.
Eu mordia os lábios com força, tentando ignorar o pânico, quando senti um puxão forte, um frio cortante na barriga. Meu corpo parecia sair do chão, e ao abrir os olhos, vi uma luz intensa ao meu redor, me envolvendo por completo. O impacto da queda fez meu corpo se chocar contra a grama, e, ao olhar ao redor, fiquei extasiada, confusa e, ao mesmo tempo, irada.
Eu estava em outra parte da floresta. O céu escurecia lentamente, o sol estava se pondo naquele exato momento.
— Vamos, olhos azuis, apareça! — Ouvi aquela voz asquerosa e, com o coração disparado, retomei a corrida, apesar de sentir a dor me invadir novamente.
Era uma tentativa indomável de escapar daquela maldita floresta, encontrar uma estrada e fugir daquele louco. Mas, novamente, tropecei.
Dessa vez, no entanto, não era um galho ou uma pedra. Eu tropecei em algo mais, algo... humano. Um corpo. Ele me encarava com os olhos esbugalhados, as órbitas avermelhadas e o rosto sujo de lama.
Meus olhos não acreditavam no que viam, mas, estranhamente, aquilo não me surpreendia, não me apavorava. Simplesmente não me trazia mais sentimento algum.
Respirei fundo, virei o corpo para o céu avermelhado pelo pôr do sol e fechei os olhos brevemente, sentindo meu peito subir e descer enquanto a respiração se controlava, lenta e pesada.
Algum tempo havia se passado, e eu não movi um músculo sequer. Os pensamentos de Harry e Caius invadiram minha mente. Naquele instante, eu sabia. Eles estavam por perto.
Eu sabia que eles estavam me caçando. A presença deles era como uma sombra, sempre próxima, sempre ameaçadora. Mas algo estava diferente agora. Eu conseguia sentir as intenções deles, ouvir as palavras não ditas em suas mentes, como se a conexão com eles fosse mais forte do que nunca.
Respirei fundo novamente, tentando reunir o pouco de força que me restava. Meus olhos se abriram, e o céu ainda estava tingido de vermelho, a noite começando a tomar conta da floresta. O som da minha respiração ofegante preenchia o ar, mas, em meio ao caos, havia algo em mim que se aquietava. Era como se eu soubesse que esse momento de silêncio não duraria muito.
De repente, a sensação de uma presença muito próxima me fez tensa. Olhei rapidamente para trás, os galhos das árvores balançando ao vento, mas o que eu sentia não era normal. Não eram só os passos de Caius ou Harry. Havia algo mais, algo que eu não conseguia identificar, mas que estava prestes a se revelar.
Não adianta fugir, Gray.
A voz de Harry invadiu minha mente, mais nítida e fria do que antes. Eu queria ignorá-la, mas a dor da revelação ainda estava fresca em meu peito. Eu sabia que ele estava falando a verdade. Fugia de algo que era maior do que eu, algo que não conseguiria escapar. Mas não era só isso. Eu não iria me deixar ser caçada como um animal.
A escuridão da floresta parecia me engolir por completo quando, de repente, ouvi o estalo de galhos quebrando ao longe. Era Caius. Ele estava chegando. A rapidez de seus passos fazia os galhos se curvarem como se ele estivesse em outro plano, quase indetectável. Mas eu sabia que ele estava ali, tão perto quanto o ar que eu respirava.
Meus olhos se focaram em algo à frente, um pequeno declive que levava a um campo aberto. A única chance que eu tinha era correr até aquele espaço e tentar me esconder à luz do luar. E foi o que fiz. Com a dor queimando meu corpo, com as pernas quase cedendo, dei o último impulso que consegui e alcancei a borda da floresta.
Foi ali, naquele campo, que eu finalmente ouvi o som que me petrificou: os passos rápidos de alguém se aproximando, mas agora, não era apenas um, eram dois. Harry estava logo atrás de mim, mas Caius... Caius já estava à minha frente.
Eu parei, ofegante, sentindo as batidas rápidas do meu coração se acelerando ainda mais. A escuridão do campo parecia mais densa, e a presença de Caius se intensificava com cada passo que ele dava em minha direção.
"Você acha que pode escapar?", sua voz era suave, mas o veneno de suas palavras era palpável. "Eu sempre sabia que você seria a chave. Você nunca foi apenas uma simples mortal, Gray. Agora, você vai entender o que significa ser parte da nossa verdadeira natureza."
Com a sensação da presença de Caius se aproximando ainda mais, meu corpo parecia se mover por instinto. Cada respiração era pesada, cada batida do meu coração me lembrava o quanto eu estava longe de escapar. Olhei ao redor freneticamente e, ao avistar um penhasco à frente, uma ideia louca e desesperada surgiu na minha mente. Não havia mais esperança, nem força para continuar fugindo. Era melhor terminar com tudo.
Em um impulso final, corri até o penhasco. O vento batia contra meu rosto, mas não me importava. Não havia mais escolha. Olhei para baixo, para a queda profunda, e um vazio gelado se formou em meu estômago. Era isso. Talvez a morte fosse a única fuga.
Sem hesitar, dei um passo para trás, então corri e me joguei para frente, meu corpo mergulhando no abismo, a sensação do vento cortando meu rosto e a liberdade sendo tomada por um medo profundo que tomou conta de mim.
O chão não veio. Em vez disso, senti um impacto violento, mas não com a terra. Algo me segurou no ar, como se uma força invisível tivesse me puxado de volta. Caius estava ali, tão perto. Mas não era ele que me segurava. Era Harry. Ele me envolveu em seus braços, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, seu corpo me apertou contra o dele. O calor do seu toque parecia um contraste cruel com o frio que se espalhava por mim, mas eu não conseguia mais reagir.
— Não, Gray... você não pode fugir... — Sua voz sussurrou, cheia de algo que eu não consegui identificar, mas que me cortou por dentro.
Eu tentei me afastar, mas minhas forças estavam se esvaindo rapidamente. O abismo dentro de mim era imenso, e as lembranças, as imagens de todos os momentos em que eu desejei a liberdade, agora se desfaziam como fumaça.
Então, ele se aproximou, seus olhos fixos nos meus, e, antes que eu pudesse protestar, senti a dor que eu sabia que estava prestes a vir. Ele mordeu.
A dor que senti foi indescritível. Era como se meu sangue estivesse sendo sugado diretamente das minhas veias, cada célula do meu corpo sendo destruída e reconstruída de uma forma que não podia compreender. A mordida em meu pescoço foi profunda, e a pressão de seus dentes me fez gritar, mas o som foi abafado pelo calor de sua boca, as presas afiadas cortando minha pele com uma precisão aterradora.
Era uma dor aguda, fria, imensa, como se meu corpo inteiro estivesse sendo dilacerado. Eu sentia como se estivesse sendo consumida por dentro, meu corpo queimando com a intensidade de um fogo desconhecido. Como se minha alma estivesse sendo arrancada de mim.
Foi tão rápido. A dor quase me fez perder a consciência, mas eu consegui manter os olhos abertos, vendo o rosto de Harry, pálido e imutável, agora próximo ao meu. Seus olhos estavam fixos nos meus, e eu pude ver algo ali — talvez arrependimento, talvez compaixão — mas o veneno que estava sendo injetado em meu sangue não me deixou mais espaço para tais sentimentos.
Senti minha visão se embaçar, o mundo ao meu redor se tornando um borrão de sombras e luzes. Meu corpo estava em chamas, e a sensação de estar morrendo se misturava com uma nova sensação — a de estar renascendo. Mas como? O que estava acontecendo comigo?
Eu já não sentia mais os galhos da floresta batendo contra minha pele, nem a dor das minhas escoriações. Meu corpo estava se tornando algo... diferente, e não havia mais retorno.
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Sólida - O Princípio da Eternidade
FanficQuando um predador escolhe sua presa, não há escapatória. Talvez, com um pouco de sorte, a caça consiga enganar a morte certeira. Mas uma coisa é certa: Aquele que é caçado, nunca conhece a paz! "Como uma presa que se vê cercada, jamais saberia se o...