A Casa

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    Fomos acompanhados pelos olhos curiosos até o final da rua, que era onde a nossa “nova” casa estava localizada.

    A casa destoava completamente das outras casas. Bem, não era uma casa, era uma mansão com direito à chafariz. Enquanto o carro ia se aproximando da mansão e se afastando das pessoas que me metiam medo eu ia tentando me acalmar.

    Tudo bem, vou passar um mês em uma mansão. Talvez eu nem tenha que lidar com os esquisitos da cidade. Um mês passa depressa, não? Estamos em fevereiro, tem menos dias. Vai passar bem depressa.

    Quando o carro parou diante da mansão eu fiquei com medo. Teria que descer do carro e as pessoas ainda estavam paradas, nos encarando, com cara de poucos amigos.

   -Venha, Liana. –Minha mãe chamou do lado de fora do carro.

    Bem, eles não tinham feito nada com os meus pais. Eu estava exagerando novamente. Na certa só estavam nos encarando pelo simples fato de não ter carros na cidade. Bem, pelo menos eu não tinha visto nenhum. A não ser que considerem carroças como carros.

   Saí do carro e fiquei encarando a mansão com os meus pais.

   -Podemos voltar? –Perguntei. –Não tenho um bom pressentimento em relação à nada disso.

    -Pare de besteira. –Meus pais disseram juntos.

    -Não consegue sentir a mansão te abraçando? –Minha mãe falou. –É como se ela tivesse esperando pela gente por muito tempo. Como se estivesse feliz por nos receber, finalmente.

    Ela estava falando sério? Minha mãe devia estar fumando alguma coisa. Tudo o que eu sentia olhando para a mansão era arrepio nos pelos da nuca. Alguma coisa dentro de mim gritava para que eu abandonasse aquele lugar. Gritava mesmo. Quando fui dar um passo para frente, para poder entrar na mansão, acabei dando um passo involuntário para trás.

    Eu não pertenço a esse lugar. Pensei antes de dar um passo para frente.

    -Vocês estão aqui! –Disse um homem, na certa o corretor que alugara a casa, veio na nossa direção.

   Ele estava parado diante do chafariz mais horroroso que eu já vira na vida.

    Olhando do carro parecia uma coisa legal, mas de perto...

    O chafariz era a estátua de uma mulher gorda sem um dos olhos. Depois de olhar para a estátua por mais tempo percebi que o olho que faltava na mulher estava preso em sua mão. Era pelo olho, ou onde ele deveria estar, que saia a água.

    Eu não gosto desse lugar.

   -Já estava ficando preocupado pensando que deixariam essa oportunidade de ouro passar mais uma vez. –O homem disse. –Várias pessoas queriam alugar a casa para ver o cometa, mas recusei todos para que vocês pudessem vir.

   Meus pais riram.

   -Muito obrigado, Thomas. –Minha mãe disse.

   -Sei o quão importante isso é para vocês. –Ele disse. –Acho que de todas as pessoas na terra vocês são as que merecem mesmo ver o cometa. É a vida de vocês...

    -Verdade. –Meu pai disse.

    Ele adorava quando as pessoas falavam sobre suas pesquisas. Se não houvesse a gravidade, ou se ele tivesse um par de asas, ele teria flutuado com os elogios que Thomas fez para toda a pesquisa que ele e minha mãe tinham feito durante a vida.

    -...Caçadores de cometas. –Foi o que ele disse por último. Estava fazendo o máximo para não captar nenhuma linha de todo aquele “puxasaquismo”. Eles já tinham alugado a casa. Ele só precisava entregar a chave e ir embora.

Nightmare - O CometaOnde histórias criam vida. Descubra agora