Encabulado

Abraço

"Aff, que cansaço!"

Gon exclamou assim que se jogou na cama do hotel que havíamos alugado, ele estava exausto, estávamos naquela missão á três dias. Eu estava bem, acostumado a passar tanto tempo acordado, mas ele não, ainda por cima tivemos uma briga bem feia que podia ter se tornado algo sério, então não o culpava por estar extremamente cansado. Mas...

"Que nojo Gon! Vai tomar um banho! Você vai sujar os lençóis!"

Eu jogava as coisas no chão, me libertando do peso, apesar de não demonstrar, meus músculos pediam por arrego. Me virei e dei de cara com seu corpo esparramado na cama de barriga para baixo, ele já respirava mais devagar, estava quase dormindo.  Eu lhe encarava profundamente sem que me desse conta, e quando ele se virou,  percebi que estava olhando tempo demais de um jeito estranho.

Gon não notou, ou ao menos não pareceu notar, mas seus olhos castanhos encaravam fixamente os meus, senti meu rosto arder pelo olhar, me amaldiçoando internamente por ser tão pálido, o que, com certeza, deixava qualquer rubor existente bem evidente. Talvez tenha piorado quando ele deu aquele sorriso lindo, aquele que eu sempre vejo e babo.

"Okay! Eu vou tomar banho. Quer ir comigo?"

E como se o rubor nas bochechas não fosse o suficiente para querer me enterrar, senti que aquela pergunta fez ficar vermelho até as pontas dos fios de cabelo.

"O-o q-que?" Perguntei pasmo, ele riu.

"Igual lá na ilha, bobinho. Lembra que tomávamos banho juntos?"

"Ah, não precisa, vá você primeiro. V-vou pedir comida pra nós dois, aposto que está cheio de fome não é?" Perguntei desconfortável o suficiente.

Acho que já estava meio na cara que eu gostava do Gon, todo mundo já tinha notado, Biske dizia que nós dois juntos seríamos fofos, não esperava nada diferente dela. Kurapika me dizia que estava tão óbvio que só um tolo não notaria, a propósito Leorio não sabia, mas fora ele, até mesmo o otário do Milluki que só viu Gon uma vez sabia. Por deus, estava tão óbvio que até mesmo o presidente Netero sabia, e mandava sorrisos sugestivos sempre que nos víamos.

Era meio frustrante que todos soubessem que eu gostava do Gon, todos, exceto claro, o próprio Gon.

"Tudo bem então" veio ao minha frente, deixando sua mochila ao lado da minha. Ele estava perto, muito perto, podia sentir seu cheiro exótico e amadeirado. E ele se aproximou ainda mais, colando nossas bochecha ao me abraçar. Como em todos os seus abraços, eu estava paralisado, não sabia onde por as mãos, ou o que dizer.

"G-gon..."

"Hein, Killua..." disse ainda abraçado ao meu corpo tenso.

"S-sim...?"

Ele finalmente se afastou, mas apenas os suficiente para que nossos olhares se encontrassem. E ali estavam eles misteriosos e profundos, eu não conseguia dizer o que se passava em sua mente, ou na minha, mas podia dizer que, ao menos por um instante, o olhar de Gon recaiu sobre minha boca. Ao perceber que eu o flagrei me encarando, ele desviou o olhar, e resvalou seus lábios na minha bochecha e sussurrou algo embolado no meu ouvido. Para logo depois fugir rindo bem alto, de mim é claro.

"Eu te espero no banheiro, Killua!"

Disse e entrou batendo a porta, me deixando ali, com o olhar fixo no nada tentando assimilar o que era aquilo, mas eu estava em pane de sistema. Sentia minha própria eletricidade fritando meu cérebro, mas não consegui pensar em nada, a única coisa que consegui foi correr para aquele banheiro para tentar entender.

Era incrível como Gon conseguia me deixar encabulado, mesmo com atos simples assim.