▪️UM▪️

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"Droga!" Eu repetia em minha cabeça, dezenas de vezes seguidas, enquanto tentava enfiar as últimas caixas aveludadas em minha grande mala. Meus dedos corriam habilmente pela vitrine transparente acima de minha cabeça, agarrando todo e qualquer objeto que eu alcançasse. O som estridente da sirene de segurança estava invadindo meus tímpanos, provocando pontadas em minha cabeça, o que não me deixava escutar os cacos de vidro no chão Pied-de-Poule abaixo da sola de minhas lindas botas vermelhas.

O chiclete em minha boca já estava perdendo o sabor, o que significava que eu já estava dentro daquela joalheria há cerca de dez minutos, e o alarme, foi ativado há apenas dois, o que me dava oito minutos e quarenta e três segundos até a polícia chegar ao local, e encontrar o lugar totalmente vazio. Eu apenas tinha que passar pelo sistema de vigilância e sair pela porta dos fundos, como se nada tivesse acontecido.

Ao me colocar de pé, me apoiei no balcão de vidro, e coloquei meu pé sobre o mesmo, me dando o impulso para subir até a câmera que estava acima do armário que eu iria abrir. O cofre, que ficava atrás do fundo falso do armário de devoluções, que por acaso, eram todas bijuterias baratas, tinha diversas portas, mas em apenas uma tinha o cofre que eu estava à procura. Meu decodificador de senhas digitais já estava em minhas mãos, quando puxei a placa de madeira, e me deparei com um pequeno compartimento de metal, com sistema antigo de senha.

Aquilo não estava nas plantas que me deram.

Nem me dei o trabalho de usar o aparelho, afinal, um modelo daquele era antigo demais para ter um sistema de alteração de senhas, e muito menos, muitas senhas a disposição. Eram apenas quatro números, e duzentas e cinquenta e seis combinações possíveis, mas apenas três me passaram à cabeça. Seis minutos e vinte e dois segundos. Os números eram sempre exatos, independente da situação. "A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas também suprema beleza uma beleza fria e austera, como a da escultura", como já dizia Bertrand Russell.

Enquanto virava a válvula em direção aos números, minha boca mastigava lentamente a goma de mascar em pausas exatas. A polícia chegaria em menos de cinco minutos, mas não podia deixar aquele cofre para trás. Ele era a única coisa que não estava na planta, e por acaso, estva ali, bem à minha frente, minha curiosidade não me deixaria em paz enquanto não visse o que tinha lá dentro.

Depois de duas senhas, a mais óbvia foi a solução: 1573. Um número primo qualquer, mas peculiar. Ao abrir a portinhola, meus olhos se iluminaram de surpresa, e tambem das cores refletidas naquelas pedras. Ali, dentro naquele cofre miserável, estava um lindo colar de beleza e preço indecifrável, uma pedra de diamante de uma polegada e meia sendo junta a um corpo de correntes banhadas em Svairowsky, que se entrelaçavam em pequenas pedras de brilhante.

Antes que pudesse analisar o resto, notei que a goma, antes macia e com sabor de morango já havia virado uma massa dura e insossa, o que significava que precisava sair daquele lugar naquele exato momento.Pensando nisso, peguei o colar e o coloquei no pescoço, o cobrindo com meu casaco, já que não tinha mais espaço na mala, e pulei do balcão, pegando a bolsa e indo em direção da parede amarelada à minha frente, o ponto cego das câmeras, contornando a sala agarrada a ela, até chegar numa porta de carvalho vernizada, e quebrar a maçaneta com um chute.

– Mas que linda noite, Nova York. – Eu disse, abrindo outro chiclete e o colocando na boca juntamente com o antigo, e depois correndo até o muro, o escalando facilmente, e com o apoio das mãos, subi no telhado de uma casa, onde segui a correr até meu destino final.

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– Aqui está. – Eu larguei a bolsa no chão, já erguendo as mãos para tirar o colar. – Local sem seguranças adequadas, fácil arrombamento, com um cofre medíocre e distante do departamento de polícia.

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