INSEGURANÇA

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Eu confesso que é meio deplorável eu começar um novo livro falando sobre a maior fraqueza que há em mim, mas é com isso que tenho que lidar ultimamente. Com a quarentena, fui obrigada a prestar mais atenção em todas as minhas múltiplas personalidades e em como eu realmente encaro o mundo a minha volta. Tá sendo muito benéfico aprender coisas sobre mim que ainda não havia me dado conta, mas ao mesmo tempo é complicado perceber que me sinto inferior a outras pessoas. Principalmente, mulheres.

Justo eu, a pessoa que mais fala sobre feminismo e sororidade, sentindo-me rebaixada por não estar 100% nos padrões estéticos que a mídia exige. Sentindo-me ameaçada por outras mulheres que, como eu, sofrem todos os dias com a realidade machista que vivemos, que temos que enfrentar cara a cara. E, como se isso não fosse suficiente, há algo em nós mesmas que foi plantado desde bem antigamente. A competição de "quem é a mais bela", a busca por atenção dos rapazes e o olhar desejoso que olhamos umas aos outras, desejando o que a outra têm. Quando, na verdade, pode ser que nem seja real.

Desde os elogios e comentários de que precisamos aprender a cozinhar para casar até os filmes infantis que romantizam, entre muitos outros fatores, o beijo sem consentimento e a adversidade entre as mulheres. Além disso, a maneira como nos colocam como uma personagem a ser salva, quase como agente secundário, tudo para depois casar e viver feliz para sempre (teoricamente) com um homem que acabou de conhecer. Nada contra Branca de Neve e Bela Adormecida, mas alguns acontecimentos deveriam ser revistos quando se trata da construção da personalidade de uma criança. Sem contar que, quase todas as princesas seguem um esteriótipo de aparência e personalidade, sendo todas magras e delicadas. Claro que muita coisa mudou até então, hoje temos personagens femininas bem mais independentes e decididas, o que é ótimo para essa nova geração de adultas que têm consciência da força que existe dentro de cada uma delas.

Ainda assim, eu me pego pensando se apenas as mulheres tem esse tipo de comportamento competitivo ou se isso é apenas uma construção social para que sempre achemos que a outra quer ser melhor que nós. O que nos trás, entre muitos fatores, uma enorme insegurança sobre quem somos e qual é nosso papel nesse mundo. O que faz da gente especial, afinal? Quando comparada a tantas outras pessoas interessantes e talentosíssimas, acabo duvidando até das minhas qualidades as quais alguns elogiam verdadeiramente - eu acho. Como o modo que eu escrevo, que é o que me faz sentir bem comigo mesma. Fiquei meses sem escrever uma única frase que não seja a dos trabalhos da faculdade, estava com um bloqueio imenso de escrita autêntica e profunda sobre mim. Hoje penso que talvez, apenas talvez, esse motivo se dê por eu não me achar boa o suficiente para isso, não sendo talentosa a ponto de conseguir elaborar um capítulo realmente bom e que os outros gostem de ler, para que se sintam bem.

Então, agora mesmo, eu acabei de chegar a uma conclusão sobre tudo o que disse anteriormente, porque o assunto não tem que ser sobre os outros ou para os outros. É uma questão sobre mim, o meu bem estar e a minha válvula de escape para soltar tudo o que meus atos não conseguem abstrair. E, quando nem mesmo as palavras incorporam os sentimentos mais profundos, venho à pintura para aliviar-me a tensão de ser quem sou. Ou quem viria a ser.

Às vezes pode ser difícil se colocar em primeiro plano, principalmente para quem tem a meta de vida em ajudar o maior número de pessoas possível. Só que não é bem assim, certo? É por isso que vou começar minha terapia mês que vem, depois que toda essa crise se amenizar um pouco. Para tratar minhas inseguranças e deixar florescer o que há de melhor em mim. Poxa, eu sempre vejo tantas qualidades incríveis nas pessoas, então como não consigo aceitar as minhas? Se eu própria não me acho alguém interessante, então quem irá achar? E por que alguém tem que me achar interessante para eu me sentir bem comigo mesma? Exatamente, não tem. Ou, na verdade, não deveria ter.

Temos que ser gentis com nós mesmo, porque é só a gente que sabe como se sente verdadeiramente. Estamos conosco o tempo inteiro, e isso pode gerar alguns desentendimentos, como em qualquer outro relacionamento. Mas, acima de tudo, a maneira que lidamos com isso é o que realmente importa. A nossa perspectiva de quem somos, os nossos anseios e até defeitos. É importante conhecer e se reconhecer para melhorar. E certamente é por isso que achamos tanto que as outras pessoas são melhores que a gente, porque não a conhecemos tanto quanto nos conhecemos. Só sabemos o lado bom, que é o que todo mundo procura mostrar. Ninguém posta foto quando está em crise ou chateado, porque quando estamos assim, apenas queremos ficar sozinhos. Isso remete ao que eu disse anteriormente, só a gente entende a gente.

Então, como eu disse, tá tudo bem se seres humanos tem problemas. Consequentemente, eu e você também o temos. E o resto do mundo, porque é algo natural. Mas, quando deixamos recorrentemente nossos instintos falarem mais alto que nossa própria razão, talvez seja a hora de pedir ajuda.

Pedir ajuda não nos torna fracos, apenas sábios o bastante para saber que não somos nada nesse mundo e que podemos melhorar com a ajuda de um especialista no assunto. Antigamente, eu sugeriria que fizéssemos alguns exercícios de auto-amor, mas isso não pareceu eficaz o suficiente para mim. Talvez eu não tenha levado muito a sério ou sei lá. Se você desejar, pode tentar repetir quinhentas vezes o quanto você é especial, tudo isso em frente ao espelho.

É, leitor, acho que esse capítulo chegou ao fim. É o primeiro de alguns que pretendo escrever durante e após essa quarentena, para não enlouquecer de tanto ficar em casa e conviver sozinha comigo mesma. Espero que você esteja bem com todo esse clima maluco que tá cercando nossa vida, gerando bastante reflexão sobre nós mesmos. Sempre lembre-se que somos seres mutáveis e imperfeitos, e que tá tudo bem a gente não se sentir bem o tempo inteiro. Isso tudo vai passar e eu vou estar aqui com você no até o final do livro, para rirmos de toda a situação que estamos vivendo.

Fique bem.

Crônicas de(s)CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora