Jane,
Se está lendo esta carta significa que não consegui segurar meu sono e adormeci nesse sofá meio... desconfortável, talvez? Eu só queria conversar sobre amanhã. Com o que devo me preocupar e tudo mais...
Desde que voltei do hospital, tudo tem sido bem monótono. Hoje passei o dia olhando pro teto, imaginando como minha vida poderia ter sido fantástica. Talvez eu tenha feito parte de uma gangue ou brilhado em uma audição de piano! Mas, talvez, eu só esteja frustrado por não saber quem sou, entende?
Sabe, eu passei um bom tempo em meu quarto, só para me certificar de que sou alguém, apesar de tudo. O lugar é muito verde! E tem algumas fotos ao redor do espelho, com flores e paisagens naturais; e outras de pessoas estranhas. Por alguma razão, sorri ao me ver espremido entre uma garota meio punk e um cara com um lindo cabelo que chegava até o maxilar. É estranho dizer que senti um tipo de conexão com esses dois. Mas senti. Você consegue acreditar, Jane? Porque isso é completamente inexplicável. Talvez eu tenha acreditado em milagres, antes de ter perdido todas as memórias. Aliás, parando pra pensar, deve ser terrível perder um amigo pra essa complexidade chamada memória. Queria puder lembrar deles. E de você, mãe!
Não vou mentir, chorei depois de refletir um pouco sobre as fotos. Talvez eu esteja me sentindo um pouco solitário, por causa de todos esses eventos. E estou com medo. Amanhã haverá indagações por todos os lados e não saberei como reagir, porque não sei nada sobre mim. Só descobri — durante estes primeiros dias — que odeio ter que ficar preso em casa até que "tudo esteja bem" e que odeio verde. Definitivamente verde não é minha coisa. Mas tudo bem. Sei que não vai adiantar nada e que terei que enfrentar tudo da mesma forma. Enfim, isso é tudo. Espero que descanse bem, não é saudável passar a noite acordada por causa de um emprego.
Atenciosamente,
Jude.
***
Jude,
Deixei um pouco de café para você. Tem pão na mesa, caso queira fazer torradas, e maçãs na geladeira. Boa sorte na escola.
De sua mãe,
Jane.
***
De: Jude(corn) Anderson
Para: Jane Foster
Assunto: Hackeei o notebook do seu filho!
Boa tarde, Jane,
Descobri que posso ser um bom stalker. Havia alguns post-its soltos pela parede e, antes que você pergunte, não, eu não era idiota de deixar a senha do notebook tão fácil assim. Mas procurei um pouco nas gavetas e encontrei um pequeno caderno de anotações, logo embaixo de toda uma pilha de roupas. Lá, sim, tinham as senhas. SIM! As senhas! Acho que agora tenho acesso a tudo que um dia tive, com exceção do celular (só minha digital já foi informação o suficiente).
Então eu pensei: já que você meio que ignorou aquela minha carta ontem, talvez eu devesse tentar me comunicar contigo de outra forma. E cá estamos nós! Meu primeiro dia foi tão estranho quanto poderia ser: Algumas pessoas acenaram pelos corredores e meio que fui forçado a fingir que não notava essas ações; acabei entrando em uma conversa com ninguém mais e ninguém menos que Rebeca, a garota meio punk daquela foto colada na borda do espelho; e também conheci o Ezra, o cara do cabelo até o maxilar, que por alguma razão (não tão misteriosa assim) tentou me beijar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jude(corn)
Short StoryJude Anderson tinha total controle sobre suas memórias. Até não ter mais. Após acordar em um hospital sem nem mesmo lembrar de seu nome, o garoto inicia uma jornada para descobrir quem ele realmente era. Porém, para isso acontecer, ele deve se aprox...