Cap. único

35 6 0
                                    


Abro meus olhos.

Não acredito que ainda estou viva.

Ontem a noite, tomei alguns comprimidos tarjas preta pra tentar me matar.
Será que não fez nenhum efeito??

Olho o relógio. 17h24.

É, com certeza fez. Me sinto enjoada.

Me levanto devagar, sentindo algo me puxar pra baixo. É o peso de ser uma inútil.

Fecho os olhos com força, eu odeio tudo isso. Sinto algumas lágrimas rolarem por meu rosto. Pego o travesseiro, ponho no rosto, e grito com todas as minhas forças. Mais lágrimas rolam.

Me levanto da cama e vou em direção ao banheiro, onde abro o armário e pego minha velha amiga.

Passo a lâmina em minha coxa várias vezes, com força, eu não me importo se atingir alguma artéria ou veia, eu só quero morrer.
Vejo o sangue cor de vinho escorrer por minha perna e se espalhar pela tampa do vaso, na qual estou sentada.

Tiro a minha roupa, que também acaba se sujando de sangue, jogo no cesto e entro no box.
Ligo o chuveiro, e quando a água bate em meu corpo, eu explodo.

Grito o mais alto que consigo, e choro. Um choro de dor, angústia e sofrimento.

Ouço a porta do meu quarto ser aberta e logo a do banheiro se abre também.

-Filha? Meu Deus, Alice, o que você fez?- Minha mãe diz quando vê o sangue espalhado pelo banheiro.

-Sai, sai! Por favor, mãe!- Digo entre as lágrimas.

-Vamos conversar depois.-Ela fala, fechando a porta do banheiro.

-Droga, droga!- Choro mais alto.

Depois que desligo o chuveiro, faço um curativo na minha perna e visto um blusão com um short qualquer.

Saio do meu quarto e vou até a cozinha, faço um cereal e me sento para comer.

-Alice?- Minha mãe chega na cozinha. Reviro os olhos.- Não revire os olhos pra mim, garota. Como você está?

-Não venha fingir que se importa.- Digo.- Você viu que eu estava mal ontem, eu quase morri e você nem ligou.

-Alice, eu.. Me desculpa filha, eu realmente não percebi... -Ela diz pegando na minha mão.-Conversa comigo... O que você está sentindo?

-Eu não sei, mãe, não é como se importasse, eu só quero morrer.

-Não diga isso, Alice... A vida é muito bela pra perder tudo assim. Você só tem 17 anos e...

- E o quê? Eu não sei o que eu estou falando? Mãe, EU TENHO DEPRESSÃO! Não importa a minha idade, a dor que eu estou sentindo me sufoca cada dia mais!- Sinto lágrimas escorrendo por meu rosto.- Eu não consigo mais, tá? Eu não consigo mais, colocar essa merda de sorriso no rosto todos os dias, fingir que eu estou bem, eu não consigo mais aguentar as pessoas fingindo que se importam, eu não consigo mais aguentar a falsa humildade, eu não consigo mais aguentar as pessoas dizendo que me amam e não dando a mínima pra mim, eu só não consigo, não consigo!

-Minha filha... Isso vai passar, acredite em mim.

-Vai, vai sim. Quando eu morrer.

Largo a tigela de cereal de lado e corro pro meu quarto. Tranco a porta e me jogo na cama, e choro.

Depois de alguns minutos pego o celular e vou ler as mensagens.

Nicole: Amiga? Você tá aí?
>Alice??
>Eu espero que você não tenha realmente feito o que disse que ia fazer.

Me: Não ainda... Me desculpa.
>Eu te amo.

Chegou a hora...

Levanto meu colchão e pego o frasco que guardo há algum tempo. Uma pequena mistura que consegui, uma mistura que vai colocar o fim em tudo isso.

Pego meus remédios na cômoda, eu já sei que eles não adiantam mais, mas vão ajudar.
Vou pro banheiro, tranco a porta... Pego um pouco de água da torneira e aos poucos tomo toda a cartela de comprimidos, com certeza vai ajudar.

Pego minha lâmina mais afiada dentro de uma caixinha no armário e passo em meu pulso, com força, que se foda, a intenção é morrer mesmo. Vou pra debaixo do chuveiro, de roupa e tudo, e, antes de ligá-lo, bebo todo o conteúdo do frasco. Ligo o chuveiro e começo a lavar meu pulso, o sangue não para de escorrer, exatamente do jeito que eu queria. Depois de alguns minutos começo a sentir uma dor no estômago. Me sinto tonta, e vomito.

Fecho os olhos.
....

Gritos.

.....

Choro.

.....

-Alice? Por favor, Alice, fica.-Alguém diz chorando.

.....

A música... Hold on I still need you...

....

Eu vou deixar eles...

.....

-Desculpa, mãe.

....

Silêncio.
A morte.

SuicideOnde histórias criam vida. Descubra agora