like a flowing wind.

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Jaehyung sempre acreditou que a vida não passava de um conjunto de momentos e sensações efêmeras. Por mais que odiasse pensar desta forma, decerto, tudo havia um fim; desde a chegada da primavera, sua estação favorita, até as memórias que guardava no fundo do coração com tamanho carinho.

Sempre creu que o efêmero que compunha as nuances do mistério perigosamente belo que era a vida poderia ser eterno. E descobriu-as pela primeira vez quando, após um longo período de trabalho árduo, juntou dinheiro o suficiente para comprar uma câmera fotográfica semi profissional. As primeiras fotografias que tirara, apesar de não estarem perfeitas, eram significativas; cada memória que absorvia daquele imutável momento mágico que havia sido congelado e se tornado imorredouro seria sempre o seu ponto de paz.

Desde a vez em que se deslumbrou com o florescer das flores de belas cores no parque da cidade de Seul, prometeu a si mesmo comparecer todas as tardes. De fato a primavera sempre seria o seu finito acontecimento preferido. Torna-la eterna através da fotografia acabou por se tornar mais do que um hobbie, era quase como uma peça para que ele funcionasse: todas as tardes de temperatura amena, se encontrava sentado num dos bancos pintados recentemente, enquanto observava as flores — que sabia que não poderia tocar por conta da sua alergia — com sua câmera posicionada em mãos.

Depois de alguns dias seguindo as tardes rotineiras, enquanto eternizava a beleza fugaz de tudo o que via e tocava, as nuances do outono ameaçaram chegar sorrateiramente: estava tão focado em coisas fúteis que sequer houve tempo o bastante para ver a neve cair sob as pétalas das orquídeas. Jaehyung se martirizava por isto. Mas não pareceu ser um problema a perca do inverno, porque ainda naquela tarde repetidamente costumeira, um menino de nuances invernais sobrevoou o tapete de folhas alaranjadas que caíam das árvores e como um sublime ímpeto, Jaehyung olhara para aquele garoto de beleza estonteante pela primeira vez.

Era mais lindo que todas as flores que já havia fotografado. Mais intenso que qualquer coisa que já vira em toda uma vida. Os cabelos negros e enrolados em pequenos cachos revoltos sob os olhos etéreos haviam sido o primeiro ponto a vista-lo. Ele parecia preocupado, ansioso, considerando as feições marcadas em seu rosto delicadamente esculpido com a delicadeza de mãos divinas. Algo em si gritava por um sinal dos céus para que lhe acordasse daquele sonho; poderia existir um garoto tão lindo como aquele?

Todas as tardes, aquele garoto se encontrava no mesmo parque que Jaehyung. Não fazia nada além de uma breve caminhada, costumava olhar para a paisagem e passava o fim de tarde sentado num dos bancos, lendo uma revista que nunca parecia ter um real interesse. Jaehyung sempre o achara imensamente belo, mas todas as vezes que pensara em apertar o click da câmera, era tarde demais; ele se levantava e voltava para a cidade.

Naquele dia, as roupas eram grandes e largas, como um manto protetor do mundo afora. Ele se sentou cerca de dois bancos a frente do Park, recostou-se sobre o apoio e a única coisa que Jaehyung pode ouvir fora um suspiro melancólico envolto do canto dos pássaros. E assim que as folhas alaranjadas, como as bochechas incrivelmente fofas do garoto invernal — apelido que o dera em seus próprios pensamentos — fluíram com a força amena da ventania outonal, Jaehyung soube que era a hora de torná-lo eterno. Eternamente seu, em suas lembranças.

— Ei! — Após o flash, a feição inocentemente doce do garoto se tornou irritadiça. As bochechas salientes e coradas levemente pelo clima um tanto frio enquanto as orbes castanhas escuras e profundas encaravam o garoto da fotografia como se quisesse o fulminar por completo. Ele se levantou, por fim, ignorando o sorriso deveras atraente de Jaehyung. — O que pensa que está fazendo?!

— Tirando fotos. — Respondeu de forma simples, o sorriso bobo pairou em seus lábios; ele era ainda mais bonito de perto. Sabia que estava encarando demais quando as orelhas do mais baixo tomaram uma coloração avermelhada e ele desviou o olhar, resmungando em um tom baixo alguma coisa que Jae não conseguiu ouvir.

— E decidiu me usar de modelo?

— Se me permite dizer, você é bonito demais para não ser fotografado. A culpa não é minha, acredite! Eu sequer tiro fotos de pessoas. Prefiro apreciar a paisagem. — Apontou a câmera para um lado qualquer, distraindo o acastanhado, que parecia entretido em procurar seja lá o que Jaehyung fingia ter visto. Com uma calma minuciosa, os dedos se apressaram em fotografá-lo mais uma vez. — Eu me chamo Park Jaehyung. — Estendeu a mão para o garoto, que o olhara pensativo.

— Meu nome é Yoon Dowoon. É um prazer te conhecer, Jae. — Ele sorriu, o que causou um infortúnio em seu desesperado coração. Jaehyung nunca deixaria de ser o menino primaveril que optava por sentir além do necessário, mas Dowoon não parecia se importar com aquilo. Yoon Dowoon poderia ser o eterno inverno, mas não poderia evitar o florescer do amor do garoto primaveril em seu coração.

Observar o desabrochar das flores na primavera sempre seria o passatempo preferido de Park Jaehyung, com sua câmera fotográfica e o desejo amador de tornar tudo o que via de bonito eterno, mas ao cair das folhas nas tardes intermináveis de outono, descobriu o que havia de mais belo em toda Seul: Yoon Dowoon, o seu eterno garoto invernal.

plot de loona13theworld
stan day6

tardes que nunca acabam ─ jaewoon.Onde histórias criam vida. Descubra agora