Prólogo

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Madri é uma cidade espetacular. Pulsante como o coração da Espanha.

É aqui que agora chamarei de lar. Neste lugar apaixonante de onde se pode ver telhados e flores pela janela, onde há mais sol do que chuva, e construções arquitetônicas que nos faziam suspirar.

Tento me adaptar nos primeiros dias, mas tudo o que consigo é confundir as palavras. Fico aliviada em saber que nosso apartamento faz parte de um conjunto habitacional onde a maioria das pessoas são estrangeiras. 75%, para ser mais exata. Sei disso porque o gênio do meu filho leu isso em algum lugar no nosso voo.

Acabo de matricular meu filho na Escola Brasileira de Madrid, e me sinto mais pobre após sair dali. É a única maneira de meu filho se adaptar a um país novo. Ele fará aulas regulares de espanhol, com colegas e professores brasileiros. Ele ainda vai ter contato com seu país natal, e aprenderá a viver no novo lar.

Sei que deveria estar feliz. Ou ao menos empolgada. Afinal, estou na cidade que nunca dorme. A cidade apaixonante que abrigava o Palácio Real e do pôr do sol do Templo de Debod.

Mas estou terrivelmente ansiosa. Temerosa. Insegura. Eu detestava sair da minha bolha. Minha confortável e quentinha bolha que era a casa do meu pai, no Brasil.

Mas eu preciso crescer. Preciso me tornar uma mulher, uma mulher que no mínimo pode dar orgulho ao filho.

Aperto com força o copo de café para viagem e paro ao passar pelo Museu do Prado. É impossível não ficar embasbacada, mesmo com pressa. Levanto os olhos e admiro mais uma vez, me sentindo levemente tonta. Isso parece ter sido tirado diretamente da Roma antiga, como naqueles filmes históricos que a gente não entende nada, mas adora ver a paisagem.

Olho para todas aquelas pessoas ao redor e tento imaginar como seria minha vida dali para frente.

Mas o futuro ainda é incerto e no momento eu tenho que me agarrar com todas as forças ao presente.

Firmo meus pés no chão, olho para minha sapatilha de bailarina e ajeito minha saia com estampa de flores. Gui me dirige um olhar engraçado e balança a cabeça, ainda incrédulo.

Aperto sua mão pequena com força e digo para caminharmos de volta para casa

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Aperto sua mão pequena com força e digo para caminharmos de volta para casa.

Afago o alto de sua cabeça e bagunço seu cabelo perfeito e ele reclama. Deus. Ele me lembra muito o pai.

— Nós ficaremos bem, criança. — Falo com ânimo para que eu mesma acredite.

— Claro que ficaremos. Você é a mulher maravilha!

Meu pequeno anjo me lança um olhar encorajador e assim caminhamos de volta ao apartamento que a partir de agora seria nosso lar.

(...)

Tenho 23 anos. Em pouco tempo completo 24.

Eu poderia dizer que sou uma garota normal que gosta de sair e dançar e aproveitar a vida. Exceto pelo fato de eu ter sido mãe aos dezessete anos.

Foi loucura. Eu conheci o Guilherme, que era bombeiro recém formado na festa da minha amiga Karen.

Ele era amigo dos irmãos dela, e quando nos vimos, a conexão foi imediata. Ele foi o meu primeiro amor.

Desde então não nos desgrudamos nunca. Ele ia me buscar na escola, pediu ao meu pai para namorarmos sério e eu pensava que ficaríamos juntos para sempre.

E então quando sabia que estava pronta para levar o relacionamento ao próximo nível, fomos estúpidos o suficiente para acreditar que eu não engravidaria quando a camisinha estourou.

Mas eu engravidei.

Papai quase enfartou e minha mãe praticamente surtou. Disseram que eu deveria abortar, mas Guilherme e eu nos mantivemos firmes em nossa decisão. Nós teríamos aquela criança.

Troquei os livros da escola por manuais sobre bebês e faltava às aulas para ir às consultas

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Troquei os livros da escola por manuais sobre bebês e faltava às aulas para ir às consultas. Papai, que estava divorciado de minha mãe há anos, ofereceu seu quarto que era maior do que o meu e acomodamos o berço e a cômoda do bebê.

Eu já estava acostumada com a ideia de ser mãe adolescente, e estava feliz. Mas de repente, de uma forma violenta e cruel o Guilherme foi tirado de mim.

Numa missão de salvamento em barracos que pegavam fogo na Zona Leste de São Paulo, meu namorado morreu salvando um idoso que não conseguia sair do barraco em chamas.

Me despedir do amor da minha vida com uma barriga enorme tornou a dor ainda mais latente, mas me mantive de pé.

Eu gostaria de chamá-lo de herói. Eu gostaria de dizer que foi um homem honrado que perdeu sua vida para salvar alguém.

Mas durante muito tempo tudo que senti foi raiva.

Sentia raiva porque ele se foi. Ele sacrificou sua vida por alguém que nem conhecia. Ele me deixou. Ele deixou nosso filho.

E graças à ele, eu estava completamente sozinha.

 Oi pessoal! Postar no Wattpad é algo completamente novo pra mim e com certeza ainda tenho muito o que aprender

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Oi pessoal! Postar no Wattpad é algo completamente novo pra mim e com certeza ainda tenho muito o que aprender.
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Um Homem de SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora