Química além da sala de aula

Capítulo 4

André
Ontem não encontrei mais com a senhoria Martins depois do episódio que aconteceu. Me sentia um pouco mal por tê-la feito passar por isso, talvez tenha passado um pouco dos limites achando que tinha alguma autoridade com ela fora da sala de aula. Não consegui me conter, vi ela ali como se fosse dona da porra do mundo inteiro e fiquei bem mais revoltado do que deveria.

Pedro - Você ja viu o site de fofocas hoje de manhã? - Perguntou me tirando dos pensamentos.

Eu e meu irmão dividimos um apartamento perto da escola em que trabalho. Apesar dele ser alguns anos mais novo que eu, nos damos incrivelmente bem. Nesse momento estávamos tomando café em silêncio até que essa pergunta completamente inesperada pairou no ar.

Eu - Não, por que eu veria um site de fofocas? - Respondi e o mesmo jogou o celular com o site aberto no meu colo.

Havia uma foto minha com a senhorita Martins.

Eu - Que porra é essa? - Perguntei exaltado.

Na foto eu estava a segurando pelo braço, enquanto a mesma me encarava com sangue nos olhos. Não dava pra ver que era eu, já que a foto foi tirada por alguém que estava atrás de mim, mas aquilo era absurdo.

Pedro - Sua aluna é alguém bem importante. - Deu de ombros.

Comecei a ler a matéria.

"Júlia Martins foi vista ontem na inauguração da boate Luxury. Sabemos que Júlia nunca passa despercebida, mas algo que chamou atenção foi a mesma discutir tão ardente com alguém. Quem seria esse? Algum namorado ou apenas um casinho? Pessoas que estavam próximas garantiram que houve até intervenção por parte dos seguranças da boate.
Até quando será que nossa mulher continuará se comportando como menina? Gostaria de saber o que seu tio, Christian Martins, acha disso tudo. Faz bem para a empresa ter a sobrinha nos holofotes o tempo inteiro? Afinal, ela será a herdeira de tudo que o mesmo possui e segue se mostrando cada vez menos preparada para tal.
Querida Júlia, esperamos ansiosamente por um pronunciamento. Nos conte mais sobre esse boy que nem conhecemos, mas já nos deixou intrigados"

Eu - Inacreditável. - Digo ainda surpreso. - Isso poderia acabar completamente com minha carreira.
Pedro - Ela já é maior de idade.
Eu - Sim, mas existe algo chamado ética profissional. - Digo ainda irritado. - Jamais me envolveria com uma aluna e muito menos com ela.
Pedro - Ela e a amiga são bem bonitas. - Diz enquanto vê algumas fotos que tiraram das mesmas ontem.
Eu - E mimadas, crianças...
Pedro - Já entendi. - Revira os olhos. - Não acha que está a julgando demais?
Eu - Pelo amor de deus, Pedro. - Solto uma risada. - Não viu o que aconteceu ontem? As pessoas comem na mão dela por onde ela passa, não precisa se esforçar pra conseguir nada na vida.
Pedro - Pode ser, mas também precisa lidar com algumas coisas bem desagradáveis. Olha as coisas que falam da menina nos sites de fofoca.
Eu - Só falaram a verdade, que ela jamais estaria preparada para assumir uma empresa desse tamanho.

Apesar de estar quase estampado na cara dele o quanto ele discorda de mim, Pedro não fala mais nada e fica mexendo em seu celular. Não sei o que tanto olha, mas também não me importo. Estou ocupado demais olhando sem parar pra minha foto com a senhorita Martins. Ela realmente parecia muito mais adulta com aquela roupa e aquela maquiagem. Uma pessoa completamente diferente da que vejo na escola todos os dias. Uma pessoa que claramente tinha poder suficiente pra acabar com a minha carreira em um estalar de dedos. Eu precisava fazer alguma coisa em relação à essa notícia. E se alguém tivesse outro ângulo da foto e resolvesse publicar? Não ia pegar nada bem e eu não gostaria de ter que me explicar pra vários professores que eu nem conheço direito. Muito menos por causa de uma garota mimada e infantil como ela.

Júlia

Eu - Não acredito nisso! - Falo assim que termino de ler o site de fofoca.
Lia - O que houve? - Pergunta e percebo que a acordei.
Eu - A cena que aquele idiota fez foi parar no site de fofoca. - Suspiro. - Puta que pariu.
Lia - Amiga, você já deveria estar acostumada com essas coisas.
Eu - Não quero que pensem que tenho alguma coisa a ver com esse homem. - Bufo. - E odeio quando insinuam que não seria capaz de gerenciar uma empresa só porque gosto de me divertir. Tenho 18 anos, não preciso carregar o mundo nas costas ainda.
Lia - Relaxa, Jú. - Fala se sentando na cama. - Você sabe que eles só querem uma reação explosiva sua ou um pronunciamento escroto do seu tio... E não vão conseguir.
Eu - Não gosto que as pessoas tenham essa visão de mim.
Lia - Quem te conhece sabe por tudo que você já passou e sabe também o quanto você é dedicada e poderia fazer qualquer coisa que te desse na telha. - Sorrio pra mesma.

É bom ter Lia como amiga, ela sempre sabe o que dizer nos momentos que mais preciso.

Tio Chris - Júlia! - Ouço ele gritar do andar de baixo.
Eu - Mais uma vez... - Reviro os olhos e vou em direção à porta.
Tio Chris - Novamente? Quem é esse homem? - Pergunta me mostrando a foto em que estou com meu professor de química. - E que história é essa que o segurança da boate precisou interferir? Preciso me preocupar com alguma coisa? - Pergunta já preocupado.
Eu - Não foi nada demais. Derrubei uma bebida nele sem querer e estávamos resolvendo. - Menti.
Tio Chris - Minha filha, preciso que você se mostre uma pessoa mais responsável. - Ele diz e passa as mãos pelo cabelo.

Odiava ver meu tio preocupado, mas ele precisava entender que eu tinha que viver. Passei anos de luto pela morte dos meus pais e não iria deixar de me divertir agora. Se algum dia eu tivesse mesmo que assumir a empresa dele, eu faria. Faria com todo amor e dedicação do mundo, mas agora não era hora pra isso. Se eu não tivesse um tempo pra mim agora, quando eu teria?

Eu - Eu sou responsável, mas não é isso que eles querem mostrar. - Reviro os olhos. - Você acha que eles querem fazer uma matéria sobre como eu estudo e trabalho todos os dias? Claro que não! Eles querem sair por aí inventando que tenho algum conflito com um ex namorado que nem existe! - Perco a paciência.

Meu tio só me encara, se levanta e volta para seu quarto. Receber uma bronca as vezes é melhor do que um silêncio ensurdecedor.

Eu - Ótimo. - Falo baixinho e bufo em seguida.

Nada disso teria acontecido se não fosse por aquele idiota. Quem ele pensa que é? Tenho que fazer alguma coisa porque isso não vai ficar assim. Se ele pensa que pode tentar me humilhar e me fazer passar vergonha em uma boate, está muito enganado.