Amor em vermelho

Capítulo 1

A coisa mais importante que você irá aprender é amar e ser amado em troca.

MOULIN ROUGE

A chuva caia fortemente lá fora.
Parecia que o mundo estava prestes a desabar sobre nossas cabeças e ninguém poderia segura-lo. A água batia com tanta força nas janelas que eu sentia que elas se quebrariam a qualquer momento. O vento rugia do lado de fora e uivava alto. Eu amava aquele tempo. Amava a chuva e tomar banho de chuva. Me molhar com as gotas geladas e sentir a mudança do clima. Céu cinza e nublado, vento forte e frio, neblina e baixa temperatura. Eu era definitivamente uma garota do frio.

Aquela era pra ter sido uma tempestade como todas as outras. Uma noite como todas as outras. Eu sairia da livraria as nove, pegaria o ônibus na rua debaixo já que naquela manhã, meu carro tinha decidido me deixar na mão, chegaria no Rouge ás dez e começaria um novo turno de um trabalho bem mais movimentado e mais divertido que a livraria. Mas ao invés de me trazer uma noite de sexta cheia de clientes, aquela tempestade me trouxe outra coisa.

Ela me trouxe Oliver.

Oliver era um cara com seus vinte e oito anos, tatuado e com uma disposição gigante para se meter em problemas que sempre resultavam na sua quase morte. Ele era um imã para qualquer tipo de confusão e naquela mesma noite, eu o ajudei a se safar de uma bem grande. Oliver era assim, imprudente e completamente maluco. Sem um pingo de medo de morrer. Oque, claro, me deixava com medo de que ele morresse.

Mas eu não sabia disso ainda. Se eu soubesse, não teria me deixado envolver com ele. Mas é oque dizem sobre os caras maus. Não se pode escapar deles de qualquer forma. E não foi diferente comigo. Eu cai nessa.

Eu sai da livraria querendo cortar caminho pelo beco atrás da loja que era usado para a carga e descarga dos livros para chegar mais rápido no ponto de ônibus e não me molhar tanto. Guardei meu celular e meus livros na bolsa, passei ela pelo corpo e sai correndo pela chuva, fazendo meus pés quase escorregarem na água quando parei de repente na frente do beco. Eu ouvi um tiro. Um tiro que em seguida trouxe o grito sufocado de alguém. Um homem.

Me colei na parede do beco. deixando a água escorrer pelos meus cabelos e embaçar meus óculos. Minha respiração estava curta e desesperada e eu não sabia oque fazer ou se deveria fazer alguma coisa. A chuva caia impiedosa e a noite me impediu de ver a cena com clareza, mas oque eu vi foi o suficiente. Três caras de pé e um cara no chão com as mãos tentando alcançar algo nas costas. Não vi o rosto de ninguém, mas ouvi suas vozes.

- Sabe inútil, eu adoraria matar você pelo que fez ontem na minha festa, mas como meu pai ia lamentar perder você e suas habilidades, acho que posso pelo menos aumentar sua coleção de cicatrizes.

Após dizer isso, o cara com a arma disparou de novo e outro grito abafado soou. O cara no chão cobriu o braço esquerdo com a mão e vi de relance sangue escorrendo por entre seus dedos. Me colei ainda mais na parede do beco querendo ficar invisível.

-Agora eu tenho que ir mané. Mas já está avisado - outro tiro foi disparado e depois o idiota da arma disse - Agora cuidem dele rapazes, estou esperando no carro. Vocês tem dois minutos.

O cara da arma simplesmente foi embora, deixando os outros dois "cuidarem dele".

Logo descobri que não iam de fato cuidar dele,e sim cobrirem o cara no chão de pancada. Nunca vi alguém apanhar tanto e parecer tão normal com a situação. Ele não gritou nem pediu que parassem e aguentou tudo até os dois minutos chegarem ao fim e os dois capangas irem embora também. Sem nenhuma preocupação se viriam o cara de novo ou se ele viveria.

Me desencostei da parede o suficiente para me certificar de que não havia mais ninguém no beco e corri até o cara meio deitado meio sentado no chão. Parei antes de chegar muito perto. Havia sangue no beco todo sendo levado pela água da chuva. Olhei o cara no chão e ele estava com os olhos fechados e uma das mãos no braço sangrando.