A Máquina

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Diante da bancada mal encarada, o jovem Abdias apresentou seu grande projeto. Alegou que sua máquina tinha o potencial de suprir a população da cidade por gerações. Mesmo assim as chances de conseguir o patrocínio pareciam distantes.

O prefeito, diferente dos empresários e vereadores, simpatizou com o negócio e prometeu ao inventor que conseguiria um investidor. Só faltava saber para quê serviria o tal aparelho. Abdias se empertigou e afirmou como se estivesse exausto de explicar que seria um primor da engenharia. Quando em operação a engenhoca proveria para todos os cidadãos. Os investimentos seriam largamente recompensados.

Conforme prometido, em um mês Abdias conseguiu um galpão, materiais e uma modesta verba para início do projeto. Trabalhava sozinho, mas era incansável. Os investidores estavam sempre de olho, e devagar a coisa começou a tomar forma. Ao passar do tempo o rapaz ia ganhando fama. Em menos de dois anos Abdias tinha aprendizes que pagavam para assisti-lo em ação. Com isso outros patrocínios apareceram e a credibilidade cresceu.

Passaram-se anos e Abdias seguia firme. Casou-se e teve dois filhos. Os meninos cresceram brincando em sua oficina. Claro que o os garotos acabaram se interessando pela profissão do pai e na devida época foram estudar no exterior. Quando voltaram encontraram o velho ainda determinado em sua tarefa sem fim. A máquina estava tão grande e complexa que mais dois terrenos foram desapropriados para a ampliação do galpão. Uma horda de homens fortes serviam o construtor, que passou a dispor de guindastes, forjas e tudo que é maquinário de apoio. Sua família vivia muito bem com o dinheiro que entrava dos investidores, do governo e dos estagiários de engenharia e robótica. Além disso mais outras quinze famílias tiravam sustento com os empregos que Abdias gerava.

A cidade prosperou. Depois de trinta e dois anos construindo A Máquina, muita gente vinha de fora só para vê-la. Hotéis e restaurantes foram construídos e o comércio fervia. No dia em que anunciaram que, mesmo longe de estar completa, a Máquina entraria em funcionamento, as coisas realmente pegaram fogo. Repórteres, cineastas, turistas e uma legião de alunos e professores ocuparam cada centímetro dos arredores. Foi um evento histórico.

A coisa apitou, tremeu, fez fumaça e suas partes deslizaram suavemente por quinze minutos. Todos estavam boquiabertos, pois funcionava! Abdias teve que responder às perguntas de sempre: Para que serve? O que faz? Ele permanecia lacônico, e respondia como se tivesse sido insultado. Sua obra tinha tantas funcionalidades que seria leviano resumir em um comentário ou dois. A máquina tinha o objetivo de prover e que muito antes de finalizada ela já seria uma das maravilhas mundiais feitas pelo homem.

Os filhos de Abdias assumiram o ambicioso projeto. No leito de morte o velho olhou fundo nos olhos dos meninos e pediu que não abandonassem seu legado. A Máquina cumpre seu papel desde o início e assim a vida de toda a gente é melhor. Os garotos sabiam e a construção seguiu em frente, devagar e para todo o sempre. 

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