Os Mortos Mandam Agora

COMO TUDO COMEÇOU

Rio de Janeiro | 18:38 | 12 de Dezembro de 2019

Rita está sentada no sofá preto de sua casa em frente a televisão de 64 polegadas que ela e seu noivo acabaram de comprar. Está presa em um painel de madeira branco com formas geométricas cinza, que por sua vez fica em uma parede toda azul quase indo pro marinho. Na TV está passando o Jornal Mundo no canal aberto número quarenta e cinco. A notícia do momento é um novo vírus que está afetando as pessoas em uma província da China. Rita tenta não se assustar com a noticia, mas lamenta pelas vitimas que já passam de duzentas. Ainda de seu sofá, Rita escuta um som de motor de carro - é o André, pensa ela. O portão da garagem faz um som irritante de enferrujado enquanto fecha e é sobre isso que André chega falando.
— Oi amor, cheguei.
— Oi amor, responde Rita logo antes de lhe dar um beijo.
— Você ouviu este barulho do portão? Precisa colocar óleo nele logo.
— Compre amanhã que eu coloco, responde Rita.
— O que fez o dia todo? Parece com uma cara triste. André pergunta enquanto tira o terno com as mãos a os sapatos com os pés.
— Você viu essa notícia sobre o vírus na China? Perguntou com tom de tristeza.
— Eu ouvi algo na rádio. Parece que é um tipo de gripe, né? - Não sei, acho que sim. Tem mais de duzentos casos confirmados já.
— Eu não sei por que você está se deixando abalar com essa notícia. É triste pessoas doentes? Com certeza, mas isso nunca vai chegar no Brasil. A doença está literalmente do outro lado do planeta. Diz André enquanto se aproxima de Rita.
Ele está tirando a camisa e se aproximando bem lentamente dela. Rita tenta se esquivar, mas sorrir para ele e acaba o beijando. Ela o agarra pela cintura e o coloca contra seu corpo definido. A pele negra dele contrasta perfeitamente com a branca dela. Como se os dois se completassem. Eles se beijam com tanta vontade que parecem dois adolescentes no colegial e não noivos que estão juntos há quase sete anos. Enquanto eles passam a mão pelo corpo do outro, Rita o joga em cima do sofá, abre suas calças e o deixa só de cueca. Ela então tira a blusa do baby doll que estava usando e fica apenas de calcinha. Com seus seios de fora ela monta, pega as mãos dele e as coloca em seus peitos. Ela está quase colocando a calcinha pro lado e fazendo loucuras sem camisinha. O tesão é muito grande, nem parece que eles estão apenas a um dia sem fazer amor. Ela desce a mão e encosta no pênis dele e então... à campainha toca.
— Aí meu Deus quem será uma hora dessas? Resmunga André, que estava quase subindo pelas paredes. Rita coloca a TV na imagem da câmera de segurança e vê que é seu vizinho.
— É o Woong. Diz ela.
— Coloca uma roupa que eu vou ver o que ele quer. Responde André enquanto veste sua calça social.
Rita caminha para o quarto com sua blusa na mão. Seu quarto tem uma cama de casal com cabeceira de madeira pura de cor marrom chocolate. - André não concordou mais ela ama essa cabeceira. Ela se vira para direita e caminha em direção a porta do closet, feita de uma madeira fina pintada de branco com uma vidro transparente na vertical próximo a maçaneta. Esta, fica ao lado da porta do banheiro. Ao entrar no closet, ela enxerga de cara as roupas feitas pelo seu noivo especialmente para ela. Rita se vira para esquerda e pega logo um short e uma blusa, se trocando rapidamente. Ela está saindo do quarto e então dá de cara com Woong com um monte de papel nas mãos.

— Vocês viram sobre o novo vírus na China? Pergunta ele.
— Sim, vimos. O que tem? Responde André.
— Então vocês tem que ver isso. Diz Woong.
— O que é tão importante para que você interrompa nossa transa? Pergunta Rita.
Woong pede desculpa enquanto caminha para sala de estar, ele conhece bem a casa, já que a visita quase todo fim de semana para jogar vídeo game com Rita e André. A sala de estar é simples, apenas com um armário antigo de madeira no canto, uma mesa redonda grande com tampa de vidro e cinco cadeiras. Ele joga todas as pastas e papéis em cima da mesa e começa a falar sobre sua teoria.
— Pois bem, prestem atenção. Minha irmã não creditou em mim, mas vocês vão. Diz ele enquanto respira rapidamente.
Woong então começa a explicar que o vírus que surgiu na China é uma ameaça muito maior do que as autoridades chinesas estão informando. Se trata do mesmo Vírus-19 já conhecido há anos, só que ele sofreu uma mutação que o deixou muito mais mortal. O agora chamado Novo Vírus-19, ou NV-19, se trata de um vírus transmitidos por diversos animais como morcegos, cobras, ratos e até pombos. Ou seja, alguns desses animais vivem nas cidades e interagem com o homem quase que diariamente. Mas o maior problema dessa vírus é seu poder de contaminação. Pois além de ser transmitido por animais selvagens, eles também passam de pessoa pra pessoa. Então, vamos lá. De acordo com meus cálculos, dentro de três meses a China terá quase cem mil contaminados, mesmo se tomarem medidas de isolamento social e campanha de higiene das mãos e em locais públicos. Nós não temos como contê-lo. Além de se espalhar rápido, ele está sofrendo mutações constantes de forma imprevisível, o que o torna além de mortal, imortal. O NV-19 já se espalhou para outros países, inclusive minha terra natal.
— Coréia do Sul. Diz André.
— Isso. Responde Woong e depois continua falando que tentou avisar o governo sul coreano em outubro de 2019 sobre uma possível epidemia que viria da China, mas foi ignorado pelo governo local. Ele tentou pedir ajuda ao governo brasileiro para começar a pesquisar uma cura, mas também foi ignorado.
— Com esse presidente no poder, não me surpreende. Resmunga Rita com tom de deboche.

Woong continua sua explicação e o casal fica umas duas horas ouvindo-o atentamente. Eles parecem acreditar em toda a teoria de Woong e no eminente apocalipse que está por vir. Depois de muito ouvir, André pergunta: Ok, Woong, vamos supor que eu acredite em tudo o que você disse. O que você quer de nós?
— Bom... Woong reluta em dizer.
— Fala logo. Diz Rita já sem paciência.
— Eu quero que vocês vão a publico falar sobre tudo isso.
— Á sem chance. Não mesmo. Responde André imediatamente.
— Mas André, você é um estilista muito conceituado e Rita, você é uma cineasta famosa. As pessoas irão ouvi-los e talvez o governo tome alguma providência.
— Woong, sem chance. Você até está certo, mas se não estiver e nós o apoiarmos, vamos acabar com nossas carreiras. Não podemos arriscar tudo o que já conquistamos. Diz André.
— Mas gente, eu sou só um virologista, vocês são ricos e famosos, as pessoas vão...
A campainha toca novamente e Rita vai vê quem é. Ela vai direto até a porta, sem olhar na câmera antes.
— Oi Ji, tudo bem? Pergunta Rita.
— Sim Rita e com vocês? Meu irmão está aí? Responde a Ji-Soo.
— Sim, lá na sala de estar.
— Posso entrar?
— Claro.
Ji caminha em direção a sala de estar enquanto chama por seu irmão.
— Não, é a chata da minha irmã. Woong comenta com André. Preciso sair pelos fundos.
— Nem pense em sair daqui. Vamos para casa, pare de perturbar nossos vizinhos com suas teorias malucas.
— Você não manda em mim.
— Eu sou mais velha, mando sim.
— Ji, você nasceu meia hora depois de mim. Isso não conta como mais velha.
Ji junta as coisas da mesa e vai saindo enquanto Woong vai atrás falando que ela não tem o direito de fazer isso.
— Me desculpem por isso, pessoal. As vezes meus irmão passa dos limites. Diz Ji.
— Imagina, Ji. Está tudo bem. Responde Rita.
Ji e Woong saem pela porta discutindo enquanto André a fecha. Após isso, ele tranca a porta e olha bem nos olhos de Rita que corresponde o olhar. Sem dizerem nenhuma palavra, os dois caem na gargalhada.