Prólogo

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Li

"I don't need divine love anymore."

Queria tanto me importar com a cena que está acontecendo na minha frente, mas na verdade não me importo nem um pouco.

— Que coisa mais ridícula. — murmuro.

Dias atrás, o mesmo garoto que nesse momento está se agarrando com outra, mandava mensagens dizendo que me amava, que eu era a razão da vida inútil dele.

Sim, claro, eu sabia que era mentira, mas ontem mesmo, pela manhã, ele tinha me mandado um "eu te amo" com vários emojis ridículos de coração e hoje já apareceu namorando, a outra.

E por incrível que pareça, isso não me afetou nenhum pouco. Na verdade, eu queria pelo menos sentir alguma coisa.

O sentimento de decepção, talvez?

Mas eu já estou acostumada, sempre é a mesma coisa.

Eles mandam mensagem, eu os ignoro, eles dizem que me amam, eu digo "Você está sendo precipitado, garoto", nos encontramos, às vezes nos beijamos, aí do nada eu sumo e no outro dia eles aparecem namorando, às vezes até convite de casamento eu recebo.

— Não dúvido nada esse daí mandar o convite do dele também. — resmungo irritada.

Estou começando a achar que eu sou o ponto de gatilho desses garotos.

Ou o escape deles, sei lá.

Eles ficam tão traumatizados comigo que arrumam por aí o "amor da vida deles" e quando ouvem "Li" até se casam.

Coitados.

Por um momento cheguei até a pensar que era usada por eles, mas eu também os uso, então não me importo, nem um pouco.

— Fiquei sabendo que ele já comprou as alianças de namoro, com nome gravado e tudo mais. — minha amiga diz, olhando a mesma cena ridícula que eu. — Tão bonitinho, não é mesmo, Li?

— Que clichê de merda, não é mesmo, Sam? — digo com nojo e ela solta uma risada, batemos nossas cervejas uma na outra. — Um brinde então, ao namoro fracassado daquele otário.

— Tão má. — ela deixa um selinho nos meus lábios, sabendo que eu odeio, mas ela ama exibir que pode fazer isso comigo, tanto quanto eu odeio. — Vou dançar, bye!

Olhei de novo para a cena na minha frente, tentando sentir algo. Logo a mesma sensação de sempre veio...

A sensação da perda.

Não dele, claro.

A sensação de perder todo aquele desejo dele por ter algo meu, o mínimo que fosse. O mínimo que eu sempre daria a ele, porque na verdade, eu nunca dou o meu máximo, em nada.

Seja o que for, eu vivo no mínimo.

— Sentirei saudades. — digo.

Eu amo isso.

Todo dia ver o desepero deles por receber alguma mensagem minha ou a confirmação de um "encontro" comigo. É algo que me traz uma imensa felicidade, ver o quanto eles se empenham e fazem de tudo para ter minha atenção, é como o prazer na minha vida.

Com alguns, não vou mentir, eu até me sinto dependente. É claro que novamente não é deles, mas de toda a atenção que eu recebo deles.

Depois que somem sinto falta de todo aquele empenho forçado e as características falsas de um bom homem que eles tentavam passar para mim. Gosto da sensação de me sentir desejada por eles, o sentimento de ser o tudo para esses garotos por algumas semanas ou meses, me faz se sentir como uma deusa, a própria deusa viva na terra.

Fio Vermelho - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora