Chapter VI

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Eu estava farto. Precisava desabafar com alguém além de Taehyung. Vanessa. Era com ela que eu precisava falar, apesar de não sermos muito próximos, acho que ela me entenderia. O sol estava cegante hoje, então decidi ir caminhando devagar para não ficar ofegante e suado.

Assim que cheguei, toquei a campainha da casa de Vanessa. Ela e o resto da companhia de teatro dividiam uma casa pequena. Eu sempre ficava feliz quando os visitava, porque o dono da companhia era eu, então eles são amigos por minha causa.

- Bem-vindo, Park. - ela piscou quando abriu a porta.

Vanessa gostava de se comunicar pelo sobrenome.

- Olá, Vega. - respondi a chamando pelo sobrenome também. - Podemos conversar?

Ela fez que sim com a cabeça e abriu mais a porta para que eu entrasse.

- Prefiro aqui fora, é uma conversa em particular. - cocei meu braço.

- Merda, você vai me expulsar? - ela falou já com a voz baixa e triste. - Não posso morar na rua de novo, Park. Eu juro que o aluguel desse mês já está até separado.

Ver Vanessa daquele jeito me deixava mal. Eu lembro do dia em que estávamos fazendo audições para a peça de "Rei Lear" e ela implorou de joelhos por um papel. Estava morta de fome.

- Nada disso! - neguei com as mãos.- É só para conversar...

Ela soltou a o ar dos pulmões aliviada. Fechou a porta e se sentou nas escadas da entrada. Deu dois tapinhas no degrau ao lado dela para que eu me sentasse. Eu amava muito Vanessa, ela sempre deu o melhor de si no teatro. Posso dizer que ela é a segunda melhor atriz, depois de mim, é claro.

- O problema é com o Yoongi. - cocei os olhos. - Ele está muito impaciente comigo.

- Ah, Park... - ela me abraçou. - Mas sobre qual assunto?

Vanessa estava conosco no dia do baile, estava radiante. Com os cabelos presos e um vestido cheio de bolinhas, mas não era comum. Ele era preto e as bolinhas eram douradas. Nunca tinha visto algo assim. Foi ela quem fez, Vanessa era perfeita com costura. Um dos pontos positivos para entrar para a companhia.

- No baile, aconteceu aquele assassinato, e toda vez que eu toco no assunto ele fica agressivo.

Vanessa mordeu o lábio inferior e encarou os degraus, possivelmente pensando em uma resposta para dar para esse problema.

- Talvez fosse melhor chamá-lo para conversar quando esse assunto não for algo recente. Já pensou que ele pode estar tão traumatizado quanto você?

- Ele fica dizendo que pessoas morrem todos os dias... - olhei para ela com um bico nos lábios.

Vanessa suspirou e acariciou minhas costas.

- Olha, eu sou péssima com essas coisas. Mas no meu ponto de vista, acho que o melhor que deve ser feito é deixar ele sozinho. Se ele está sendo agressivo, não seja o alvo dele. - ela sorriu pequeno com o intuito de me animar. - Deixa ele ficar puto com as paredes, com a televisão, sei lá. Quando isso sair da cabeça dele, vai voltar correndo pra você.

Sorri ao imaginar Yoongi vindo até mim de terno e me chamando para ir à "Dawn Lover". Era uma danceteria às cegas, em um porão. Onde era permitido relações homo-afetivas.

Senti os braços de minha amiga em torno de meu corpo.

- Se sente melhor, Park?

- Sinto. Obrigada, Vega. - beijei a bochecha dela. - Apesar de termos conversado pouco, eu precisava colocar isso para fora.

Nos levantamos da escada e nos despedimos. Ela voltou para dentro de casa e eu segui em rumo à minha. Estava quase na hora do almoço. Minha barriga roncava.

Antes de adentrar a cafeteria, percebi um rosto familiar em meu campo de visão. Lucas.

- Jimin? - ele se aproximou de mim.

Não o via à muito tempo. Penso que a última vez tenha sido engraxando os sapatos na praça aqui perto, mas nem nos cumprimentamos no dia.

- Que bom que apareceu. O seu pai fez um anúncio no rádio dizendo que precisava de um ajudante na cozinha. Eu vim tentar entrar no cargo.

Eu estava pasmo. Lucas estava tão lindo. Ele foi minha primeira paixonite da escola. O motivo de eu ter finalmente compreendido minha orientação sexual.

- Está aí? - ele acenou em frente ao meu rosto.

Assenti com a cabeça sorrindo sem jeito. Caralho. Ele estava perfeito. Mesmo tendo quase 15 centímetro à mais do que eu, seu coração era de uma criança, e eu iria amar vê-lo trabalhando ali.

Papo ia e vinha. Eu só olhava para os músculos... Quer dizer, os olhos de Lucas. Ele e meu pai estavam conversando em uma mesa longe da que eu almoçava. Já fazia uns quarenta minutos desde que a conversa deles teria começado.

- Contratado. - Lucas se sentou na cadeira em minha frente contente após eles terminarem a conversa.

- Que bom. - sorri sem os dentes porque minha boca estava cheia de cachorro quente.

- Eu começo amanhã, e para começar com o pé direito eu iria adorar puxar o saco do filho do patrão e preparar um café da manhã especial para ele.

Meu rosto ferveu de vergonha enquanto eu lambia meu indicador cheio de ketchup. Eu parecia uma cadela no cio. Fazia menos de duas horas que Yoongi havia me expulsado da casa dele e eu já estava envergonhado com elogios de outro. Quer dizer, do Lucas.

- Se faz questão de saber... Eu adoro panquecas.

- Bingo! É minha especialidade. - ele sorriu após bater na mesa.

Conversar com um amigo antigo era bom demais. Principalmente com um que eu já havia me apaixonado. Eu provavelmente estava com uma cara de bobo naquele momento conversando com Lucas. Não dava a mínima, talvez isso só mostrava que o Yoon não era o único homem do mundo que eu podia namorar. Talvez, só talvez eu poderia ter reencontrado minha alma-gêmea.

- E o meu paletó, Jimin? - Taehyung parou ao lado da mesa com um cigarro entre os lábios.

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