PRÓLOGO

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20 de Abril, 2020

Naquele momento tudo o que queria era um porto de abrigo, já que tudo dentro do meu peito era tempestade. Deixei para trás o calor aconchegante da casa de banho iluminada e entrei no quarto. O tempo espelhava na perfeição o meu estado de espírito, - já estava escuro lá fora, a chuva embatia vigorosamente contra o parapeito da varanda e o vento ecoava por entre as árvores, prenunciando o frio que se fazia sentir. Deitei-me na cama, fechei os olhos e fiquei em silêncio, ciente de que o cansaço do choro me iria acabar por me vencer e fazer-me adormecer de exaustão. Mas, mesmo a dormir, a minha mente, demasiado veloz e astuta, atraiçoou-me, fazendo-me reviver a mesma cena, já repetida ao expoente do sofrimento, pela enésima vez.

Caminho lentamente, com uma passada mais pesada do que gostaria, mas que espelha na perfeição o peso que me assola o peito, cada vez que a vejo precipitar-se para os teus braços ou a enlaçar os dedos nos teus. Passamos parte da tarde todos juntos, a falar de tudo e de nada e, por mais feliz que fique ao ver-te feliz, não consigo deixar de sentir que o meu vestido amarelo de cetim combina bem demais com o sorriso amarelo que solto sempre que te olho de relance. É um sentimento demasiado agridoce, sabes? Ver-te e não poder tocar-te. Conhecer-te tão bem e, ainda assim, ter de me comportar como uma estranha perante toda gente. Mais uma vez, ela precipita-se sobre ti, beijando os teus lábios e é nesse momento que colapso, - é sempre nesse momento que colapso. 

Com amor, MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora