Capítulo único

4.2K 579 423
                                    

A chuva pegou-os de surpresa e forçou-os a se esconderem em um local pequeno, porém cômodo.

— Parece que não deu tempo de voltarmos para casa, não é Killua? — Gon, seu precioso Gon, soltou uma risadinha nervosa enquanto mostrava parte de sua língua.

Se não houvesse uma palavra específica nessa fala, provavelmente Killua se sentiria melhor. Gon falou: "Voltarmos para casa" e não "Voltarmos para minha casa". Ele estava incluindo Killua. E por que não? Eram melhores amigos, definitivamente tinham o direito de tratar a morada do outro como se fosse sua!

... não é?

Se era normal, então por que seguia sentindo esse vazio? Por que sentia que havia algo... errado?

Suas vestes estavam empapadas, acompanhado dos seus cabelos e sapatos. Ainda sim, com esses importunos, Killua abraçou Gon e escondeu-se em seu corpo, buscando não pelo calor físico, mas sim a quentura emocional. Tudo estava sendo maravilhoso demais para acreditar. Ele, cria de assassinos, uma mancha podre em meio a humanidade, merecia passar por esses momentos tão gentis e ternos? Desde que chegara a ilha baleia, enxergava a si mesmo como um rabisco em meio a pureza do mundo.

Indigno. Killua se sentia indigno de compartilhar memórias boas com alguém tão bom. Mas é claro, Gon estava com pena de si. Era tão desprezível ao ponto de causar pena em Gon! Por isso ele o permitiu vir para sua casa, para sua zona de conforto, ainda sabendo da ameaça aterrorizante que era! Haha, tudo fazia sentido!

Era bem melhor pensar nisso do que realmente acreditar que era digno de estar nessa terra iluminada de energias boas. Muito mais fácil.

— Killua? — chamou-o, mas não parou de fazer cafuné na cabeleira branca. Em resposta, o nomeado o apertou mais. — Você parou para notar que parecemos duas raposas aninhadas? — riu, divertido.

— Desculpa? — questionou ao se afastar.

— É sério! Estamos em uma toca, em plena chuva forte e juntinhos! — disse, com mais intensidade e com seus olhos brilhando.

— Você sempre fala besteiras.

— Mas essas besteiras sempre te alegram.

Os olhos azuis do Zoldyck tornaram-se selvagens.

— Eu notei que você estava... distante. Eu posso não saber o que você está pensando, porém sinto que não é algo positivo. — começou a explicar, passando a ponta do dedo indicador na terra úmida. — Você é suficiente, Killua! Eu já disse antes, mas eu não me importo de você ser um assassino, porque somos amigos!

O semblante de Killua suavizou-se. Todo o embaralhado de pensamentos auto-destrutivos desapareceram. Gon Freecss era, sem sombra de dúvidas, um garoto idiota e extraordinário. Ele era a pessoa que tanto necessitava para domar o seu instável coração. Imprevisível, bondoso, energético e atencioso... desde quando se mostrou merecedor de tê-lo ao seu lado? Inacreditável! Talvez, esse fosse um sinal de uma segunda oportunidade para concertar sua essência.

E se esforçaria para realizar suas mudanças internas. Desde que tivesse Gon, sentia-se capaz de fazer tudo.

— Hey Gon, você notou que essa toca ficou menor? — indagou, aproximando-se sorrateiramente.

— Sério? — exaltado, começou a passar a mão na madeira, para ver se o que seu amigo estava dizendo era verdade. — Killu, eu não acho qu-

Os lábios de Killua eram frios, enquanto os de Gon, mornos. Foi rápido, mas resultou em um beijo de estralo.

— Acho que com isso, nos faz um casal de raposas escondidos em uma toca, não é? — comentou, com um sorriso largo e olhar afiado.

Tudo que Gon pode fazer, foi assentir em confusão e vergonha.

É, Killua era digno.

• Toca • | Killugon |Onde histórias criam vida. Descubra agora