3. Sob as estrelas

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Correndo mais do que suas pernas aguentavam, Chapeuzinho cortou por entre as árvores com a capa do capuz vermelho ondulando ao vento. Segurando firme o tecido do vestido e tentando controlar a respiração, embora um ou outro soluço lhe sufocasse a garganta querendo escapar, acelerou o passo do jeito que podia, rezando para que desse tempo.

Era tudo o que precisava: chegar a tempo.

Os olhos inchados continuaram a lacrimejar e somente o que ela queria é que tudo não passasse de um pesadelo. Tinha que ser um pesadelo. Quando escutara que o grande lobo negro tinha sido finalmente pego e toda a aldeia se reuniu no centro da praça para matá-lo, Chapeuzinho sentiu o seu mundo desabar.

A promessa que fizera ao seu amado havia falhado e tudo porque não conseguira visitá-lo ao longo daquelas tortuosas semanas, e, assim sendo, não foi capaz de protegê-lo. Fora tão difícil não poder encontrá-lo e sequer avisar o motivo do seu sumiço. Não sabia exatamente como, mas, nos dias de sua distância, conseguiu sentir a tristeza e a dor que se alastrava no coração do lupino.

Ela podia senti-lo...

Ofegante, a garota de capa vermelha se apoiou nos joelhos par recuperar o fôlego, mas voltou a perdê-lo ao vislumbrar a cena que transcorria morro abaixo. Preso por grossas correntes, rodeado por tochas e os pêlos escuros do focinho banhados em sangue, o qual escorria por entre os dentes pontiagudos, o seu amado esperava pelo fim. Aquela imagem fez seu peito arder em desespero.

Visivelmente abatido, o grande lobo não carregava sua antiga imponência e beleza. Os olhos vagos e tristonhos eram a prova de que havia desistido de lutar. Deixou-se abater; apesar de todo o barulho, Chapeuzinho pôde ouvir o chiado choroso de seu amor. Um chiado profundamente angustiado.

A garota sentiu o estômago embrulhar pelo o que presenciava ao longe e não foi capaz de segurar a ânsia que se apossou de si. Debruçou sobre a árvore mais próxima e permitiu que a angustia viesse à tona. Por minutos, deixou que seu estômago sensível empurrasse tudo para fora, até que um grito forte lhe fez tirar forças para se reerguer.

"Vamos matar esse monstro!", alguém gritou. Era o seu pai, o caçador. O desespero lhe tomou conta. Ele não podia matá-lo. Era o seu amor, o seu segredo mais bonito.

Enchendo-se de coragem, Chapeuzinho desceu o morro de maneira desajeitada, desejando apenas salvar aquele que detinha o seu coração. Aos tropeços, deslizando na terra molhada, ultrapassou a entrada do vilarejo e meteu-se em meio à multidão. Sem dar importância para os resmungos e olhares cheios de censura, esbarrou e empurrou quem fosse para se aproximar do lobo e então o seu grito sobressaiu aos clamores de justiça, no instante em que interrompeu o golpe de misericórdia.

Seus olhos castanhos inundaram-se ao focar no lobo negro, que vagarosamente ergueu a cabeça para também fitá-la. A poça de sangue ao redor das patas peludas fez seu coração pulsar dolorosamente. Ele estava cansado, entregue, lhe observando de maneira suplicante com seus lindos olhos amarelados e ainda assim incrédulos, como se não acreditasse que ela estava mesmo ali.

A garota podia ver refletido todo o medo e mágoa que seu amado sentia. Por mais que tenha lutado para manter aquela sensação longe de si, ela soube no exato momento em que colocara seus olhos sobre ele, que estava sendo abandonada porque o lobo sentiu que fora abandonado.

Sem notícias durante intermináveis semanas, Jungkook acreditou que a sua adorada garota da capa vermelha, cabelos castanho e cheiro de rosas havia lhe deixado. Tanto que os uivos lamentosos ecoaram na floresta por dias. Sua Lua havia partido sem avisar, levando consigo o seu coração lupino, assim com a sua vontade de viver. O lobo não conseguia mais seguir sem ela e por isso se deixou abater.

Venerando a Lua (Shorfic Jungkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora