Proibido Fumar

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     A claridade da sala branca faz meus olhos arderem. Já perdi a noção do tempo, não sei que horas são e que dia é hoje. Estou preso há quantos dias? Olhando para o jardim, pela minúscula janela. Meu desejo incessante é de fugir dessa loucura.

    Diogo, meu melhor amigo, me recomendou esse "centro de reabilitação", disse que um amigo de um conhecido seu te contou sobre esse lugar "maravilhoso". Que o pobre infeliz era um dependente químico, seus pais o internaram nesse buraco e em menos de uma semana ele estava curado, como mágica! Ele nem podia sentir cheiro de um simples cigarrinho de maconha, que botava tudo pra fora. Mesmo cético sobre esse "método" me arrisquei e me internetei voluntariamente. A pior merda que fiz.

    Passos pesados e apressados ecoam pelo corredor, saio da janela rapidamente e me encolho no canto. Não! De novo não, meu Deus! Eu te imploro. A grande porta de ferro abre bruscamente, dois homens de branco, vestidos como enfermeiros me olham com ódio. Um ódio de origem desconhecida, mas é inegável que eles sentem um puta prazer em fazer aquelas maldades comigo. Consigo ver seus paus duros toda vez que me causam dor.

    O primeiro homem, como costumam o chamar por aqui, soldado número um, vem em minha direção em passos rápidos, puxa meus cabelos com tanta força que sinto uma dor aguda no topo da cabeça. Ele me força a levantar e andar cambaleante para fora da sala. Isso dói pra cacete. De relance olho para soldado número dois que direciona um sorriso sádico para mim. Seu maldito colega me arremessa para o corredor, caio de quatro no áspero e gelado chão. O número um chuta meu estômago, me retraio gemendo dolorido.

   Malditos, desgraçados.

       — Levanta porra! — O cuzão do número dois berra. Olho de canto para aquele fodido o vendo se divertir com minha desgraça.

     Sem nem me esperar tentar me mover, ele repete a violência do seu amigo e me puxa pelos cabelos voltando a me arrastar pelo corredor. Das outras salas, meus colegas de tortura me observam com pena e temor por serem os próximos. Alguns amigos mais íntimos gritam meu nome de alguma forma — inútil — tentar me ajudar.

    Minha cabeça queima de dor, meu couro está formigando e posso sentir alguns fios de cabelo serem arrebentados.

    Meu corpo treme de antecipação ao visualizar a entrada da sala vermelha. Quando meu amigo Diogo me indicou esse lugar, ele disse que os métodos nos tratamentos eram "ortodoxos", eu jamais sonharia, nem nos meus piores pesadelos que tortura e humilhação faziam partes deles. Quando finalmente entramos, meus algozes me jogam no chão como um saco de lixo. Talvez eu seja só isso para eles, um mero saco de bosta, inútil que só existo pra satisfazer seus desejos sádicos e perversos.

    A porta vermelha, com uma elegante maçaneta dourada se abre revelando o interior, contém apenas uma cadeira e uma mesa lotada dos seus "brinquedos".

   O número um me ergue e me lança para dentro daquele aposento do terror. Levo minhas mãos trêmulas até meus olhos para limpar as lágrimas de angústia que insiste em escorrer descontroladamente. Me encolho no chão em posição fetal, pedindo a deus, qualquer coisa que exista lá em cima que me livre desse tormento. Por favor, eu suplico!

        — Vai querer ficar no chão mesmo? — O número um me contesta dando chutes leves em minha coxa — Você quem sabe, querido.

     O barulho dos instrumentos sendo mexidos toma minha atenção, olho em suas direções e noto uma placa pequena, preta e vermelha com a ilustração de um cigarro escrito "proibido fumar". Solto um riso pela ironia na frase.

Proibido Fumar (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora