Casa Verde

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   Jamais me atreverei a narrar toda a história que essas paredes já presenciaram, mas para fim desta, falarei brevemente de alguns que antecederam o atual hóspede.

   Um, demorou a entrar. Muitos acharam que jamais conseguiria. Tentou por mais de uma década deitar na mais luxuosa das camas da casa. Por fim, quando conseguiu, disfarçou-se de bom moço e conseguiu renovar seu contrato, assim estendeu sua permanência sem que ninguém reclamasse muito.

   Em seguida tivemos o que provavelmente foi o primeiro incontestavelmente orate que vivera na casa. Não me entenda mal, tiveram outros, várias décadas antes, mas, se revelaram de maneira mais sutil. Este, negava seus surtos, e suas desculpas, mais o entregavam que o escondiam. Um dia teve sua paz interrompida e o forçaram a sair.

   O que veio em seguida foi um amigo do último, que não exatamente queria entrar ali. Na verdade, sempre quis, mas o modo como se apropriou da vaga fez com que uns o chamassem de oportunista. Este, ficou menos. Saiu porque teve de ir, e sua rápida passagem por ali o satisfez, de modo que não ousou tentar voltar a vizinhança.

   O orate, bagunçou muito as coisas, e o que o sucedeu, a ocupou sem se preocupar em organiza-las. Tudo estava uma bagunça.

   Poucos dos que se interessavam em entrar ali tinham alguma referência, de modo que a chance de entrada da maioria deles foi impensável.

   Por fim sobraram apenas dois. Um o qual não se conhecia direito, mas muitos já tinham ouvido falar. O outro, era indicação de um antigo hóspede, o primeiro citado aqui. Como todos os hóspedes que o sucederam foram indicação do mesmo, inclusive o que instaurou a desordem, foi preferido o outro.

   A casa era um grande ímã de orates, só não se tinha total compreensão disso. Os dias foram passando e aos poucos as coisas foram se revelando. Primeiro, os que viviam mais distantes dali viram sinais de seus surtos. Os vizinhos de muro foram ludibriados com suas falácias convictas. Em determinado momento, até os que acreditavam na lucidez do lunático foram enxergando que ele não era diferente dos que o antecederam. A única diferença era a perna manca. Coincidentemente todos estes eram mancos. Todos até este, pendiam para a esquerda. Este, para a direita.

   Ora, você achava que a única casa de orates que sobrou no mundo era a de cor branca? Assis nos alertou de nossa casa verde! Seu equivoco foi apenas o endereço. Pobre Itaguaí.

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