- Vamos Daniel, só fintar e chutar a bola. - encorajava o meu pai aplaudindo à medida que defendia a sua baliza - Se quer ser um jogador de futebol, agarre nesses pés e atire na baliza filho!
Eu ria-me sentada no alpendre da cozinha. Daniel era o filho do meio. Um pouco arrogante, sabichão mas com uma mania arrasadora de que um dia iria ser uma estrela do fútebol, mas qual era a criança de oito anos que não sonhava com isso?
- Daniel, Sandy tem seis anos e consegue fintar a avó! - gozava com ele
Escusado era dizer que ele não prestava nada no futebol...
- Vá se ferrar Mia!
- Mia, você tem muita garganta! - desafiava meu pai - Mas você não está aqui a jogar conosco...logo não pode criticar o moleque do seu irmão.
Falhou mais uma vez.
- Ande logo! Pápá sabe jogar bem, você tem medo! - brincava Sandy quando marcou um golo. O meu pai atirou-se para o lado oposto da baliza, fazendo uma cara de admiração por Sandy ter "feito" um golo. Só ele para a pôr a rir com aquelas gargalhadas fortes.
Eu fiz uma careta para os três, enquanto passava as músicas do meu mp3.Que mais uma rapariga de 14 anos podia querer? Eu gostava daqueles domingos calmos, naturais e familiares. Os meus irmãos deliciavam-se com as brincadeiras do meu pai, nós sentíamos tantas saudades dele! Vê-lo apenas nos fins-de-semanas não ajuda muito, mas o seu trabalho retirava muito do seu tempo. Nós entendíamos que era complicado, mas matava-me a ideia de não saber o que ele fazia. Quando lhe perguntava algo sobre o seu trabalho apenas dava-me uma resposta : " O que eu faço é para um bem maior." e terminava ali a conversa.
Fui supreendida por um forte batimento que soou na madeira da porta de entrada. Minha mãe desceu as escadas com um compasso normal, compondo o seu avental florido.
- Senhora Taylor Sunder?- minha mãe acentiu- FBI. Precisamos de falar com o senhor Thomas Sunder. - os dois agentes mostraram a identificação
- FBI? O que está acontecendo? - perguntava a minha mãe agitada
- O senhor Thomas Sunder encontra-se em casa?
- Ele está no jardim a brincar com os miúdos.
- Mãe? O que está havendo? - gritava com ela
Ela simplesmente ignorou-me, passando por mim a correr até ao quintal. Eu seguia-a, continuando com as mesmas perguntas sem resposta.
- Tom! - Taylor corria para o meu pai - Estão dois agentes do FBI, à nossa porta!
O meu pai olhou para a minha mãe com um olhar petrificado. A verdura do nosso jardim, naquele momento deu lugar a uma tonalidade cinzenta. Se a plantas pudessem murchar por sentimentos vividos ,então naquele jardim toda a natureza virava carvão.
Ambos caminharam velozmente para a porta.
- Toma conta dos teus irmãos! - mandava o meu pai
- O que fizeste Tom?! - Taylor agarrava-o, fazendo-o olhar para ela - Diz-me o que se passa!
- Tay, vai se tudo resolver.
- Thomas Sunder? - questionou um dos agentes de fato preto mais alto
- O próprio.
- Venha conosco, o senhor e a sua família correm perigo.
- Pai, o que está a acontecer? - eu olhava-os com cara de aflição
-Perigo?! Tom o que fizeste?
A minha garganta começava a ficar seca.
- Tay, confia em mim. - sobrepunha as suas mãos nas dela - Vai fazer as malas, leva as crianças e nunca as deixes sozinhas por um segundo, estás a ouvir?
- Mãe! Pápá! - berravam os meus irmãos assustados
Eu fui ao encontro deles tentando entender o motivo de tanta agitação.
- Hey pequenos, perderam a bola? - sorri piscando-lhes o olho
- Mana, está um homem no nosso quintal!
O meu coração acelarou
- Senhor temos de ir.
- Eles descobriram-nos... - murmurava o meu pai pegando nas nossas mãos indo para os carros dos agentesOs meus olhos abriam-se lentamente, à medida que sombras erguiam-se na minha visão. O vento tomava os cortinados no ar, levando-os a uma dança louca enquanto as tábuas de madeira estalavam com passos vazios.
Levantava-me da cama , mas as minhas forças falhavam. Memórias vinham como reflexos dos meus piores pesadelos: a morte da minha tia, a contagem para o meu fim, o barulho do tiro, a escuridão em que me afoguei...tudo isto se arrastava na minha mente. Os meus pés arrastavam-se pesadamente para a única saída. Eles pareciam acorrentados com duros ferros. A minha cabeça girava a mil, ainda conseguia sentir o sabor a sangue na garganta. Apoiei-me no corrimão para descer as vastas escadas. Um avanço para frente, um pé a deslizar, o suor a escorrer. Mais um puxão forte, mais uma dor que se elevava no meu corpo. Os meus sentidos começavam a acordar, a tomar vida. Conseguia sentir um cheiro a eucalipto, a flores de jasmim. Os pássaros cantavam nas caleiras provocando eco por toda a habitação.
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Amor sem limites
RomantikApanhada no meio de uma emboscada, Mia Sunder possui algo que a Máfia quer. Fugindo constantemente com a sua família, o medo tomou lugar na vida dela não conseguindo confiar em ninguém. Mia e Caleb Vanagh são reunidos lado a lado pelo destino. De...